CHUVAS RS

Voluntários de Candiota relatam cenário de destruição visto na cidade de Encantado após a enchente

Grupo se deslocou na noite do último dia 31, para ajudar de alguma forma na limpeza das residências afetadas

O grupo formado por 19 pessoas viajou cerca de 8 horas até chegar na cidade Foto: Divulgação TP

Lama por todo o lado, casas destruídas, famílias que perderam tudo e um cenário de filme de terror, estas são algumas das palavras utilizadas pelo grupo de voluntários que saiu de Candiota no último dia 31 de maio, e viajou até a cidade de Encantado para tentar de alguma forma auxiliar na limpeza das residências que foram alvo, mais uma vez, das águas no Vale do Taquari.

A ideia de juntar uma turma para ir ajudar, foi da agente de Saúde do município, Jaqueline Lunkes e do seu esposo, Jonnie Andrade Menezes. Eles estiveram na cidade cerca de duas semanas depois da enchente, após estarem no sofá de casa assistindo o Fantástico, da TV Globo, e verem o estado das cidades atingidas. “Quando acabou, nos olhamos e eu disse pra ele que precisávamos fazer alguma coisa, e ele concordou na hora”, relembrou ela, dizendo que na primeira ida tiveram a companhia da amiga e colega de profissão, Fernanda Viana e do cunhado, Brenno Menezes.

Sobre terem escolhido Encantado para ajudar, Jaqueline explicou que não conseguiriam chegar até a região Metropolitana, em razão dos acessos. Além disso, ela mencionou que os pais de uma amiga estão morando na cidade, e muito se ouviu falar em Roca Sales que fica antes do município, mas muito pouco de Encantado. “Achei que lá teria pouca ajuda. Por esses motivos, a escolha”.

 

CHEGANDO À CIDADE

Nesta casa, uma árvore e um sofá foram parar no telhado da residência, mostrando a altura e força da água Foto: Divulgação TP

O grupo composto por 19 pessoas saiu de Candiota por volta das 23h, e levou em torno de 8 horas para chegar até o destino final. Segundo ela, a partir de Lajeado já foi possível avistar a destruição, e “olhando para o horizonte não se vê um cantinho verde, é tudo tomado pelo lodo.”

Chegando lá, o grupo foi destinado para uma rua específica em um trabalho que durou cerca de nove horas, onde conseguiram ajudar em três casas, sendo que nenhuma ficou totalmente limpa. Segundo a agente de Saúde, é muita lama e parece não ter fim. “Ainda vão muitos meses pra ficar tudo realmente limpo”, afirmou ela, contando que o grupo teve pouco descanso por opção, pois todos queriam seguir trabalhando para conseguir fazer o máximo possível antes do retorno para Candiota, que aconteceu no fim do dia.

Sobre a parte mais difícil, ela respondeu que foi remover os mais de 50 centímetros de lodo compactado dentro dos cômodos das casas, um trabalho que parece não ter fim, segundo a voluntária. “Os moradores estão esgotados, além de psicologicamente, fisicamente também. A gente vai lá um, dois dias e volta pra nossa casa limpa e organizada para descansar. Eles dormem e acordam naquele horror há mais de mês, e pela terceira vez em pouco menos de um ano”, relatou, dizendo que todos são muito gratos aos voluntários, pois sem eles, não é possível saber o que seria das pessoas que foram atingidas pela enchente. “Eu digo e repito, eles precisam de muita ajuda, por muito tempo ainda. Vamos ajudar, é essencial”, reforçou.

 

VOLUNTARIADO

As ruas da cidade que é turística, principalmente em razão do Cristo Protetor, hoje retratam tristeza e destruíção Foto: Divulgação TP

Em conversa com um dos voluntários de Candiota, Bruno Veleda, ele transmitiu que realmente a cena é devastadora e em alguns momentos pensou que estava em um filme de terror. O primeiro contato que tiveram com os moradores, foi em um espaço organizado para receber as doações de alimentos e também para preparar a alimentação dos voluntários. “Chegamos lá e já havia equipes de outras cidades, que também foram ajudar. Nesse local, já começaram os relatos das pessoas, que informaram, inclusive, que aquele espaço também tinha sido atingido pela água”, contou.

Logo em seguida, o grupo foi para a rua destinada e o sentimento de Bruno, e sem dúvidas dos demais, foi de muita tristeza. “A cena é impactante, ainda mais pra mim que nunca havia tido contato com algo desse tipo, pois aqui na nossa região nunca tivemos uma catástrofe desse nível. Então o primeiro contato já dá espanto, porque é um cenário de filme de terror”, registrou, contando também que foi muito triste encontrar brinquedos destruídos em meio a sujeira, ainda mais para quem tem filhos, como é o caso dele, ou crianças próximas.

Sobre o trabalho realizado, ele disse que a equipe foi muito prestativa, que todos estavam alinhados e com muita vontade de ajudar as famílias. “Desde o início eu queria tentar ajudar de alguma forma, mas não tinha conseguido uma oportunidade, e deixar a nossa rotina para ir ajudar não é tão fácil como parece, todos temos obrigações e trabalho. Então, essa oportunidade foi única e prestar solidariedade nesse momento que o pessoal está passando, é de ficar muito impactado, e fazer o mínimo possível já te consola de alguma forma”, concluiu.

A moradora de Encantado, Angélica Teló, contou que a casa onde mora com a família não foi atingida, mas que da sua sogra sim, e não tem mais como morar, pois saiu do lugar. Ainda, ela relatou que muitos bairros da cidade estão destruídos, assim como as residências. “A água atingiu os mesmos das outras vezes, só que em uma proporção muito maior. Mais barro, mais destruição e a água estava com muita força e velocidade”, informou, mencionando que a água do rio subiu e desceu umas três vezes, mas em alguns momentos passou de 1 metro de altura.

Em relação aos grupos de voluntários, ela disse que a cidade está recebendo vários, e que além de Candiota já receberam pessoas de Erechim, Marau, Passo Fundo, Planalto, Parai, Campestre da Serra, Anta Gorda, Nova Bréscia, Guaporé, Caxias do Sul, Vacaria, Rondinha e de cidades do Mato Grosso do Sul, como Dourados e Sidrolândia. Ao ser perguntada se muitas pessoas estão indo embora do município, ela respondeu que sim, pois muitas perderam suas casas e não tem outro lugar para ficar, nem mesmo de aluguel.

A turma candiotense recebeu apoio da comunidade local com materiais de limpeza, e da Prefeitura Municipal com o transporte. “No momento é preciso ir com pá, carrinho de mão e materiais para o trabalho mais pesado, pois rodo, vassoura e pano, por exemplo, vai demorar muito ainda para ser utilizado”, destacou Jaqueline, ressaltando que pretende organizar mais idas até a cidade, pois só assim o Estado vai conseguir se reerguer, tendo a ajuda de todos.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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