DIA DE LUTA

A busca pela inclusão começa pelo ensinamento familiar

O que você faz pela inclusão de pessoas com deficiência na sociedade?

Fabiana Viero atende pacientes de várias idades no CRA em Candiota Foto: Silvana Antunes TP

Neste sábado (21), é lembrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, instituído por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializado pela Lei Nº 11.133, de 14 de julho de 2005. A data foi escolhida para coincidir com o Dia da Árvore, representando o nascimento das reivindicações de cidadania e participação em igualdade de condições.

Constantemente discussões acontecem sobre o tema, visando disseminar o preconceito e melhorar as políticas públicas para Pessoas Com Deficiência, os PCDs. Mas na prática, isso acontece de fato? O Tribuna do Pampa conversou nesta semana com a fisioterapeuta Fabiana Viero, que também é diretora do Centro de Reabilitação e Apoio (CRA) de Candiota, para falar sobre a data. Ela disse considerar as datas importantes por ser um momento de debate, mas ressaltou que ainda há falta de resultados posteriores. “Tu faz o debate, participam geralmente as mesmas pessoas que possuem ligação com a área, mas não resulta em ações mais efetivas. Não vejo isso acontecer. Sempre que a gente começa a falar da questão da deficiência, a primeira coisa que a pessoa se remete sempre é do cadeirante e de uma acessibilidade arquitetônica, como ter rampas nas portas, de acesso, corrimão. Mas não é só isso, é muito mais amplo, cada pessoa tem sua dificuldade, uns mais físico, outros mais mental. Hoje temos muitos transtornos que entram dentro das deficiências, porque tem uma série de situações como o caso do autismo. As vezes há um problema motor e o cognitivo totalmente preservado, em outros ao contrário, são várias situações que não permite que se generalize”, explicou.

 

ESCOLA E FAMÍLIA

Em roda de conversa com a reportagem do jornal, Fabiana expôs a importância e necessidade de ações e trabalhos com a família da pessoa com deficiência e comunidade escolar, principalmente. “Tu vai fazer as adaptações para aquela pessoa. Por exemplo um deficiente auditivo, vai usar linguagem de sinais para alfabetizar, mas o restante da família vai saber se comunicar? Ele vai estar inserido na escola e no grupo de amigos? Os outros alunos vão saber se comunicar com o colega deficiente auditivo? O primeiro passo sempre de trabalho vai ser a família, o ensino do filho ou filha da existência das diferenças em casa, mas é importante uma participação escolar nesse processo. Tem coisas que o deficiente vai saber fazer e outras não, assim como qualquer criança ou pessoa ‘dita normal’, mas ninguém tem que saber fazer tudo nessa vida, isso é uma perfeição que não existe”, ponderou a fisioterapeuta.

 

O QUE FAZER?

Solicitada pelo TP a falar de que forma uma pessoa com deficiência pode ser auxiliada, Fabiana diz que em primeiro lugar é necessário olhar de forma mais aberta, facilitar as coisas porque perfeição não existe. “Tu tem que facilitar pras pessoas que tem um prejuízo em alguma situação de estarem dentro de um contexto. Se uma pessoa tem alguma deficiência, mas consegue atuar em determinado setor, qual o problema? Nenhum. Os deficientes devem ser olhados como pessoas que tem limitações. Claro que antigamente não fomos educados nesse contexto, era um pra cada lado dentro da sala de aula, os inteligentes e os ‘burros’ – nomenclatura usada. Mas hoje se sabe que a criança possa ter deficiência intelectual, ser disléxico. Uma pessoa cega, por exemplo, não quer que tu faça por ela, quer ser auxiliada. Basta chegar e perguntar de que forma pode ajudar. Isso é só um exemplo”, relatou a profissional.

 

COLOCAR EM PRÁTICA

Acerca das leis em benefício do público deficiente, Fabiana diz que há legislação que contemple uma infinidade de lei, assim como programas, porém ainda há necessidade da percepção de ações de forma prática. “Basta fazer uma pesquisa que é possível perceber leis para todos os tipos de deficiência, como por exemplo, o piso tátil para o deficiente visual, a rampa para o cadeirante, em fim. Precisamos ver essas leis saírem do papel, de forma mais efetiva e não por estar especificada como obrigatória, por ser importante para aquele público específico, precisamos mudar a cultura do pensamento e proporcionar funcionalidade de forma a melhor atender aquele que necessita do diferencial”, manifestou.

A importância das pequenas ações e conquistas diárias

Turma de assistidos do CRA com a profesora Estela Foto: Silvana Antunes TP

No CRA de Candiota há atendimentos especializados em diversas áreas que buscam além da reabilitação, a melhor qualidade de vida e desenvolvimento do assistido com atividades diversificadas. Bem trabalhadas, seja a curto ou longo prazo, alcançam grandes conquistas.

Durante a visita do jornal, a aula de arte com a professora Estela Domingues, trabalhava a turma com cartas, fazendo conexões de emoções, estímulos e cores, entre outros pontos específicos, contribuindo para o raciocínio e desenvolvimento de habilidades, que vão desde o conseguir realizar o próprio cuidado pessoal, até tarefas caseiras e que quando realizadas se tornam grandes feitos.

Você conhece alguns assistidos do CRA? Conheça a turma abaixo:

Márcia, 24 anos – “Gosto de jogar no celular, pintar um livro de mandalas e ajudo minha mãe em casa lavando a louça e arrumando meu guarda-roupas. Estou aprendendo inglês por aplicativo. Meu pé é torto, tenho problema de equilíbrio, mas consigo fazer tudo como ninguém”.

Valéria, 12 anos – “Estudo aqui no CRA desde o dia que nasci. É bom ficar aqui pintando. Tenho dificuldade com meu braço, mas faço tudo, abro até tampa. Já sofri bullying e minha mãe me trocou de escola. Gosto de exercícios de educação física”.

Lucas Gabriel, 18 anos – “Estudo na escola Jerônimo Silveira, 3º ano do Ensino Médio. Estou no CRA desde o 1º ano do Fundamental. Gosto de estar aqui, fazer atividades, meditação. Tenho dificuldade na escrita, demoro para ler, estou sendo auxiliado. Gosto de ajudar em casa, lavar louça para minha mãe, arrumo a cama, o guarda-roupas, entre outras coisas”.

Fernando, 48 anos – “Fiz o primeiro grau em Pinheiro Machado e vim pra cá. Ajudo minha mãe, tenho uma habilidade que meu pai me ensinou, sou marceneiro”.

Alex – Tímido, não quis falar. Conhecido por ser muito organizado.

Tiago, 31 anos – “Estudei em Bagé, depois vim para Candiota e me formei na escola FARO. Gosto de desenhar, pintar. Sou reikiano desde 2017. Falo enrolado desde pequeno, meu problema é comunicação e com computadores”.

Flávio – “Já estudei em Seival e me formei na Escola Neli Betemps. Gosto de ajudar a mãe em casa, lavar a louça e a área. Gosto também de ajudar minha vó. Minha deficiência é na cabeça”.

Taís – “Me formei no Ensino Médio em 2023 e estou fazendo faculdade de Pedagogia em Bagé. Faço atividades no CRA, ajudo a mãe em casa com roupa e louça. A faculdade é com dificuldade, mas to indo bem. Fiz Enem com prova diferenciada”.

Lucas, 22 anos – “Estudei em Seival e estou no CRA. Arrumo a cama e ajudo minha mãe com a louça”.

Jamerson, 30 anos – “Minha dificuldade foi não ter aprendido a ler e escrever, demais faço tudo. Moro sozinho, capino pátio, faço casinha de cachorro, poda de árvore, faço de tudo”.

Veridiane – “Tenho uma irmãzinha que ajudo a cuidar. arrumo minha cama, ajudo minha mãe”.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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