Sobre a Audiência Pública do Carvão Mineral de Candiota realizada dia 14 de julho

* José Paulo Milan Amaro

O importante tema do desenvolvimento da região da Campanha foi abordado com foco no carvão mineral de Candiota. A audiência pública mostrou um agudo conflito de opiniões entre os interesses da região e a corrente “ambientalista” que propugna simplesmente pela descontinuidade das atividades de exploração do carvão mineral, independente das consequências econômicas e sociais e em nome da luta contra o aquecimento global.
Cabe aqui colocar alguns pontos relevantes:

  1. O problema de aquecimento global é exatamente o que o caracteriza: global. Um tema que está sendo tratado em um acordo entre nações com estabelecimento de metas de redução dos gases estufa. As partes nestes acordos estabelecem suas metas e as submetem à Conferência dos Países, controlando os resultados e evitando rupturas nas cadeias produtivas, mas com um firme direcionamento visando uma economia de baixo carbono em prazos razoáveis.
  2. O Brasil é signatário desses acordos e os têm cumprido de forma exemplar, conforme é de conhecimento geral: matriz de energia limpa sem igual no planeta e o maior programa de biocombustíveis em operação, entre tantas outras ações de governo, de indústrias privadas onde impera uma elevada consciência de sustentabilidade. Fora o desastre ambiental relacionado pelo desmatamento na Amazônia e Pantanal, o país tem uma posição confortável para regular suas atividades econômicas na cadeia de fósseis. Se trata de ajustar nossos objetivos de crescimento em um Projeto de Desenvolvimento Nacional com as metas negociadas nos fóruns ambientais globais e tomando em consideração as peculiaridades regionais existentes.
  3. O carvão mineral tem um potencial de desenvolvimento regional de interesse econômico e social gigantesco. Em uma matriz intermitente sua função de estabilizador da geração, de baixo custo, tem um fundamento inquestionável do ponto de vista econômico e social. O país pode considerar, sem afetar seus compromissos com as metas do clima, aumentar sua participação na matriz para algo em torno de 5% a 10% com enormes benefícios para toda a sociedade e especialmente para a região da Campanha. Temos agências governamentais altamente capacitadas a medir e calcular de forma lógica qual o máximo de contribuição que interessa despachar de energia térmica de carvão no sistema elétrico nacional que esteja coerente com as metas de transição global para uma economia de baixo carbono.
  4. Muito comentado na AP, o grave problema do regime de chuvas que afeta o Conesul do continente tem sua principal causa mais do que conhecida na degradação da floresta amazônica causada pelas queimadas. Nada a ver com a geração de gases estufa no país e muito menos na deprimida produção elétrica térmica de carvão na região Sul. O alegado problema hídrico deveria ser atacado pelos ambientalistas em seu devido campo de batalha: no anel de expansão agropecuária em torno da Amazonas. Que os ambientalistas organizem brigadas de proteção ambiental e que passem as férias acampados no mato analisando toda a complexidade fundiária, social e indígena nestas áreas, propondo soluções e pressionando por políticas públicas envolvidas. Candiota seguramente não deveria ser sua prioridade
  5. Os “ambientalistas”, me parece, tem motivação de natureza ideológica, individualista, sem compromisso com a realidade das metas, acordos globais e a necessidade de desenvolvimento regional em nome de uma visão simplista e juvenil da preservação do planeta.
  6. Outro ponto onde erram os “ambientalistas” é na tese de que as térmicas a gás natural são de muito menor pegada de carbono que o carvão. É verdade em parte, mas não levam em conta que a extração de gás natural, como no pré sal libera grandes quantidades de CO2 na atmosfera – em média 30%.

* Engenheiro metalurgista, consultor e gerente de Projetos no Grupo Vamtec

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