Relatos de um cachorro resgatado

*Cássio G. Lopes

Historiador e escritor

Eu ainda não tinha desmamado, quando tu me escolheste. Literalmente, tirasse-me das tetas de minha mãe, talvez porque me achasses bonitinho.
Levaste-me então para tua casa, me deste comida e bebida. E, assim, fui crescendo no meu novo lar, na tua companhia, te fazendo costado, te amando e querendo bem.
E não havia tempo feio que impedisse de te receber quando chegavas em casa, pois, tu és o meu ídolo, minha referência, o meu dono.
Por ti, com certeza daria a minha vida, porque te amo acima de tudo, independente das circunstâncias.
Porém, com o tempo, não sei o porquê, paraste de me dar atenção e carinho; e me atiraste aqui nessa encerra cercada de telhas velhas de zinco.
Sabe, já não recordo a última vez que comi e bebi. Minha barriga ronca há muitos dias e estou sedento por um pouco de água.
Estou tão magro, que os meus ossos estão aparecendo. Meus olhos estão mirrados e já não trazem mais aquele brilho de antes.
Oh, se um dia alguém passasse por aqui e me tirasse dessa situação!
Eis que ouço o barulho de um carro se aproximando. Dele escuto a batida das portas e os passos de pessoas se aproximando.
Não reconheço as suas vozes, são estranhos e estão vindo em minha direção. Repentinamente, o portão de zinco se abre e vejo duas mulheres que me dizem: “Não tenhas medo, cãozinho. Estamos aqui para te ajudar”.
Devido a minha fraqueza, elas tiveram que me carregar até o carro. Fui levado direto para uma veterinária, que me cuidou por meses até me recuperar completamente.
Hoje, sou um novo cachorro e estou à espera de alguém que me adote.
Obrigado, Patrícia (1), Eliane (2) e Maila (3), por terem me resgatado. Nunca poderei recompensar o que fizeram por mim.
1 – Patrícia Coradini (Policial Civil e Presidente do Núcleo de Proteção de Animais de Bagé);
2 – Eliane Hidalgo (Policial Civil);
3 – Maila Saldanha (Veterinária).

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