
Cartazes usados na manifestação foram colocados na cerca em frente à escola Dario Lassance Foto: Divulgação
A última segunda-feira (5), foi de pânico e apreensão em Candiota. Numa área central da cidade, quase junto à praça e em frente à escola Dario Lassance, uma mulher de 33 anos foi alvejada por disparos de arma de fogo (veja matéria completa AQUI). Nesta semana também ocorreu a morte de uma mulher de 55 anos, que pode apontar (ainda está em investigação) para mais um feminicídio em Bagé.
MANIFESTAÇÕES
A situação trágica despertou o debate e a mobilização da sociedade candiotense em torno da violência contra as mulheres, que no Brasil e no RS ainda é uma chaga aberta e de difícil solução. Uma manifestação pelas ruas da cidade já acontece na tarde de quarta-feira (7), mobilizando os estudantes, a direção, professores e funcionários da escola Dario Lassance, que sofreu um impacto psicológico grande em função do episódio ter ocorrido nas imediações do educandário. Em silêncio e portando cartazes pedindo paz, justiça e o fim da violência de gênero, a manifestação percorreu as ruas centrais da sede do município.
Já para este sábado (10), duas manifestações estão programadas para ocorrer. Uma puxada pela Secretaria da Mulher, LGBTQIAPN+ e Igualdade Racial, com o apoio do gabinete da vereadora Hulda Alves e outra por um grupo de mulheres da cidade, de forma autônoma.
A manifestação organizada pelo poder público está marcada para as 9h da manhã, com concentração e saída marcadas para acontecer em frente à Prefeitura, até a praça central da cidade. A secretária Juliana Baumhardt falou sobre a organização da caminhada e solicitou aos participantes que, se possível, utilizem roupas na cor preta. “Já temos a confirmação da Brigada Militar, Maria da Penha e também estendemos o convite à Delegacia da Mulher, que estamos aguardando o retorno. É muito importante que o máximo de pessoas participem independente de bandeira partidária, pois a bandeira suprema é da dignidade da pessoa humana, pois precisamos mostrar união e lutar pelo fim da violência contra as mulheres”, manifestou a secretária.
A outra manifestação, denominada ‘Caminhada pela vida das mulheres’, está marcada para à tarde. Ela não possui uma liderança específica e partiu de uma organização autônoma de mulheres da cidade, que se organizaram num grupo de WhatsApp e pelas redes sociais. O protesto, que será silencioso, segundo o TP apurou, também será de uma caminhada com cartazes e faixas, partindo às 16h da frente da Delegacia local também em direção à praça central. “Em memória das que se foram, em apoio às que resistem e em defesa de um futuro onde nenhuma mulher seja vítima do machismo, do controle e da brutalidade. O feminicídio não é um caso isolado – é consequência de uma cultura que precisa mudar. Cada passo nosso ecoa por justiça, por liberdade, por dignidade. Vamos às ruas dizer: Nossas vidas importam. Nossos corpos não são alvos. Queremos viver! Junte-se a nós. Caminhar é um ato de coragem. E resistir, um compromisso com a vida”, assinala o texto convocatório do evento.
VIOLÊNCIA NO BR, RS E CANDIOTA
De acordo com a 10ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado, 30% das brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. Estados como Rio de Janeiro (36%), Rondônia (37%) e Amazonas (38%) apresentaram índices superiores à média nacional, indicando variações regionais significativas que necessitam de abordagens específicas.
Em 2024, o Brasil registrou uma redução de 5,1% nos casos de feminicídio em relação a 2023, conforme dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). Até outubro de 2024, foram comunicadas 1.128 mortes por feminicídio. Embora essa diminuição seja um indicativo positivo, o número absoluto de casos ainda é alarmante, ressaltando a necessidade de intensificar medidas preventivas e de proteção às mulheres.
No Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-RS), em 2024, os casos de Maria da Penha (enquadrados dentro da lei federal 11.340/2006), entre feminicídio tentado (que foi o caso de Candiota), feminicídio consumado, ameaça, estupro e lesão corporal, foram registrados 52.727 registros. Foram mortas (feminicídio consumado) 72 mulheres e na forma tentada foram 275 ocorrências. Houve diminuição em termos gerais de registros de 2023 para 2024 de 3.657 casos (redução de 6,5%). No caso de mulheres mortas, a queda foi de 15,2% de um ano para outro. Em 2025, até março (último mês atualizado), o RS já registrou 14.446 ocorrências, sendo 17 mortes e 83 tentativas.
Em Candiota, sempre segundo os dados da SSP-RS, em 2023 houve registros de 27 ameaças, um estupro e 15 de lesão corporal. Neste ano não houve ocorrências de feminicídios (nem consumado e nem tentado). Já em 2024, houve registro de um feminicídio tentado, 15 ameaças, quatro estupros e 16 lesões corporais. Em 2025, até março, os registros são de cinco ameaças e uma lesão corporal. A tentativa de feminicídio da última segunda (5), ainda não está nas estatísticas da SSP-RS deste ano.
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