A preocupação com o novo coronavírus e suas consequências para a comunidade de Candiota levou ao surgimento de um projeto, o Xô Corona. Idealizado e desenvolvido pela moradora Maria Cristina da Silva Gonzales, o projeto objetiva ajudar as pessoas com menor poder aquisitivo a ultrapassar a difícil fase da Covid-19.
Ela disse que em março, após ter sido afastada das funções por uma gripe e sinusite, a vontade de ajudar aumentou. “Pensei de que forma eu poderia ajudar as pessoas apesar de não ter dinheiro. Como sou natural de Pelotas e vi que lá era desenvolvido um projeto utilizando óleo saturado para confecção de sabão em barra, trouxe esse projeto para Candiota, pois vi nele uma forma de ajudar as pessoas”, afirma.
Em entrevista ao Tribuna do Pampa, Cristina que é Técnica em Química, contou que após ter a ideia, procurou por auxílio de duas amigas, uma professora do ETFPel de Pelotas, Nadja Dias da Costa e outra que reside no Mato Grosso, Francine Rodrigues Ferreira Lemes, para a receita do sabão. “Eu sabia que a higienização era necessária para combater a Covid-19. Queria ajudar no combate à doença e assim, também reutilizar o óleo de cozinha, de forma que não venha a prejudicar o meio ambiente. Ao perceber que só com o óleo da minha casa não seria suficiente, comecei a pedir ajuda comunidade com doação de óleo de cozinha, soda, papel filme, etiquetas”, relata.
Segundo relatou Cristina, o projeto foi bastante aceito e a participação da comunidade, como de empresas tem sido muito importante. “Seguidamente estou recebendo doações, tanto das pessoas como das empresas de Candiota. Claro que a demanda, em alguns momentos, tem sido maior e tiro do meu bolso para comprar o que falta. Um apoio bastante importante também foi dos amigos Duda e Liza Belo que emprestaram o local para a fabricação dos sabões – a Associação de Moradores da Vila Operária (Amvo) e temos conseguido atingir uma grande produção”, conta a técnica, explicando que as unidades têm como destino mulheres chefes de família que estão sem trabalhar e não tem como adquirir sabão para higiene, famílias quilombolas, postos de saúde e Pronto Atendimento de Candiota.
Inicialmente, o projeto contou a participação de Cirlene da Silva e Rafaela Vidart, mas com o corre-corre do dia a dia e questões particulares, Cristina passou a tocar o projeto sozinha. Questionada sobre o que o projeto representa atualmente em sua vida, ela diz não gostar de ficar parada, mas sim ser atuante. “Não gosto de ficar de platéia nas coisas, às vezes até me meto demais nas coisas. Me orgulho desse projeto e apesar de hoje estar sozinha nele, não quero deixar ele morrer, pra mim é uma terapia”, expõe a técnica que diz que o apoio e auxílio de todos tem sido essencial.
O SABÃO – Para produção é utilizada soda, óleo saturado e água. Cristina conta ter inovado utilizando às vezes, bicarbonato, clorofina, corante e chá. “Conforme o material que tenho faço colorações diferentes e algumas modificações”. Segundo Cristina, são produzidas em torno de 500 barras mensais por meio de um trabalho artesanal, desde a confecção até a embalagem, já tendo chegado a uma média de 2.500 barras até a entrevista concedida ao TP.
OFICINAS – Além da produção dos sabões, por meio do Xô Corona, Cristina também ensina aos interessados, a produzir sabão em casa. Em Seival, um grupo já participou de aulas e uma cooperativa já está sendo criada, acredito que vai dar certo. Já fui convidada para aulas em Bagé. Quando sei que alguém está precisando, produzo, levo até a pessoa e se ela quer aprender a fazer eu ensino. Quero chegar em todos os cantos, em todas as casas, pois sabão é uma coisa muito importante no combate à Covid-19. Apesar de ser uma coisa tão barata, é importante para muita gente”, acrescenta.