FUTURO DO CARVÃO

Usina de Candiota pode ser vendida até o final do ano

Durante entrevista coletiva on line, no encerramento do evento Investor Day Eletrobras, o CEO Wilson Pinto Ferreira Júnior, apesar de minimizar o fechamento, foi categórico em relação ao futuro da unidade

Unidade pertence a CGT Eletrosul, que é subsidiária da Eletrobras Foto: J. André TP

 

Uma grande expectativa se formou em torno das declarações que viriam após o evento denominado Investor Day Eletrobras, realizado no teatro da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), na última quarta-feira (12).

Na ocasião, a maior empresa de energia da América Latina, que foi privatizada em 2022, anunciou seus planos futuros estratégicos, sendo o principal deles, a descarbonização, ou seja, não ter mais em seu portfólio, usinas que usem combustíveis fósseis para produção de energia, como é o caso do carvão mineral. Justamente neste sentido que a expectativa era alta, especialmente na comunidade regional, pois a única unidade da Eletrobras que utiliza carvão é a Usina de Candiota (Fase C), sendo que havia e ainda há, muitas dúvidas sobre seu futuro.

O presidente da privatizada Eletrobras, Wilson Pinto Ferreira Júnior, confirmou em coletiva de imprensa on line, após o evento, as negociações para a venda da Usina de Candiota (Fase C).

O CEO da Eletrobras minimizou a possibilidade de fechamento da unidade, mas reafirmou a venda do ativo, como parte do projeto de descarbonizaçao que a ex-estatal quer fazer até 2030. “A decisão é de venda da usina. Não significa que vá ser fechada, pelo contrário. Hoje, usinas podem continuar funcionando oportunisticamente. Locais como o Rio Grande do Sul têm bastante volatilidade em relação ao clima, pode não ter água ou vento em algum momento, então pode ser necessário um complemento termelétrico. A UTE Pampa Sul vai continuar, assim como Candiota vai continuar, a questão é em que formato comercial. O carvão é uma matéria-prima importante para o Rio Grande do Sul”, disse o executivo.

Wilson ainda disse que a Fase C foi modernizada recentemente e tem vida útil para funcionar, pelo menos, até 2040. O presidente da Eletrobras lembrou que a exportação de energia para países próximos seria outra opção estratégica para a unidade.

O vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Elio Wolff, confirmou que há conversas em estágio avançado com potenciais compradores. Segundo ele, embora nenhuma tratativa tenha chegado à fase final até o momento, a expectativa é de que o negócio seja concluído ainda em 2023.

Lideranças de Candiota analisam situação

 

Após a declaração do manda-chuva da Eletrobras, o TP buscou algumas análises das lideranças locais em relação à situação.

O vereador Guilherme Barão (PDT), que preside a Comissão do Carvão na Câmara de Candiota, avalia como positivas as declarações. “A minha posição é bem clara, pois é preferível mil vezes vender do que fechar, mantendo a geração de energia, os empregos e os impostos. A gente sabe que no processo de privatização da Eletrobras, algo iria acontecer. Queríamos ela pública, mas infelizmente ela foi vendida. Agora, dos males o menor. Se fechasse a usina seria o caos”, disse.

Em conversa com o presidente e o diretor de Comunicação do Sindicato dos Mineiros de Candiota, Moisés Rodrigues e Hermelindo Ferreira, ambos analisaram que a entidade sempre lutou e se posicionou pela manutenção das empresas públicas e que a privatização da Eletrobras sempre foi olhada pelo Sindicato com muitas reservas e ressalvas. Contudo, eles enxergam, mesmo ainda não se sabendo ao certo o que vai acontecer, que o indicativo de não fechamento e a venda, pode ser uma alternativa viável, dentro deste cenário de continuidade do processo, mesmo existindo uma ação por parte do governo federal, que reivindica no Supremo Tribunal Federal (STF), que a União detenha não 8% do direito de voto no Conselho de Administração da Eletrobras e sim 43%, que é o número de ações que o Estado brasileiro possui na companhia. “Mas este é um cenário que não depende de nós e dentro do que há de concreto, a venda pode ser a única saída, pensando na cidade, na região, nos empregos e na manutenção da Usina e da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), que fornece o carvão”, destacam.

A vereadora Luana Vais (PT), que também integra a Comissão da Câmara de Candiota, assinalou que essa situação “infeliz” começou no governo de Jair Bolsonaro (PL), que, segundo ela vendeu “criminosamente” a Eletrobras, alterando o estatuto de forma que o governo federal mesmo com 43% das ações tenha só 8% de poder de voto. “Tirou a soberania energética do Brasil e o atual presidente da Eletrobras só está finalizando o que Bolsonaro iniciou. Nosso governo Lula assim que assumiu tomou várias medidas para reverter a privatização, inclusive aguardamos com muita esperança um parecer/liminar do STF revendo esse crime que Bolsonaro causou à Pátria. Eu digo sempre que essa culpa eu não carrego nem os deputados do PT, mas é sempre bom lembrar que muitas lideranças aqui da região apoiaram e votaram favoráveis à esse absurdo. Entendo que manter o patrimônio público é assegurar a soberania, assegurar compromissos sociais com a comunidade e com o desenvolvimento. Seguimos na luta pela lei de Transição Energética Justa, pois sabemos e temos consciência que é melhor uma Fase C privada, mas em funcionamento, do que fechada e gerando o caos em Candiota e região”, pontua.

A diretora do Sindicato dos Eletricitários do RS (Senergisul), Cristina Gonzales, que esteve, inclusive em frente a B3 esta semana, protestando contra as medidas anunciadas pela Eletrobras, assinalou que a venda não é boa para o conjunto dos trabalhadores e da sociedade. “Ficaremos nas mãos do mercado e a geração intermitente da usina, de forma ocasional, vai comprometer também a CRM. Isso vai ser bom para os empregos? É o fim da segurança energética, pois em caso de colapso, crise hídrica, ou apagão, quero ver ter que comprar energia térmica no mercado. A que preço? Hoje temos térmicas que ainda pertencem ao governo. Muitos comemoram pensando que os castigados são os concursados, quando na real é toda a sociedade brasileira. O interessante é a Usina de Candota continuar na Eletrobras, pelo menos até que se resolva esta questão que está no STF. Ela fazendo parte do Sistema Interligado Nacional (SIN), como é agora, é o que nos dá a certeza de sempre ter a energia, a segurança de fornecimento e preço. Muito temeroso deixar nas mãos do mercado financeiro”, avalia.

O TP tentou contato com o prefeito Luiz Carlos Folador, porém ele enfrentou problemas técnicos em seu telefone celular nos últimos dias. Para o portal GZH, ele disse que recebeu o anúncio da Eletrobras com prudência. Para Folador, o fundamental agora é garantir a operação da usina a partir de 2024, quando se encerram os atuais contratos de venda de energia. “É preciso manter a cautela. Estamos trabalhando para manter a usina operando. A notícia é boa, significa que não vai fechar”, comentou.

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

Comentários do Facebook