DIA DO APICULTOR

Produtora de Candiota conta experiência com produção de mel

Cláudia Aparecida Schmidt diz que encantamento pelas abelhas vem da infância Foto: Divulgação TP

O gosto pela atividade parece ser uma marca entre os apicultores – cujo dia é comemorado em 22 de maio. “Eu vou num apiário, vejo a organização de uma colmeia. Se a gente fosse tão organizado assim… Um bichinho pequenininho faz tanta diferença, produz tanto. O alimento, a fruta, tudo depende dele”. O encantamento de Cláudia Aparecida Schmidt pelas abelhas vem da infância: os pais, também assentados em Candiota, já trabalhavam com apicultura. Quando recebeu o lote no assentamento Vitória 2000, ela manteve a atividade, que representa hoje 50% da renda familiar.
Junto com outras 40 famílias, Cláudia integra a Associação de Apicultores da Região de Candiota (APIRCAN). Destes associados, 20 estão ativos e colhem, ao ano, cerca de 90 mil kg do mel. O produto é vendido bruto, em tambores de 300 kg, para empresas de Santa Catarina e Paraná – na última carga, os agricultores receberam R$ 13,50 por kg.
A expectativa é ampliar este valor por meio do programa Terra Sol. O Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) do Rio Grande do Sul e a prefeitura de Candiota investiram cerca de R$ 300 mil na construção de uma casa do mel, localizada no assentamento Fazenda São Francisco. Isso significa que as famílias vão poder processar adequadamente o mel e vender envasado – atualmente, os preços para o produto beneficiado atingem entre R$ 25,00 a R$ 30,00 o kg.
A obra está concluída e quase totalmente equipada. A prefeitura vai abrir novo pregão para adquirir o que falta no início de junho, o que garante o uso da estrutura já na próxima safra. “Queremos estar trabalhando lá em outubro, novembro”, prevê Cláudia, que atualmente é secretária da APIRCAN. A documentação e vistoria prévia para o Selo de Inspeção Municipal já foram providenciadas, e a associação já conta com rótulo formalizado para comercialização.

ESTÍMULO – Uma vez em funcionamento, a casa do mel deve atrair ainda mais adesões à apicultura na região. É o que pensa o presidente da APIRCAN, Otacílio Juvenal Moraes Martins. “Este ano, o preço está bom. Com a casa do mel, produzindo com qualidade e recebendo bem, outras pessoas vão se encaixando”. Para ele, além do lucro, a atividade e os apicultores serão mais valorizados.
Otacílio conheceu a apicultura quando chegou ao assentamento Santa Fé, em 2001. Fez um curso pensando mais na produção para consumo próprio. “Eu comprava um balde por inverno, gostava de mel. Pensei: vou produzir o meu”. Começou com quatro caixas de abelha, mas logo investiu em 50 e hoje já soma 100 – no momento, 80 com enxames.
Na produção da região, as floradas são predominantemente nativas. Otacílio conserva parte do lote sem roçar para favorecer as abelhas. O agricultor colhe mais de 2 mil kg de mel por ano. Embora a principal atividade do lote seja a produção de leite, a apicultura garante bons rendimentos à família. Este ano, o mel pagou a prestação do trator (R$ 14 mil) com bastante folga.

DESAFIO – Cláudia, junto com sua família, mantém um total de 160 caixas de abelhas. A meta é chegar a 200. “Ainda não chegamos pelas perdas que tivemos”, conta a apicultora. Em 2019, ela teve prejuízo devido à aplicação de agrotóxicos em lavouras da região. Perdeu 23 enxames e caixas, mel e cera.
A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural colheu amostras e encontrou 24 princípios ativos – o caso permanece na justiça. “Enquanto os aplicadores de agrotóxicos não forem punidos, vamos continuar perdendo enxames e nosso sustento”, lamenta.
Valdemir Gonçalves, do assentamento Conquista do Paraíso, também sente o impacto do avanço da soja na sua produção de mel. “É muito defensivo nas lavouras. A gente perde muito enxame no período de pulverização”, conta. Ainda assim, ele avalia que vale a pena investir na apicultura. “Eu gosto muito. Tanto que não tenho ideia de parar”.

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