O golpe da propina, a que seria entregue.
Há coisas que raras pessoas rejeitariam, um cargo de ministro e uma indicação ao Supremo Tribunal Federal parecem de bom tamanho para qualquer advogado. Se cada homem tem seu preço, Bolsonaro chegou ao preço do juiz de primeira instância de um Tribunal de Curitiba, que havia tirado Lula da disputa presidencial, usando, para este fim, de todos os instrumentos legais e ilegais possíveis. Alguém acredita que Moro largou a carreira sem a promessa da indicação ao Supremo Tribunal Federal?
Bolsonaro não é flor que se cheire, qualquer um sabe. Abduziu o agora ex-juiz entregando, de imediato, um cargo de ministro, mas pretendia manter o mesmo até o final do mandato sob controle. A segunda parte da propina prometida pelos bons serviços prestados seria entregue, talvez, mas não neste final de ano, como queria Sérgio Moro. Agora vai um “terrivelmente evangélico”, como disse o presidente. Objetivamente, Bolsonaro e seus filhos estão a salvo do intempestivo juiz da lava-jato, chamuscado pela vaza-jato.
Sérgio Moro se deu conta de que caiu no golpe da propina. Com pesquisas que o apontam como candidato viável a presidente, pediu as contas com um argumento discutível, não aceitar a demissão de um diretor da polícia federal que faz tempo que queria deixar o cargo. Saiu atirando no agora ex-chefe que gosta de apontar dedinho.
Moro pretende um impeachment. De tirar candidato da disputa no “tapetão” ele entende. Por enquanto, saiu como um “marreco de Maringá”, como é chamado por muitos.
O presidente, que insiste em fazer de conta que a fantasia do coronavirus se transformou numa gripezinha e passeia por aí dando exemplos de como não devemos nos comportar diante do risco, em poucos dias trocou quem os do povo consideravam seus mais bem avaliados ministros, Luiz Henrique Mandetta, da saúde, e Sérgio Moro, da justiça e segurança pública. Por alguns momentos conseguiu tirar o foco de milhares de mortes reconhecidas com interferência do coronavírus. E correu para o Centrão, que seu mandato está correndo risco de ser encurtado, pelas vias da Lei. Elementos existem bem além das corriqueiras pedaladas da Dilma.
Porém, o Centrão é formado por um grupo amplo de deputados de vários partidos que não cairão em contos de fadas. Poderão ser comprados, talvez nem exijam muito neste momento, mas a propina (a mais comum é a liberação de emendas parlamentares) terá de ser paga antes e durante, e quem ficará sob controle, até o final do mandato, será o presidente.