Um tango futebolístico…

“Bendito sea”. Eis o título de uma das melhores propagandas de Copa do Mundo que vi. E a peça, realizada pela Quilmes em 2006, foi um grito de apoio à Seleção Argentina. Não deu muito certo, bem sabemos. Se propaganda ganhasse jogos… mas, de fato, foi algo muito bonito. Ela diz mais ou menos assim: “Bendito sea el mundial com que soñamos. Bendito sea cada nombre que ha sido designado. Bendito los pibes que siempre sacamos. El peso de la historia, el respeto ganado…”. E segue.

O ano era 1986. Eu mesmo não era nascido. A Copa era no México. E Don Diego Armando Maradona, “El Pibe de Oro”, era o camisa 10 da Albiceleste. O último título mundial da Argentina havia sido conquistado aí, há aproximados trinta e seis anos, depois de uma vitória por 3×2 contra a forte seleção da Alemanha Ocidental (o muro de Berlim ainda estava de pé). Depois, boas e más seleções. Muitos craques, pouca inspiração. Enfim, fracassos – não foram poucos – acumulados. Inclusive com Lionel Messi em campo – afinal, os grandes também fracassam. Até que…

Em 2021 houve uma virada de chave. E me refiro ao título da Copa América, conquistado em pleno Maracanã, com um show de Messi, contra uma Seleção Brasileira cujos craques preferem mais ter as imagens expostas em páginas de fofocas do que nas páginas esportivas. Lembremos que a Argentina não conquistava nada desde a Copa América de 1993, sendo que o acontecimento, ainda mais da forma que foi, trouxe confiança, um outro ambiente, leveza, tanto que virou música, a mesma canção entoada pela “hinchada” agora nos estádios do Catar e nas ruas da bela Buenos Aires.
A Copa de 2022 chegou. E começou mal, com a derrota para a Arábia Saudita. Não falarei aqui acerca de cada um dos jogos, tampouco da concreta evolução permanente demonstrada pela equipe que se sagraria campeã. Falarei sobre aquela que foi a maior final de todas as Copas. Um verdadeiro “tango futebolístico”, digno dos brios cisplatinos, com suor, sofrimento e muitas lágrimas.

O primeiro tempo foi avassalador. Em linguagem de futebol, a Argentina “passou o trator” em uma França que parecia atônita dentro de campo. Foram 2×0 na etapa inaugural, placar que saiu bem barato para os europeus. Messi e Di Maria marcaram. O técnico Scaloni foi brilhante, muito inteligente. Com a entrada de Di Maria no time titular, e pelo lado esquerdo, a seleção anulou o ponta Dembelé, facilitando, com isso, o trabalho dos companheiros na marcação da grande estrela dos franceses, Mbappé. E a Argentina realmente dominou as ações. Foi um passeio. Seis chutes a gol contra nenhum dos adversários. 61% de posse de bola contra 39% da França. O craque dos oponentes praticamente não pegou na bola. E, quando o árbitro apitou o final, Deschamps deve ter agradecido muito.

Já o segundo tempo começou de forma não muito diferente. A França foi dar o primeiro chute a gol apenas aos 25 minutos da etapa complementar. E foi para fora. Jogo controlado. Até que, substituições após,com um pouco mais de forçano time francês, um pênalti vem à tona aos 35 minutos. Mbappé bate e marca. 2×1. Tensão posta. Sem tempo para assimilar o golpe, um minuto depois, Mbappé marca um golaço e decreta o empate. O jogo, eu reitero, estava dominado. E os franceses, mesmo assim, empataram. Como “gostam” de sofrer, os argentinos. Um tango!

Veio a prorrogação, mais uma na vida da Argentina. E ela saiu na frente, com outro gol de Messi, um gol chorado, como que a materializar, nos gramados do Oriente Médio, o Teatro Colón em dia de espetáculo. Mas a vantagem, que parecia definitiva, não durou muito. Montiel fez pênalti e Mbappé bateu para marcar o terceiro gol dele na final. 3×3. Que poderia ter sido 4×3, para lá ou para cá. Martinez, o goleiro, salvou a Argentina já no fim da prorrogação. Logo em seguida, Martinez, o centroavante, fez aquilo que mais sabe fazer: perder gols. O juiz apitou o fim da partida.

E o final dessa epopeia, todos já sabemos: pênaltis. A França perdeu dois. A Argentina nenhum. O tricampeonato veio. E veio em um dia iluminado que fez valer a justiça no futebol. A Argentina mereceu. Martinez, o goleiraço que salvou e pegou pênaltis, mereceu. De Paul, o cão de guarda, mereceu. Di Maria, o craque improvável, assim também mereceu. E, sobretudo, Messi, o gênio. Sim, torci pela Argentina. Não por ela em si. Mas por Messi. Messi, o pequeno gigante. Aquele que era muito grande para não ter uma Copa. E que foi “o cara” dessa conquista. Bendito sea Messi…

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