“Estamos passando por uma das piores crises do setor leiteiro”, assim descreveu a produtora rural de Hulha Negra, da Granja Guaibu, localizada na Trigolândia, Rosângela Soares Willrich, sobre a situação do leite. A declaração foi dada a reportagem do TP ao ser questionada sobre a produção de leite atualmente.
Isso porque, está agendada para a próxima quinta-feira (10), em Bagé, a partir das 11h, em frente à Câmara de Vereadores, uma manifestação pacífica para tratar sobre o valor do leite na região. Na oportunidade, será entregue ao presidente da Câmara de Vereadores de Bagé, Esquerda Carneiro (PTB), um documento descrevendo as solicitações da categoria, para que seja enviado aos governos Estadual e Federal, assim como para as demais Câmaras de Vereadores da região.
De acordo com a produtora de leite de Hulha Negra e integrante da organização do manifesto, a mobilização é em decorrência da categoria não suportar mais produzir e ter que arcar com o prejuízo e desvalorização. Com o slogan “A vaca está secando”, a comissão convida a todos os produtores da região e estado a se juntarem na manifestação.
Em entrevista ao TP, a produtora relatou que os preços pagos pelo litro do leite estão baixíssimos. “Os valores tem variação em função da qualidade do leite de cada propriedade, assim como a quantidade e a empresa compradora. Tem produtor recebendo em torno de R$ 0,60 por litro, no leite produzido em novembro, pago na metade de dezembro. Mas na grande maioria, acredito que está na faixa R$ 0,80 a R$ 1,05”, conta Rosângela, acrescentando que ela, particularmente, recebeu R$ 1,05 pelo litro do leite em novembro em razão da qualidade, mas quando não a qualidade não está de acordo com os parâmetros da empresa compradora, há descontos.
A proprietária da granja com produção mensal de cerca de 23 mil litros em novembro, conta que um dos fatores causadores desta baixa de preços nos últimos meses é a importação de leite em pó dos países vizinhos como Uruguai e Argentina. “Com valores abaixo dos nossos, devido à legislação do Mercosul, ficamos desfavorecidos e não estamos conseguindo pagar as despesas mensais para produzir e muito menos pagar os investimentos que temos feito nas propriedades. Muitos de nós ainda não pararam de produzir, justamente por causa de investimentos que precisam ser pagos aos bancos. Estamos tentando envolver o máximo possível de produtores neste evento, assim como consumidores, fornecedores e todos que quiserem nos apoiar nesta empreitada, afinal, se pararmos de produzir ou sairmos do campo, os municípios perderão arrecadação”, afirma Rosângela.
A produtora, formada em Administração Rural, optou por trabalhar na propriedade da família e a ideia sempre foi produzir leite de qualidade e animais para venda. Ela conta, porém, que o rebanho precisou ser reduzido em mais da metade devido aos prejuízos com o leite. “Participávamos de Exposições, ganhávamos premiações, o que valorizava os animais na hora da venda. Mas nos afastamos destes eventos, porque os custos aumentaram bastante e na hora da venda, não recebemos o valor que os animais realmente tem pela sua qualidade genética. Já tivemos 80 vacas em lactação, mas agora estamos com apenas 35. Não tem como aumentar a produção, pois estaremos aumento o prejuízo”, conclui Rosângela, convidando a comunidade a se unir ao grupo na manifestação.