AGOSTO
Sobrevivemos ao agosto. Ufa! Temos um injusto preconceito com este mês tão temido. É certo que é o mês mais inclemente do nosso inverno.
É o mês do cachorro louco, diziam os antigos. Loucos de fome, digo eu. Os pobres animais largados ao relento realmente tinham dificuldade de encontrar alimento adequado e acabavam comendo o que estava fora de sua dieta natural.
O agosto realmente colhia com seu rigor os fracos, os desabrigados e os exagerados. Até hoje os mais pobres sofrem com seu rigor. Tantas campanhas por agasalhos e cobertas de lã só reforçam a penúria.
Os velhos por si só, são os que mais temem o agosto. Tanto reumatismo, tanta articulação desgastada cobram seu preço no duro inverno. As crianças buliçosas soltam o nariz a escorrer suas corizas, mãos e pés gelados! As farmácias faturam o descuido, negligência e o desamor.
Quero mostrar o outro lado do mês de agosto. O azul do céu é o mais profundo e intenso do ano. Quando a geada branqueia os campos, olhes para o horizonte e verás um oceano azul profundo, infinito.
Abras tua janela ao raiar do dia e verás rios de fogo correndo no horizonte, prenunciando o dia que está nascendo.
Tens que ver as lavouras de colza que florescem em agosto. Imensos lençóis amarelos prenunciando boa colheita. É a lavoura mais bela ao refletir o sol com seu ouro balançante. O que dizer dos trigais que no agosto ficam dourados dançando suas valsas infinitas anunciado que a colheita está próxima!
Verás, enfim, que agosto não é sinônimo de desgosto. É só um mês a mais nas nossas vidas.
TALITA
Talita morreu criança, aos 80 anos. Não teve tempo de crescer. A vida chegou cedo demais e o fio gelado da morte veio colher esta menina, mãe, tia, avó.
Talita morreu sem pecados porque sua bondade e amor não permitiram que pecasse. Na bacia dos seus olhos azuis corriam águas de bondade, perdão, compreensão e, claro, muito amor.
Talita nasceu pobre e morreu pobre. Tão pobre que não teve chinelos para se alfabetizar (a escola não permitia pés descalços). Aprendeu a ler pelo carinho e cadernos das netas depois dos sessenta anos.
Talita viu o mar. Banhou-se nele. Adorou o repuxo (que força), a areia que fugia dos seus pés (quanta rapidez) e encantada banhou-se nele.
Talita cantou na rádio da cidade. Foi chamada de boca de prata. Sua voz forte fazia parceria com o bandoneon de seu pai.
Talita, com seu marido Loreno, filhos, netos, amava a vida, indiferente às maldades do pecado e da vida.
Talita morreu criança. Foi para o jardim dos puros de coração que Deus lhe reservou. Até, Talita!
AZUL DA COR DO CÉU
Esta Talita é minha prima. Morava em Lagoão onde as montanhas são azuis e os arroios cristalinos.
Vive-se da agricultura básica movida pelo esforço humano. Nossa origem são os Alpes italianos. Desde sempre amamos as montanhas.
Ouça EDELVEISS do filme Noviça Rebelde. Se não viste o filme, veja! Veja! Veja.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*