*Por Aníbal Gomes Filho
A última vez que o vi já faz muito tempo, para mim ainda é como se fosse aquele cara que eu conheci quando éramos meninos. Sempre simples, contando piadas, sorrindo, brincando, aquilo era a sua marca registrada desde pequeno. Um companheiro das festas, das rodadas de whisky com guaraná, dos bailinhos e bailões, das noitadas de serenatas, das aventuras no futebol de várzea, dos aniversários das meninas bonitas que a gente sonhava um dia poder namorar, dos imprevistos em que a gente se embrulhava e tinha alguma dificuldade para resolver, dos carnavais que nos trazem tantas e boas recordações, e tantas outras jornadas que vivemos e passamos juntos.
A gente não falava quase nada que fosse de fundamento, não projetávamos o futuro porque só nos interessava o presente, não tínhamos ambição que não fosse o nosso bem estar sem jamais prejudicar alguém.
A gente amava a vida que tinha ao dispor sem praticar o mal, sem brigar, sem agredir nem ofender, não havia nenhuma malícia, absolutamente nada, era sempre assim, não tínhamos inimigos, pelo contrário, nosso grupo era formado por uma verdadeira irmandade de amigos.
Mas eis que chegou o tempo da maturidade. A vida estacionou a nossa frente e ordenou que era chegada a hora de assumir responsabilidade. Então fomos colocados à beira de uma estrada com algumas encruzilhadas. Algumas razoavelmente boas, outras mais amargas e mais sinuosas, e lá fomos nós, cada um para lados diferentes. Fomos nos separando, alguns de nós mudamos de cidade, acabamos nos distanciando, os reencontros passaram a ser verdadeiros acasos, afinal não existia nada da tecnologia dos dias de hoje, sequer se podia imaginar que o celular seria inventado, eram realmente outros tempos bem diferentes.
A vida nos deu uma couraça forte para suportar as quedas, ao mesmo tempo em que nossos cabelos ficaram brancos rapidamente. Quando nos demos por conta, havíamos constituído famílias ao nosso redor, esposa, filhos e filhas com as ramificações que se originam desses laços que criamos.
Assim, com o passar dos anos, fomos aprendendo a conviver e socializar, ensinados pela experiência da vida, orientados por nossos jovens filhos e filhas que também nos ajudam a viver estes tempos de modernidade e tecnologia avançada, e se algumas vezes contamos a eles o que fazíamos em nossas vidas de jovens, eles riem da nossa grande ingenuidade vivida naquela época, da bizarrice das nossas loucas aventuras que trilhamos.
Enfim, nesse mundo de hoje que preza as embalagens e despreza o conteúdo, acho que fomos um exemplo transparente e sadio.
Dedico este humilde artigo aos meus amicíssimos irmãos de coração, Sérgio Dutra Costa e Paulo Roberto Fontes, companheiros de uma juventude sadia e irmã, que nos ensinou o valor da vida, o sentido do companheirismo e a força de uma grande amizade.
“QUEM PENSA QUE FAMÍLIA É SÓ DE SANGUE, NÃO É CAPAZ DE ENTENDER O PODER DE UMA CONEXÃO SINCERA.”