ENTREVISTA

Para o presidente da Associação Brasileira de Carbono Sustentável, são vários os caminhos para a Usina de Candiota seguir operando

Luiz Fernando Zancan comentou a retirada do projeto Foto: Divulgação TP

Em entrevista esta semana concedida ao TP, Luiz Fernando Zancan comenta a retirada do projeto de lei por parte do senador Paulo Paim, porém avalia que outras medidas em tramitação no Congresso Nacional irão viabilizar a extensão da vida útil do empreendimento, bem como, analisa que é preciso medidas que garantam recursos para uma transição energética nas regiões carboníferas.

Zancan assinala que as térmicas, entre elas a Usina Pampa Sul, estão operando no máximo e garantem neste momento a segurança energética do RS. A Usina de Candiota (Âmbar) passa por uma parada de rotina, senão também estaria despachando a pleno.

TP – A retirada do projeto de lei que tramitava no Senado (PLS 4653/2023), de autoria do senador Paulo Paim (PT) e subscrito pelos outros dois senadores gaúchos – Hamilton Mourão (Republicanos) e Luis Carlos Heinze (Progressistas), que tratava da inclusão do Rio Grande do Sul e do Paraná no Programa de Transição Energética Justa (TEJ), era o único caminho para manter a Usina de Candiota em funcionamento?
Zancan – Nós temos vários caminhos para a questão da contratação da usina. Existem caminhos que estão no Legislativo Federal acontecendo hoje. Temos a MP (Medida Provisória) 1212, que tem duas emendas para manter a contratação das térmicas. Então isso está andando. Se tem o projeto de lei (PL) 576, que trata das usinas eólicas offshores, mas que também no artigo 23 trata das térmicas. Então o fato de retirar a lei, não afeta o que estamos trabalhando para conseguir construir a recontratação desta usina, e do Paraná também. Estamos com 300 pessoas hoje desempregadas com a paralisação da Usina de Figueira no Paraná (a carvão). Se observar a MP 1212, tem emenda da deputada federal paranaense Gleisi Hoffmann (presidente nacional do PT), e tem emenda do senador catarinense Esperidião Amin (Progressistas), que são praticamente a mesma coisa no conteúdo. Não tem diferença de direita ou esquerda, todos estão pensando a mesma em prol de resolver essa recontratação dessas usinas.

TP – Sobre as duas emendas apresentadas serem semelhantes, não atrapalha?
Zancan – Pelo contrário, mostra que está todo mundo ligado na mesma coisa. A leitura é clara, os dois estão colocando emendas do mesmo teor. Houve só uma modificação da Gleisi que reduziu para 2043 ao invés de 2050, mas é uma forma de escrever. Não atrapalha em nada, só reforça, porque se tem parlamentares suprapartidários em prol do mesmo objetivo. Inclusive, a ideia do projeto do Paulo Paim, era que fosse feito um substitutivo para trazer recursos e alavancar a transição energética no Sul. Estávamos fazendo um substitutivo, em conjunto com o relator do projeto, senador Amim, visando trazer recursos para investir nas áreas de pesquisa, desenvolvimento, sistema de inovação, tudo isso. E agora como caiu o projeto, vamos ter que achar outro caminho para fazer e nós vamos fazer.

TP – Ao contrário de algumas teses, as térmicas ganharam protagonismo após a tragédia climática no RS. Como se explica isso?
Zancan – Desde o início de maio, ou seja, há quase um mês, que todas as térmicas estão despachando a pleno. Então, quem está ajudando o Rio Grande do Sul a não ter apagão neste momento, são as térmicas. Inclusive, tem importação de energia via Uruguai aí por Candiota. Mas enfim, estamos contribuindo para que haja a segurança energética no RS. Todo o sistema de transmissão e distribuição está muito frágil, quando se teve mais de 30 linhas de transmissão com problemas e tem coisas que vão levar dois meses no mínimo para o pessoal recuperar de vez o que precisa. Vai ter um período complicado de sistema frágil, e felizmente nenhuma barragem hidráulica deu problema, mas mesmo assim alguma coisa precisou ser desligada e as térmicas foram o que seguraram o sistema, e estão segurando. Foi até religada a Usina de Canoas, a óleo diesel, com um custo seis vezes mais do que a Usina Pampa Sul. Aliás, a Pampa, está operando em seu máximo a pedido do Operador Nacional do Sistema. Isso demonstra a necessidade de um parque térmico no Sul, na ponta da linha. Então isso dá todo o argumento para manter essas térmicas funcionando.

TP – É possível ligar a tragédia gaúcha com o carvão mineral?
Zancan – Não se pode fazer uma ligação direta em referência aos fósseis e muito menos ao carvão brasileiro e gaúcho. Na realidade, dois terços das emissões que estão hoje na atmosfera, foram colocados pelos países ricos. Então é nada os R$ 100 milhões que os americanos mandaram para o Rio Grande do Sul. Precisamos de recursos estruturados, com plano de adaptação e de mudança climática que tem que ser feito em todos os municípios, tem que ter um plano de adaptação em cada município. Não tem essa de querer culpar os fósseis, e se quiser culpar, vai precisar culpar quem colocou o CO2 na atmosfera nos últimos 100 anos e não um país pobre como nós, que não temos nada com isso diretamente. Nós precisamos mover a nossa economia, por isso a importância da segurança elétrica e energética pelo carvão. Esse é o ponto! E segundo, nós temos que pensar como vamos continuar trabalhando em longo prazo para viabilizar as tecnologias de baixo carbono, tipo a captura de CO2. A vida anda, mas não é parando a economia que vai recuperar o Estado.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO

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