Formar cidadãos de bem, trabalhar a ética e a responsabilidade têm sido os primórdios do projeto Pelotão Mirim em Pinheiro Machado. Com início em 2016 através da Brigada Militar, atualmente o projeto continua na cidade como ação social da Paróquia Nossa Senhora da Luz, tendo a frente como coordenador o padre Junior.
Totalmente gratuito para os alunos, o projeto se desenvolve por meio do auxilio de profissionais voluntários, que doam tempo e trabalho para que o Pelotão Mirim não seja encerrado na cidade. O tenente André Madruga, um dos idealizadores do projeto no município, lembra que a atividade começou a ser pensada para ser implantada na cidade ainda em 2015 e que a doação profissional da psicóloga Manuela Goulart, foi um somatório de forças. “Junto com o tenente Prestes e o sargento Pedro Brum, começamos a pensar o projeto planejando, fazendo visitas a cidades que desenvolviam as atividades e adquirindo material. Porém, esbarrávamos no problema dos instrutores, pois não possuíamos recursos para contratações. Foi quando no início de 2016 a psicóloga Manuela Goulart nos procurou para fazer um voluntariado junto ao Pelotão da Brigada Militar. Essa foi a célula inicial, e a partir daí foram se somando forças de voluntariados. Alguns instrutores estão juntos conosco desde o inicio das atividades”, lembrou o tenente que também atua desde então de forma voluntária no projeto, mesmo atualmente não pertencendo mais a BM.
Ele lembra, que entre saídas do projeto por necessidades e acréscimos, são também instrutores atualmente padre Junior (coordenador), sargento Pedro Brum, sargento Soares, professora Vera Reni, professora Dora Alvarez, professora Tamires Vasconcelos, psicóloga Fátima Cunha, nutricionista Fabiane Mena e técnica em Enfermagem Patrícia Santiago. Já integraram a lista de instrutores a enfermeira Melissa Recalde, o sargento Luiz Seixas, professor Rui, profissionais de Educação Física Junior da academia Saúde Vital e Lucas, professor Rogério Moura e a psicóloga Manoela Goulart.
Visando mostrar a importância da atuação do voluntário em projetos sociais e, atualmente, como se tem visto, sendo fundamental em situações atípicas como a vivida no Rio Grande do Sul em razão das enchentes, o Tribuna do Pampa conversou com alguns profissionais para contar suas histórias com o Pelotão Mirim. Confira:
MANUELA GOULART
Formada em Psicologia pela Universidade Regional do Pampa (Urcamp) e pós graduada em Neuropsicopedagia pela Unninter, ela atuou no projeto de 2016 a 2022, quando precisou se desligar após assumir o cargo em um concurso público na cidade de Piratini. “Eu lembro que em uma das primeiras falas que fiz sobre o Pelotão Mirim, falei que era um projeto do qual eu acreditava e ainda mantenho a mesma opinião. Na ocasião eu atuava com uma disciplina que nomeamos de psicocidadania, trabalhando temas como família, valores morais, profissão/carreira, relações sociais, ou algum outro que se mostrava pertinente para a turma. Posso dizer com toda segurança e certeza que até hoje colho frutos do projeto, que além de me ajudar com o começo da minha atuação profissional, me proporcionou conhecer muitas famílias e crianças, ter visão da postura militar que sempre admirei, civismo e história da instituição, bem como ter me ajudado em um momento muito particular do qual vivi. O meu sentimento maior é o de gratidão por ter feito parte dessa história, mas também, de carinho por todos que se mantém atuando e dos que passam a fazer parte, e assim fazem o trabalho seguir. Desejo imensamente que sempre possa estar funcionando, que cada dia que passe mais pessoas possam conhecer e seguir acreditando que investir nas crianças, nos jovens é a melhor contribuição pra que nossa cidade e sociedade tenha indivíduos de bem, capazes para a vida adulta e seus desafios e, não menos importante, responsáveis por sua trajetória e com o outro”.
PATRÍCIA SANTIAGO
A técnica de Enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), participa do projeto há sete anos, primeiro como familiar de aluno e há três como instrutora. “Um dia nos convidaram para falar sobre primeiros socorros, mostrar a ambulância e explicar como funcionava o Samu 192. E com a saída de uma colega, fui convidada a participar do projeto que sou muito fã. Minha disciplina é Conceito de Saúde e Noções de Primeiros Socorros, com aulas teóricas e práticas. Acho muito importante que eles tenham noção do que fazer caso algo aconteça e saibam o que fazer. Penso que se eles souberem 1% do que é ensinado já é de grande valia”.
FABIANE GOULART MENA DIAS
Nutricionista formada há 20 anos pela Unifra, de Santa Maria, com especialização em nutrição clínica pela Unisc, de Santa Cruz do Sul e comportamento alimentar pelo IPGS, Porto Alegre, ela atua há 19 anos como responsável técnica pela alimentação escolar no município de Pinheiro Machado e também na área clínica há 10 anos, tendo em 2024 inaugurado consultório próprio. Há sete anos integra o projeto como voluntária. “Tento passar pra eles a importância de uma alimentação saudável e a prevenção de doenças para a saúde e bem estar, não só agora, mas para a vida adulta e também de seus familiares. Trabalhamos sempre em todas as aulas, a disciplina, a moral e a ética. Também o amor e o respeito ao próximo, aos familiares, aos professores. Formamos uma grande família, a família Pelotão Mirim e é muito gratificante ver a sementinha que plantamos dia a dia se multiplicar e dar bons frutos. Temos alunos que hoje já estão no mercado de trabalho e é muito bom receber um abraço, um oi professora. Ser voluntária é muito bom, posso dizer que aprendo a cada aula com eles”.
PEDRO CESAR BRUM
O 3° sargento da Reserva Remunerada, formado em Administração, está desde o início do projeto. “Sou responsável pela parte administrativa e ministro aula de Noções de Trânsito para crianças e adolescentes referente ao comportamento deles no deslocamento para a escola e nos momentos de lazer. Como voluntário, é gratificante fazer algo pelo futuro dessas crianças que frequentam o projeto, em saber que podemos fazer a diferença na vida deles”.
VERA RENI
A professora com especialização em Leitura e produção de textos, e para a Educação Profissional e Tecnológica, no momento cursa uma Especialização em Neuropsicopedagogia. Faz parte do projeto há oito anos, o qual considera espetacular. “Quem está de fora não tem noção do quanto tudo é transformador, pois ao longo do tempo percebemos que vivenciar e acompanhar cada etapa ou passo junto da vida de outro ser é algo muito diferenciado. Realizamos diferentes atividades que complementam as escolares, e ao longo de cada proposta, cada trabalho e seus resultados, cada um vai descobrindo o quanto precisa ser esforçado e responsável com a vida pessoal e escolar. Percebo que a melhoria interna e externa é muito significativa para muitos em todos os sentidos, bem como dentre as situações que vivenciam, pois na escola eles não têm atendimento individualizado, a não ser que se peça suporte. A família também nem sempre entende as necessidades de cada um, ou tão pouco trabalha com limites ao longo da criação. Pra mim o projeto me inspira, pois somente entende o tudo e o todo quando se sente com o coração. Desenvolver trabalhos e lançar desafios é algo inexplicável, muitas vezes o olhar da alma grita por socorro, e digo de modo bem claro e objetivo que não há dinheiro no mundo que pague tudo aquilo que fazemos com o coração. Amo o que me dispus a fazer, abro mão de qualquer outro compromisso em prol do Pelotão”.
ANTÔNIO CARLOS SOARES
O 2° sargento da reserva remunerada da Brigada Militar assumiu a disciplina de Ordem Unida em substituição ao sargento Seixas. “Baseada nos moldes militar, a Ordem Unida tem como conceito nossos pilares de hierarquia e disciplina. Busco mostrar o espírito de corpo, camaradagem e respeito, para com seus pares e superiores. Trabalhamos a convivência entre os alunos, fazendo suas atividades sempre em conjunto. É importante salientar que não queremos formar militares, mas sim os preparar para o futuro que lhes espera fazendo que esses alunos, como parte da sociedade, aprendam a empatia, o respeito e a tolerância. Os alunos que por aqui passam, já nos primeiros meses já apresentam grande resultado, sendo em casa, na escola ou na rua, isso nos dignifica, como instrutores, receber um agradecimento por uma boa ação ou até mesmo sua mudança com seus pais, colegas e amigos. Espero sim, ajudar por muito tempo a transformar nossos jovens e pelo menos, quebrar o paradigma que não há solução para um direcionamento de um futuro melhor e eles são o futuro. Nisso eu aposto e posso lhes ajudar”.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*