A Comparsa da Canção Nativa de Pinheiro Machado, como o próprio nome recomenda, está intimamente ligada à ovinocultura e nasceu em 1985 em meio a segunda edição da Festa e Feira Estadual da Ovelha (Feovelha), que havia sido lançada um ano antes. De origem espanhola, a palavra comparsa (compañero – companheiro em português) significa no contexto rural, a reunião de peões para a esquila (tosa ou corte) da lã de ovelhas.
Sem ser realizado desde 2014, o festival foi retomado no ano passado, ou seja, após uma década de paralisação. A volta contou com recursos da Lei de Incentivo à Cultura (LIC), do governo do Estado e da Lei Rouanet, do governo federal.
Segundo consta, por um desacordo sobre valores entre a Prefeitura (promotora da Comparsa) e o Sindicato Rural (promotor da Feovelha), o evento da retomada em 2024 não foi realizado, como tradicionalmente aconteceu em suas 27 edições anteriores, dentro do Parque Charrua. O festival, ineditamente, ocorreu então no pátio do CCTG Lila Alves, que fica próximo ao parque.
Agora em 2025, tudo indicava para a volta às origens. Entretanto, novamente a Comparsa (29ª edição) ocorreu no mesmo lugar do ano passado, em paralelo à Feovelha (41ª edição). Grandes shows artísticos ocorreram em ambos os eventos e nos mesmos dias (31 de janeiro e 1º de fevereiro), dividindo o público.
PEDIDO NA CÂMARA
O vereador Renato Rodrigues (PSDB), durante a sessão da Câmara dentro da Feovelha, ocorrida no dia 31 de janeiro (que também é uma tradição), pediu que os eventos voltem a acontecer juntos no Parque Charrua, quando foi aplaudido pelos presentes. “Porque a Comparsa sempre foi daqui da Feovelha. Eventos separados, porque hoje temos dois eventos, um lá e outro aqui”, disse.

Parada há 10 anos, Comparsa foi retomada
em 2024 e agora em 2025 novamente
foi realizada fora do Parque Charrua, nas dependências do CCTG Lila Alves Foto: Divulgação TP
BANDEIRA NÚMERO UM
Após a fala do vereador, o presidente do Sindicato Rural, que fazia parte da mesa da sessão, pediu a palavra, dizendo que o pronunciamento de Renato era muito válido. Destacando ser oriundo das primeiras Feovelhas e Comparsas, Paulinho Alves disse que quando ele se elegeu para presidir a entidade, a bandeira número um era os dois eventos juntos no Parque Charrua e que, segundo ele, o prefeito Ronaldo Madruga em sua posse garantiu isso. “A Comparsa só não está aqui porque o prefeito não quis. Se dependesse da nossa diretoria ela estaria aqui junto conosco. Quero deixar esse registro para não deixar nenhum mal entendido. Se Deus quiser ela no futuro voltará para cá e peço o apoio dos vereadores que tentem sensibilizar o prefeito, porque a Comparsa é junto com nossa Feovelha e dentro do Parque Charrua”, disse.
GRATIDÃO
O TP entrou em contato com o prefeito Ronaldo para comentar a situação, bem como, explicar a realização do festival no CCTG e não no parque. Ele relembrou que em 2024, o Sindicato Rural cobrou R$ 80 mil da Prefeitura para fazer o festival no Parque Charrua, sendo que o Lila Alves então foi quem abriu as portas e não cobraram nada. “Naquele ano eu me comprometi com eles, que a próxima Comparsa (a de 2025) seria novamente lá. Eu cumpri a minha palavra. Então não é que eu não quis. A minha conduta, o meu princípio moral e minhas virtudes, não me deixaram que acontecesse no Sindicato. O meu sentimento de gratidão foi mais alto com o CCTG. Então é isso e a gente tem que colocar a verdade para as pessoas”, disse.
Sobre a fala de Paulinho que o prefeito teria prometido na posse da nova diretoria do Sindicato Rural (ocorrida em junho do ano passado) que iria realizar o festival em 2025 na Feovelha, o prefeito rebateu. Ronaldo disse que durante a posse, foi Paulinho quem apontou que seria na Feovelha, fosse ou não da vontade do prefeito. “Eu fiquei quieto e constrangido com a fala”, lembrando que após, numa reunião com a presença da direção do Lila Alves, Paulinho ofereceu a copa da Comparsa para a entidade, mas não foi aceito, quando foi expressada, segundo Ronaldo, a vontade da direção da entidade tradicionalista na realização novamente nas dependências do CCTG.
SEM PREJUÍZO
Dizendo que é uma decisão de gestores e que tanto Feovelha como Comparsa foram ótimos eventos em 2025, Ronaldo entende que é uma tradição, mas não vê prejuízo em serem separados. “Quem organizar que tome a frente e faça diferente. Nunca houve movimento em 10 anos para que a Comparsa fosse retomada. Nós retomamos e agora um evento de grande sucesso e cheio de críticas, que eu não levo muito a frente”, disse.
Sobre a realização da histórica Comparsa de 2026, quando o festival completará sua 30ª edição, Ronaldo não cravou onde ela será realizada. “Se o evento tiver que ser feito no CCTG ou no Parque Charrua, será. Eu não me curvo para vaias ou aplausos. Vou sempre cumprir com a lei, a minha palavra é gratidão”, acenando que a organização da 30ª edição terá a frente a vice-prefeita Laura Ratto.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO