ESTIAGEM

Perdas já afetam produção da soja em mais de 40% em Hulha Negra e 55% em Candiota

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As poucas chuvas que atingem o Estado desde janeiro cau­sam grandes perdas para o setor rural. Os municípios da região já decretaram, nos meses de feverei­ro e março, situação de emergência, com a finalidade de conseguir aporte junto aos governos estadual e federal para moradores da sede dos municí­pios que sofrem com a falta de água e já vivenciam racionamentos, mas principalmente, para o interior.

As lavouras e plantações das mais diversas culturas são as que mais sentem com a estiagem. Planta com baixa produção e seca, animais com menor produção de leite e baixo peso, estão causando muitos prejuízos e gerando preocu­pação aos produtores. Na região de cobertura impressa do Tribuna do Pampa, os municípios de Candiota, Hulha Negra, Pedras Altas e Pinheiro Machado tiveram os decretos homo­logados, o que poderá trazer auxílios futuros para o setor rural.

Crescimento da planta também foi prejudicado pela falta de chuvas Foto: Divulgação TP

O TP conversou com os técnicos da Emater/Ascar de Hulha Negra e Candiota para verificar a situação atual das culturas em razão da estiagem. Cabe ressaltar que a região está em plena safra de soja, uma das maiores áreas plantadas e que ocasiona grandes perdas pela falta de chuvas.

Em Hulha Negra, conforme dados repassados pela Emater,a situ­ação se agravou em todas as culturas desde o decreto. Atualmente, as perdas estimadas chegam a 40% na soja, 40% no milho, 50% no milho para silagem, 25% no sorgo, 40% na bovinocultura de leite, 25% na bovinocultura de corte e 25% no mel.

Conforme o chefe do escri­tório da Emater de Hulha Negra, Guilherme Zorzi, as perdas estão mais graves do que já era estimado. “A maior área plantada é de soja, que também movimenta maior valor. Temos plantas com boa quantidade de vagem, mas quando vai colocar a máquina para colher, sai em torno de 15 sacas, até 10 sacas por hectare. “Temos poucas lavouras acima de 20 sacas. Ainda que se venda em torno de R$ 93 a saca, não vai cobrir o custo de produção, as parcelas de financiamentos dos produtores, custos de arrendamentos para aque­les que precisam pagar e tão pouco vai gerar renda para a família se sustentar durante um ano para quem trabalha somente com a lavoura”, relata Zorzi.

O técnico também mostra preocupação com o futuro dos produtores. “Temos receio de como vai ser nos próximos meses para o produtor. Vão perder o crédito nos agentes financeiros? Vão ter que pegar insumos em cooperativas, outras empresas pagando alto juro ou não vão conseguir plantar? É um momento delicado que pode gerar grandes mudanças na estrutura da região e eliminar muitas famílias das lavouras. Vai superar quem tem alguma reserva boa, cobertura de seguro, área de várzea. Mas temos fé de que os produtores vão receber algum auxílio do governo federal”, estima o técnico, lembrando que os 50mm registrados no município na primeira semana de abril foi de grande auxílio aos produtores.

Representando a classe, falou com a reportagem do TP o produtor Ademar Corrêa, morador do assen­tamento Che Guevara, em Hulha Negra. O produtor rural plantou 150 hectares de soja e mostra pre­ocupação com o futuro em razão das perdas. “Em algumas partes da lavoura a planta praticamente morreu. Estou colhendo uma média de 10, 12 sacas por hectare, o que não vai ser suficiente para custear arrendamento, sementes, defensivos e outros custos. Tenho seguro de par­te da lavoura, feito através do auxílio e vistoria da Emater, mas com uma perda estimada de cerca de 50% e um grão pequeno, será muito difícil, mas teremos que enfrentar”, relata.

Da colheitadeira, produtor Ademar mostra lavoura com produção de 13 sacas por hectare, o que vai acarretar muitos prejuízos Foto: Divulgação TP

CANDIOTA Na Capital do Car­vão, com um déficit hídrico de mais de 290 mm de novembro de 2019 até hoje, o técnico da Emater Matheus do Amaral Caetano, chama a atenção para evapotranspiração (soma da evaporação da água pela superfície de solo mais a transpiração dos ve­getais), dada à ocorrência de ventos e temperaturas altas nos meses de novembro de 2019 a fevereiro de 2020. Conforme Amaral, a lavoura de soja apresenta o maior prejuízo devido ao agravamento da estiagem durante o mês de fevereiro, que atin­giu as lavouras em pleno período de florescimento e enchimento de grãos causando aborto de flores e seca de vagens, chegando a uma redução de mais de 1.200 toneladas.

No município, as perdas chegam a 55,66% na soja, 52,50% na bovinocultura de leite, 29,1% na bovinocultura de corte, 82,22% no mel, e 53% nas sementes de orelícolas, milho, girassol, quiabo, feijão, abóbora, melão e melancia. “Os prejuízos estão sendo agra­vados dia a dia, alguns produtores estão cortando o milho seco para suplementar os animais, os campos nativos e as pastagens cultivadas de verão estão secos. Os açudes estão com seu volume reduzido, o que prejudica o manejo reprodutivo e um prejuízo que levará muito tempo para ser recuperado”, expõe o técni­co, ressaltando, porém, o problema ocasionado pela falta de água para o consumo humano.

O produtor Elizeu Zanatto Dias, do assentamento Madrugada, de Candiota, em vídeo, mostrou preocupação com a lavoura, porém agradeceu o apoio e orientação da Emater. “Agradeço ao pessoal da Emater por me auxiliar no laudo da minha lavoura. Estamos com estiagem desde janeiro, a seca não produziu quase nada e estamos com dificuldades em razão do corona­vírus, mesmo tendo solicitado o proagro”, disse Zanatto.

Grão da soja não está uniforme Foto: Divulgação TP

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