HABITAÇÃO

Venda de terrenos leva prefeito atual e ex-prefeito à Câmara de Candiota

Certa polêmica se formou em torno da comercialização de 89 terrenos em loteamento urbano da cidade

Área, localizada nos fundos do Residencial Viver Melhor, na sede do município, já tem os terrenos com matrículas em cartório, porém sem infraestrutura e a divisão dos lotes Foto: J. André TP

Há um bom tempo o tema da venda de 89 terrenos na sede do município (Loteamento Viver Melhor 2) vem sendo debatido na Câmara de Candiota. A pendenga levou nos últimos dias, o atual prefeito Luiz Carlos Folador (MDB) e o ex-prefeito Adriano dos Santos (PT), a darem explicações no Legislativo.
Para tentar dirimir dúvidas e polêmicas, primeiramente, os vereadores Guilherme Barão (PDT), Luana Vais (PT) e Léo Lopes (PTB) convocaram uma audiência pública. Os terrenos foram vendidos após a realização de um sorteio em agosto 2020, sendo que pelo projeto aprovado na Câmara na ocasião, os recursos arrecadados com as vendas devem que ser empregados na infraestrutura da área – legalização, arruamento, saneamento básico (água e esgoto) e energia elétrica.
Na audiência pública realizada no último dia 16 de março, o vereador Guilherme esclareceu que diversas famílias contempladas estavam reclamando que não conseguem iniciar as obras de suas moradias no local porque falta o mínino, como abertura de ruas, sendo este o principal gargalo. Presentes na audiência, o prefeito Folador e o secretário de Administração e Finanças, José Carlos Granato, deram explicações sobre o assunto.
O primeiro a falar foi o secretário Granato, que expôs os recursos presentes numa conta bancária do Banco do Brasil, chamada Terrenos. Ele não foi literal, mas deixou a entender que os pagamentos efetuados com recursos desta conta na gestão anterior tiveram desvio de finalidade, ou seja, não foram usados para infraestrutura dos terrenos. Segundo ele, a conta tinha um saldo de R$ 1.081.073,31 em 2020, citando uma série de empresas que foram pagas com os recursos, além de um financiamento de caminhões, totalizando em pagamentos R$ 1.035.323,00.Granato assinalou que atualmente a conta possui um saldo de R$ 62 mil.
Em sua fala, o prefeito Folador questionou o fato dos 89 terrenos terem sido vendidos apenas no último ano do mandato anterior, indagando porque nos três anos anteriores isso não havia sido feito. O prefeito destacou que neste momento a prioridade do governo, pela falta de recursos, é primeiro acertar os terrenos vendidos na João Emílio e depois da rua G e campo do Vila Airton (sede do município). Folador prometeu que a infraestrutura dos 89 terrenos será realizada, porém não deu um prazo. “Estamos tratando a questão com muita responsabilidade porque ali o furo é mais embaixo, pois precisa de toda a infraestrutura. As pessoas não serão penalizadas, mas não vamos fazer um paliativo apenas, como abrir ruas. Vamos fazer tudo o que precisa fazer”, assinalou.
Folador ainda lembrou que durante a suas duas primeiras gestões (2009-2016), foram realizados os dois maiores projetos habitacionais da história do município, inclusive com toda a infraestrutura necessária, além das casas: Viver Melhor e Residencial Candiota.
A vereadora Luana Vais pediu a conciliação bancária da conta citada pelo secretário de Finanças, afirmando que os mais de R$ 1 milhão arrecadados não eram apenas dos 89 terrenos e sim de vários imóveis vendidos pelo Executivo, inclusive em governos anteriores à gestão 2017-2020.

FINANCIAMENTO – Durante a audiência pública, o vereador Guilherme lembrou que o governo anterior havia tentado aprovar um financiamento de R$ 1,25 milhão junto à Caixa Federal para ser usado em infraestrutura de loteamentos, porém, segundo ele, parte dos vereadores da legislatura anterior deixaram o projeto trancado nas comissões técnicas, fazendo com o recurso fosse perdido.
O prefeito Folador confirmou que agora já não existe mais esse recurso à disposição na Caixa Federal.

ADRIANO – Em espaço na tribuna livre pedido pela vereadora Luana, o ex-prefeito Adriano dos Santos compareceu à Câmara na última segunda-feira para falar do assunto. Adriano respondeu a Folador sobre só ter feito a venda de terrenos no último ano, porque, segundo ele, durante os três primeiros anos, foi tentado encaminhar projetos habitacionais junto ao governo federal, porém, nas palavras do ex-prefeito, o programa Minha Casa, Minha Vida foi desmantelado. “Assim, resolvemos fazer o repasse direto de terrenos para que as pessoas mesmo fizessem suas casas”, explicou.
Sobre a conta bancária e os recursos arrecadados, Adriano salientou que não houve desvio de finalidade como ficou entendido na audiência pública. Conforme explicou, os R$ 1.035.326,86 citados pelo secretário Granato não foram da venda apenas dos 89 terrenos do Viver Melhor 2 e sim de vários outros imóveis. Ele disse que 46 moradores efetuaram pagamentos de entradas dos terrenos em questão, totalizando menos de R$ 200 mil. O ex-prefeito explicou que apenas o projeto do loteamento tinha como exigência que os recursos arrecadados fossem utilizados na infraestrutura e, de acordo com Adriano, eles foram, quando a Prefeitura empregou cerca de R$ 220 mil (mais que o arrecadado) no georreferenciamento e na inscrição de matrículas junto ao cartório de imóveis em Bagé. “Além disso, o restante dos recursos que estavam na conta, usamos para calçamento e estradas no interior, entre outras finalidades, todas elas documentadas e com respectivas licitações”, afirmou.
Adriano lamentou a não aprovação do financiamento junto à Caixa, o que segundo ele, permitiria até nem cobrar os terrenos das pessoas. Por fim ainda, disse que o seu governo fez o que estava dentro de seu alcance, como por exemplo a regularização com as matriculas e que agora espera e tem certeza, que o atual governo dará continuidade, fazendo a infraestrutura necessária. “O que não pode é criminalizar um projeto que pretende dar dignidade para as pessoas, que é ter uma moradia”, salientou.

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