Sinais dos tempos

A desclassificação da seleção feminina de futebol, após três rodadas da Copa do Mundo só não foi mais rápida que a eliminação de todos os brasileiros, quatro, e brasileiras, duas, da Copa do Mundo de Xadrez, que está sendo disputada Azerbaijão. Os enxadristas brasileiros foram eliminados na primeira rodada, quatro e na segunda rodada os outros dois. Tudo normal. Era previsível. No futebol não era previsível, até se pensava com um pouco de otimismo em título ou podium.

Se o xadrez reflete a situação educacional e cultural brasileira e neste esporte os nossos melhores jogadores não são os melhores nem na América do Sul, no futebol as nossas referências estão no passado. Marta no banco de reservas, ela que foi a melhor jogadora do mundo em vários anos, era apenas a imagem de uma reposição discutível, mas necessária.

Tenho escrito que o esporte está em decadência como um todo, reflexo das precárias relações sociais deste mundo novo em que vivemos, o mundo pós redes sociais. Mundo de pessoas solitárias que dizem ter milhões de amigos. Enquanto isso, basta andar pela Avenida Sete, em Bagé, para observar que o Clube Caixeiral fechou, o Clube Comercial fechou, O Clube Recreativo fechou, a Rádio Cultura fechou, o Correio do Sul fechou. Se pensar um pouco mais, nas Cooperativas, a Camal fechou, a Cobagelan fechou e a Cicade fechou. Um mais ligeiro, diria, “mas a Cicade hoje é Marfrig”. Sim, mas hoje todo o lucro da atividade de transformação não fica mais em Bagé, como no tempo da Cicade.

Em Porto Alegre, clubes históricos frequentados pela classe média também fecharam ou estão abandonados, Partenon, Gloria, Teresópolis, Petrópolis. Restam alguns, de elite, Sogipa, União, Leopoldina Juvenil. A elite tende a se aproximar.

Construir de forma coletiva e com interesse no bem comum é algo cada vez mais raro.

Se no passado os clubes de futebol resultavam da associação de interessados em praticar futebol, hoje o futebol virou negócio de empresa. Campo de jogar “pelada” virou “Centro de Treinamento” e estes são muito raros. Logo, raros são os que se divertem jogando futebol. Com a excelência em qualquer esporte surge da quantidade, o Brasil fracassar no futebol me parece normal.

Finalmente, neste mundo de todos os preconceitos, o que mais esteve em evidência nessa seleção feminina foram as esposas e namoradas das jogadoras. Inclusive, nas diversas matérias publicadas a respeito, e sempre com destaque de chamadas capciosas, não percebi, se é que alguém mostrou, uma cara masculina de alguém que namora uma jogadora. Acredito que deve haver. Se é que tudo isso é normal como as matérias “parecem” fazer crer, por que exaltar o normal, mostrando apenas as mulheres que vivem com mulheres?

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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