A PEDIDO

Carta de Cacimbinhas

O Grupo de Estudos Históricos Odil Peraça Dutra Pró-memória de Cacimbinhas, voluntário, independente, sem fins lucrativos e voltado para a preservação histórica, realizou seu I Seminário em 28 de abril passado, no Clube Comercial, e esteve presente em diversas outras iniciativas integrantes das comemorações do 147º aniversário do nosso município, nos dias subsequentes.

Por essa intensa participação, que se origina do momento de sua criação, em 13 de agosto de 2024, se estende à atualidade e foi particularmente desenvolvida de 28 a 30 de abril junto à Loja Maçônica Luz e Ordem II, à Câmara de Vereadores, à rede pública estadual e municipal de Ensino Médio e à Creche Pinheirinho, o GEHOPD sente-se no dever de dirigir-se à comunidade, para expressar a presente I Carta de Cacimbinhas, divididas nos itens a seguir:

I. Como comunidade, precisamos reconhecer a importância e o valor histórico de nosso município, um dos mais antigos do Estado, em cujo território travaram-se batalhas pela fixação das fronteiras brasileiras, pelo movimento Farroupilha e em disputa a ideais antagônicos – finalmente pacificados no Pacto de Pedras Altas, em 1923.

II. Igualmente, devemos compreender e valorizar, tanto para nosso meio urbano quanto para o nosso meio rural, características próprias de um território que encerra entre seus limites a proximidade fronteiriça e a transição entre os ambientes litorâneos do Sudeste e o Pampiano, a Oeste, ambos intermediados pelas chamadas Serras do Sudeste – nelas incluídas a das Asperezas, a do Passarinho e a dos Velleda.

III. Essa condição geográfica cria para nosso município condições climáticas e ambientais próprias, capazes de enriquecer nossa flora e nossa fauna que, como tal, devem ser valorizadas.

IV. Na especificidade de nossa sede municipal, encontra-se um plano urbano coordenado e surgido de um sólido planejamento inicial, que remonta à fundação do município, com quadras regulares cercadas por construções expressivas e de variado estilo, em ruas pavimentadas predominantemente em paralelepípedos graníticos, constituindo um conjunto arquitetônico representativo de diversas épocas, a partir da primeira metade do século XIX.

V. Na especificidade rural do município, encontram-se sedes de propriedades mais do que centenárias, diversificadas culturas agropecuárias, sítios de valor histórico como acima já referidos, e uma bacia hidrográfica composta pelo Rio Camaquã, cortando a totalidade de seu limite Norte num curso de integração regional de três dezenas de municípios, e uma série de arroios espalhada por todos os seus pontos cardeais.

VI. Os itens acima apontados expõem um território de significativo valor histórico, que se acentua, ainda, pela ocupação humana, a envolver dos povos originários aos colonizadores europeus, especialmente os ibéricos envolvidos no Tratado de Santo Ildefonso (1777), seguidos pelos africanos trazidos ao Brasil à força, pelos alemães e italianos, atraídos pela promessa de terras, e mais recentemente pelos asiáticos.

VII. Nossa trajetória quase sesquicentenária, tomando-se como ponto de partida a emancipação política a Piratini, em 2 de maio de 1878, diversas personalidades deram e continuam a dar imensa contribuição, por iniciativas que conformaram a sociedade cacimbinhense: homens e mulheres de expressiva contribuição pública, nos meios públicos e privados, na Prefeitura e na Câmara, nas empresas e entidades representativas. São nossos vultos históricos, condutores de exemplos de vida. Relembrá-los, dar luz aos seus ensinamentos, é um resgate que se faz necessário.

VIII. Da mesma forma, temos na população anônima uma fonte inesgotável de conhecimento para o qual é preciso dar atenção. São práticas profissionais que ainda que hoje obsoletas, foram importantes na formação de nossa realidade passada. Também são práticas profissionais inovadoras, embora nem sempre substitutas das anteriores, igualmente merecedoras da devida compreensão.

IX. É para esse valor histórico, composto por território, solo, subsolo, flora, fauna, curso hídrico, ocupação humana e arquitetura, que o GEHOPD chama a atenção da comunidade e de seus representantes na vida pública e privada: é preciso conhecer nossa história e a história de nossa gente, assim como a riqueza real e potencial de nosso território. Conhecer para preservar a história e tê-la como base para o desenvolvimento social, cultural e econômico. Conhecer e preservar, educando as novas gerações, para que se orgulhem da história em construção por seus antepassados e que, em breve, estará também sob sua responsabilidade.

X. Para tanto, e de pronto colocando-se à disposição para cumprir com sua vocação nessa justa aspiração, o GEHOPD defende que se implante no Município uma política pública de Cultura e Preservação, por iniciativa dos poderes constituídos e participação das instâncias privadas de representação social, que espalhe conhecimento por meio dos canais competentes e assim orgulhe nossa população e estimule iniciativas de valorização da nossa história.

XI. Carta redigida pós Primeiro Seminário, realizado em 28 de abril de 2025.

Cacimbinhas, 4 de julho de 2025
147º ano da emancipação

CONTEÚDO PUBLICADO NO IMPRESSO

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