DIA INTERNACIONAL

Responsáveis por grupos de dança falam sobre os desafios de manter os jovens no CTG

A instrutora e dançarina candiotense, Kamily Flores falou sobre a importância da arte em sua vida

Ela falou sobre o amor pela dança e sobre a nova descoberta de passar o que aprendeu para a nova geração Foto: Divulgação TP

Nesta segunda-feira (29), comemora-se o Dia Internacional da Dança que foi criado em 1982 pelo Comitê Internacional da Dança (CID) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). No Rio Grande do Sul a dança está muito presente na vida de crianças, jovens e adultos, que participam de invernadas em suas entidades tradicionalistas. Para falar sobre os desafios enfrentados atualmente para manter a tradição e amor pela dança atraente para a nova geração, alguns responsáveis por invernadas da região falaram sobre o assunto. Ainda, a instrutora e dançarina Kamily Flores, 21 anos, falou sobre a importância da arte na sua vida.

 

CCTG LILA ALVES

 

O vice-patrão do Centro Cacimbinhense de Tradições Gaúchas (CCTG) Lila Alves, Eduardo Ritta, falou que são muitos desafios para manter uma entidade tradicionalista ativa, sendo que um deles é levar os jovens para dentro do CTG.

Em conversa, Eduardo disse que apesar do município de Pinheiro Machado contar com vários grupos ligados ao CCTG, a maioria dos jovens participam apenas dos grupos de dança, freqüentando as entidades apenas em dias de apresentação de sua invernada, o que está refletindo a cada ano que passa. “O que venho percebendo também é a dificuldade dos jovens a partir da categoria juvenil, de conciliar os estudos com as danças nas invernadas, pois hoje nossos jovens precisam procurar este estudo em outro município, os atrapalhando de participar dos ensaios durante a semana, e estes acabam desistindo de dançar para priorizar seu estudo”, pontuou.

Ele também elencou a pouca participação de prendas e peões titulados na entidade, e segundo ele, acaba interferindo na realização de eventos culturais para conseguir levar mais jovens para a entidade, para passar um dia aprendendo sobre a cultura gaúcha e suas danças, para quem sabe surgir mais interesse em participar de concursos. “Nós enquanto administradores precisamos incentivar estes eventos culturais, para que estes jovens no futuro tomem gosto pela nossa cultura e possam assumir as rédeas de nossas entidades, não deixando nunca morrer a cultura do nosso estado”, alertou, reforçando que o movimento tradicionalista começou com oito jovens, e por isso é tão importante manter a juventude dentro do CTG, para que a tradição não fique somente no passado.

 

CANDEEIRO DO PAGO

 

Já a diretora artística do CTG Candeeiro do Pago de Candiota, Valéria Munhoz, mencionou que o tradicionalismo é uma arte que tem muitos custos e despesas com instrutores, correções, indumentárias, viagens e musical, por exemplo, e que dependem de muita ajuda financeira para tornar tudo isso realidade. “Pois só saindo do bolso dos pais fica difícil, e eles acabam não querendo mais que os filhos participem. Então temos que nos redobrar com muito trabalho para manter em pé um grupo artístico, porque depois que eles estão no meio, pegam amor e querem participar de eventos, rodeio, disputar com outros grupos e isso gera custos que temos que buscar com muito trabalho e dedicação”, destacou.

Além disso, ela também disse que a cada dia se torna mais difícil manter os jovens ligados a cultura, sendo um trabalho diário de incentivo e busca ativa para que eles façam parte do CTG, que segundo ela, é o lugar mais saudável e seguro para os filhos. “Mas aos poucos vamos conquistando nosso espaço e buscando essas crianças e jovens, e lutando em prol da nossa cultura e o resultado sempre vem”, pontuou, falando que cada momento compartilhado vale à pena e que cada sorriso estampado no rosto de cada um não tem preço. “É isso que nos move e nos mantém em pé, lutando a cada dia”.

 

LUIZ CHIRIVINO

 

Uma das instrutoras da invernada mirim do CTG Luiz Chirivino de Candiota, Kamily Flores, também ressaltou os diversos desafios para manter os jovens dentro do CTG nos dias atuais, reafirmando que esta missão está se tornando cada vez mais difícil. “Já fomos em escolas divulgar nosso CTG e invernadas, estamos sempre nas redes sociais também que hoje é o que eles mais usam, vamos para as ruas e tudo isso pensando em ser visto por novos jovens também e causar esse desejo de fazer parte do grupo”, relatou, dizendo que chamar a atenção dos meninos é ainda mais difícil.

Atualmente, Kamily disse que o grupo está com um número de integrantes muito bom, somando 32 crianças, sendo 13 pões e 19 prendas entre 8 a 14 anos de idade. Sobre esse número expressivo, ela acredita que seja pela inovação que estão sempre buscando fazer dentro da invernada, para que os componentes não desistam e convidem mais pessoas. “Trazemos aquecimentos diferentes e engraçados, estamos investindo em professores de fora, fazemos diversas confraternizações unindo também os pais a esse meio tradicionalista e que por vezes também é uma dificuldade, pois muitos não têm o costume de frequentar ao CTG, mas vão pelos filhos”.

 

A DANÇA

 

Na vida de Kamily, a dança tem uma participação significativa, pois além de instrutora ela também já fez parte de invernadas. Sobre isso, a jovem disse que a dança sempre vai ser sobre sentimentos, mais do que técnicas. “É muito mais bonito ver alguém que sente e se entrega pra dança do que aquele que faz tudo certo, mas não tem sentimento. A emoção de dançar, transmitir a mensagem da música para as pessoas que estão assistindo sintam a mesma energia”, mencionou.

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o meio tradicionalista também precisou parar, e segundo Kamily, muitos se distanciaram e não retornaram para o CTG e para os grupos de dança. Sendo assim, precisou se reinventar na dança, já que a invernada que participava não voltou a ativa. “Descobri esse outro propósito na minha vida que é ensinar, passar o que sei pra esses novos dançarinos! Já ajudava meu pai desde que era da juvenil, mas nunca quis a responsabilidade de ser realmente instrutora ao lado dele, foi aos poucos surgindo essa vontade”, contou, dizendo que “a dança pra mim continua sendo sobre sentimentos, mas por agora, é sobre o sentimento de ensinar, de unir, de estar do lado de fora do tablado torcendo para que dê tudo certo com meus pequenos gigantes mirins”.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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