Uma pequena curiosidade

Corriam os primórdios da década de setenta, meio século passado, Pinheiro Machado ainda menor, mas a cidade acolhia fatos e ocorrências que à época eram por vezes inusitados para aqueles tempos passados. De forma especial havia um desses fatos que me chamava bastante atenção, qual seja, as incursões periódicas da Tradição, Família e Propriedade, – T.F.P.
Aos mais novos procurarei definir resumidamente. Tratava-se de uma instituição civil, de inspiração católica tradicional, fundada em 1960 pelo professor catedrático, Plínio Correa de Oliveira que fora deputado federal constituinte em 1934. Seu discurso central dedicava-se a combater as ideias maçônicas, socialistas e comunistas, propondo uma contrarrevolução baseada no amor à ordem cristã, e uma absoluta oposição contra a desordem.
Em todas as visitas que faziam à cidade, quase sempre com um número aproximado entre 40 e 50 pessoas, a maior parte ainda jovens, homens e mulheres, muitos deles de origem oriental e isso podia ver-se nas fisionomias. Desfilavam em conjunto pelas ruas centrais da cidade, portavam bandeiras alusivas ao conteúdo programático da instituição. A frente sempre havia um cidadão que era como se fosse o comandante ou porta voz do grupo, portava um megafone e anunciava as ideias da T.F.P., a instituição que representavam.
A população se aglomerava nas calçadas assistindo à passagem dos integrantes daquela instituição, uns achavam engraçado, outros completamente fascinados com o que estavam vendo, alguns em transe emocional. O trânsito de veículos parava completamente para dar vez à cruzada daquela passeata que se repetia em períodos trimestrais, outras vezes até menos tempo de intervalo.
Possivelmente, se algum contemporâneo de faixa etária estiver lendo esse artigo, certamente irá lembrar desses episódios que marcaram muito numa cidade pequena como a nossa.
Eu, então um jovem na faixa dos 15 anos, confesso que assistia a tudo aquilo estupefato, de queixo caído, um misto de curiosidade e medo, talvez por não entender naquele tempo, a plenitude das narrativas demonstradas publicamente pelos integrantes de uma organização civil até então desconhecida para mim.
Com o passar dos anos tais visitas deixaram de ocorrer, não mais se viu nem se teve notícia das atividades daquela instituição, e o esquecimento apagou muitas daquelas lembranças.
Porém, ficou em mim sempre, um desejo escondido de organizar alguma coisa de forma simples para escrever estas linhas poucas com o objetivo de não esquecer daqueles fatos que compunham a formação de uma época diferente em quase todos os sentidos.
Se esqueci de algum detalhe mais relevante, peço que me perdoem, ou então que até me ajudem a recordar algo mais que possa ter sido involuntariamente omitido.
“Admiro pessoas simples, gente que não se acha melhor que ninguém.”

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