OPINIÃO DO TP

Sem hidrômetros não há solução em Candiota

Começou na noite do último sábado (17), o racionamento de água na sede de Candiota e nas comunidades rurais abastecidas pelo sistema de abastecimento da Prefeitura local. O corte é de 12h, sendo das 8h às 20h na zona rural e das 20h às 8h na cidade.

A medida pegou de surpresa a população, pois o verão foi de uma dura estiagem e a contenção só veio agora no inverno. Segundo a Prefeitura, foi segurado o máximo que se podia, na expectativa de reação das barragens, porém isso não aconteceu e a decisão extrema precisou ser tomada pelos próximos 30 dias, sob pena de falta total do líquido precioso.

O sistema de abastecimento de água candiotense é um problema que se arrasta há muito anos. Entra governo e sai governo e a medida crucial nunca é tomada. Em meados do ano 2000, no governo do hoje presidente da Câmara, Marcelo Gregório, por iniciativa do então secretário de Obras e Serviços Públicos da época, engenheiro Haroldo Amaral, todos os imóveis das Vilas Operária e Residencial e a sede do município receberam hidrômetros. Na Vila Operária, por certo tempo, houve medição. Nas demais, os aparelhos se estragaram na frente das casas, sem jamais terem sido usados.

De forma equivocada e uma interpretação torta, em Candiota se criou a ideia de que hidrometria é para cobrança, pura e simplesmente. Para ilustrar a importância dessa medida, na Vila Operária, quando os hidrômetros funcionaram, entre vários casos, um deles chamou a atenção dos técnicos, de que nas primeiras medições veio um absurdo de consumo de água. O morador foi investigar e havia um vazamento de grandes proporções e há anos em seu pátio.

Outro dado assustador e que demonstra a necessidade urgente dos hidrômetros é que Candiota trata água para uma população de 40 mil pessoas, sendo que na realidade tem pouco mais de 10 mil. Assim, Candiota consome mais água que Pinheiro Machado, Pedras Altas (ambas têm hidrômetros) e Hulha Negra juntas. Para onde está indo este volume de água para 30 mil pessoas a mais? A resposta é simples: vazamentos, desperdício e uso indevido – tudo isso sem qualquer controle ou repreensão.

Estudos comprovam que quando se coloca hidrômetros, o consumo cai em 50% e no caso de Candiota deverá ser muito mais. E aqui, voltamos a frisar, hidrômetro é controle e não cobrança pura e simples. Aliás, se pode ampliar a política de isenção de taxa mínima para consumidores mais pobres e que tenham baixo consumo. Quando o sistema conseguir operar com tranquilidade e não muito além do limite como hoje, tudo, absolutamente tudo, vai começar a melhorar, inclusive sobrando recursos para investimentos. Aliás, os funcionários do Setor de Saneamento, que são quase heróis em operar um sistema assim, terão condições dignas de entregar um serviço infinitamente com mais qualidade à comunidade. Vale lembrar, que o município já possui legislação própria para implantação da hidrometria.

O fato está em controlar o consumo, que hoje como visto é monstruoso (população de 10 mil e água para 40 mil pessoas). O volume de água tratada em Candiota, segundo dado que o TP teve acesso, é de um consumo de 500 litros por dia por pessoa, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda como ideal, entre 50 e 100 litros por dia para atender a todas suas necessidades básicas de um ser humano. Aí, alguns vão dizer, mas eu não consumo isso tudo. Ninguém consome pessoalmente esse volume, o que acontece, repetindo, é desperdício e uso indevido.

Enfim, está posto que não vai adiantar qualquer melhoria no sistema senão houver controle rígido do consumo, pois como já tantas vezes dissemos aqui, se seguirá enxugando gelo.

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

Comentários do Facebook