A mim ninguém me enrola

O que esteve em destaque no noticiário nacional esta semana foi a PEC que autoriza o governo a abrir um crédito de R$ 41,2 bilhões de reais para fazer algumas “bondades” em véspera das eleições. A maior parte da oposição votou a favor no Senado e deve votar a favor na Câmara por dois motivos principais, vai perder se votar contra e em se tratando do governo Bolsonaro o que der para tirar, se tira.
Os servidores públicos federais terão um governo inteiro sem reajuste salarial. Se pudessem, tirariam qualquer negócio.
Como poucos sabem o que são R$ 41,2 bilhões, fui fazer matemática para tentar entender. Isto dá menos de R$ 200,00 por habitante. Será que dá para comprar uma eleição com R$ 200,00 por habitante? Acho que não, mas nunca se sabe.
PEC das Bondades, PEC dos Auxílios, PEC Kamikaze, PEC Eleitoral, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), é algo que não tenho lembrança na história do Brasil de ser feita em véspera das eleições, até porque Constituição Federal deveria ser coisa séria e não ser alterada em cima da perna em momento algum por estes anjos que ocupam o Congresso Nacional, Câmara e Senado. Sim, cada um vota pensando nos seus votos, antes de pensar nos votos para presidente.
A mim ninguém me enrola, diria Ariano Suassuna.
Esta PEC beneficia alguns, mas não beneficia a grande maioria. E a grande maioria vai pensar que foi esquecida, relegada a plano inferior. A grande maioria vai bancar a minoria beneficiada, em parte, e a PEC não vem para resolver, mas para reduzir os efeitos da catástrofe causada pelo descontrole da economia que coloca a inflação em cerca de 12% e os preços dos combustíveis nas alturas, inviabilizando o transporte de cargas como atividade econômica rentável.
Por outro lado, este negócio de conceder benefícios fiscais, com redução de tributação, coloca em risco a receita dos municípios. Quem conhece um pouco sabe que a receita do ICMS é normalmente a maior receita destes e que três itens respondem por 50% desta receita, combustíveis, energia e comunicações. Com todos se movimentando em véspera de eleições parecendo bonzinhos, daqui a pouco no ano que vem o reajuste salarial dos servidores municipais será inviabilizado.
Como todo brasileiro, se eu pudesse também pegaria alguma “bondade”, mas não esqueço o escritor que dizia: “A mim ninguém me enrola”.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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