Quem passa pela BR-293, em Candiota, já percebe que intervenções começaram a ser realizadas no trevo de acesso ao município, entre os bairros Vila Operária e São Simão, pela BR-293. Funcionários da empresa Encopav Engenharia trabalham em uma das laterais do trevo, assim como um maquinário atua na vegetação.
No local, o jornal conversou com o encarregado da empresa, que confirmou que as ações se devem ao início da obra de modificação do trevo que permitirá, posteriormente, que o tráfego tenha melhor fluidez. “Inicialmente, a intervenção ocorre na drenagem da área, para depois iniciar a modificação da rótula. O local terá alargamento dos quatro acessos de entradas e saídas e, ao fim da obra, deixará de ter a via central para o tráfego devido a instalação de uma rótula, ou seja, quem trafega no sentido Bagé-Pelotas fará um breve contorno pela direita, o que acabará reduzindo a velocidade”.
Segundo apurado pelo TP, a obra é complexa e poderá levar em torno de cinco meses para conclusão. O jornal busca contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para mais informações, tais como recursos necessários e imagem de como ficará o local após o término da obra. No entanto, segundo o Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja), a obra está orçada em R$ 1,7 milhão.
Importante destacar que esta é uma demanda antiga de Candiota e motivo de diversas reuniões, tendo em vista o local ser considerado perigoso e palco de muitos acidentes, muitos deles com vítimas fatais, gerando mobilizações e manifestações da comunidade.
PROJETOS
Cabe lembrar que no dia 30 de novembro de 2023, por meio de um assessoramento do Cideja, as prefeituras de Candiota e Hulha Negra fizeram a entrega, na Superintendência Regional do Dnit-RS, dos projetos para a modificação dos trevos de acesso às cidades pela BR-293.
Do ato de entrega participaram o deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (PT), o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador, a diretora executiva do Cideja, Débora Cappua, o prefeito de Aceguá, Marcos Vinicius Aguiar (Peti), o secretário de Administração, Planejamento e Meio Ambiente de Hulha Negra, Hector Bastide e os vereadores hulhanegrenses Luis Gustavo Dias, Baixinho, e Volnei Manfron.
Em abril, também do ano passado, em uma reunião realizada na Câmara de Candiota, promovida pelo deputado Mainardi, se debateu a disponibilidade de recursos do DNIT em fazer essas obras, porém, com dificuldade, por parte do órgão, em elaborar os projetos executivos, já que dependia de contratação de uma empresa para tal.
Na ocasião ficou definido que cada município faria o projeto de forma individual, com recursos próprios das prefeituras e entregaria ao DNIT, sendo que os recursos para as obras são provenientes do governo federal, por meio do DNIT.
O TP também busca com o Departamento se já há previsão para a obra no trevo de acesso a Hulha Negra, na mesma rodovia.
Ao jornal, Mainardi falou sobre o início da obra. “O começo das obras do trevo de Candiota é fruto de muito trabalho e articulação que coordenamos junto ao DNIT, que está cumprindo o cronograma que estabelecemos conjuntamente. As obras do trevo da Santa Tecla, em Bagé, estão indo muito bem. Concluída essa etapa na Santa Tecla, o DNIT vai dar início às obras no trevo da São Domingos. Ainda teremos obras no trevo de Hulha Negra. Infelizmente os trevos de Pinheiro Machado e Piratini não vão sair por enquanto porque as prefeituras não fizeram os projetos. O de Candiota iniciou antes em função do alto índice de acidentes no trecho”.
TREVO SEM ENERGIA
Desde o início das obras, o trevo de acesso a Candiota permanece sem energia elétrica. A informação foi repassada ao jornal pela chefe do Setor de Elétrica da Prefeitura de Candiota, Maria Inês Farias. “Devido a obra de alteração no trevo da Vila Operária a iluminação vai ficar desligada, pois a ligação é subterrânea”, explicou.
“O lugar de tragédia vai se transformar em um símbolo de mudança e segurança”, diz filha de vítima fatal
Um dos muitos acidentes registrados no trevo de Candiota e que gerou comoção foi o do motorista candiotense João Batista Soares Rodrigues, 52 anos, conhecido como João da Van. Ele sofreu um grave acidente no início da noite do dia 30 de junho de 2022 e faleceu 26 dias depois. A van dirigida por João, colidiu violentamente com uma caminhonete, sendo que ele ficou gravemente ferido e permaneceu internado da Unidade de Tratamento Intensivo da Santa Casa de Caridade de Bagé.
Assim como em outros casos, o debate sobre uma necessidade de modificação no trevo surgiu e foi motivo de manifestação de familiares e comunidade que aguardava por uma ação efetiva por parte do Dnit por ser o Departamento responsável pela rodovia.
Com o início da obra de modificação e revitalização do trevo, o TP conversou com a filha de João da Van, Adriele Rodrigues, que relembrou a falta que o pai faz na família. “A dor da perda é uma sombra que nos acompanha, um vazio que nunca se preenche completamente. Perder um pai (qualquer ente, na verdade), em um acidente de trânsito é uma experiência devastadora. Cada lembrança traz à tona a saudade, e cada dia é uma luta para encontrar sentido em meio ao luto. A ausência dele se faz presente em momentos simples, como um conselho que nunca será dado ou uma risada que nunca será compartilhada. O que nos conforta é que ele deixou uma amizade gigantesca que nos acompanham até aqui, e que ele era um ser de um coração imenso. Minha família e eu somos gratos por todo gesto de solidariedade e humanidade, que nos foi dado desde o acidente, a perda e o luto”.
Ela falou sobre o sentimento de ver a obra iniciada. “No entanto, mesmo no meio dessa dor imensa, surge uma nova esperança. A reforma do trevo de acesso, que antes era um lugar de tragédia, agora se transforma em um símbolo de mudança e segurança. É um passo importante para evitar que outras famílias enfrentem o mesmo sofrimento que eu e minha família vivemos. Saber que essa nova etapa trará mais segurança para motoristas e pedestres é um pequeno consolo em meio à dor. Acredito que essa mudança representa não apenas uma melhoria nas condições de tráfego, mas também um tributo à memória daqueles que perderam suas vidas. Cada esforço feito para garantir a segurança nas estradas é uma forma de honrar aqueles que partiram e de proteger aqueles que ainda estão aqui. Enquanto sigo lidando com a dor da perda, também carrego a esperança de que outras famílias não precisem passar pelo que eu passei. A transformação desse espaço é um lembrete de que podemos aprender com as tragédias e buscar um futuro mais seguro para todos”, disse Adriele.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*