OPINIÃO DO TP

Agenda ambiental não está acima das pessoas

Estamos vivendo um dilema nos últimos tempos aqui na região, especialmente por conta do iminente fechamento da Usina de Candiota (Fase C) e este frenesi mundial pela descarbonização. Com insensibilidade, o presidente da privatizada Eletrobras tem dito repetida vezes, que a unidade não interessa mais a companhia e que seu destino é o fechamento ou a venda para alguém que se interesse. A dificuldade está justamente em que os contratos de venda de energia terminam em 31 de dezembro de 2024 e não há nada de concreto até agora que garanta sua continuidade.

A situação tem assustado e mobilizado em certa medida as comunidades envolvidas, que estão meio atônitas em relação ao que pode acontecer e com muita incerteza sobre o futuro.

Já referimos aqui que não somos negacionistas da urgência ambiental. Ela existe, é real e sabemos disso. Contudo, não concordamos que a agenda ambiental seja mais importante do que as pessoas. Notadamente as daqui.

Uma política ambiental que não leva em conta que uma região vai empobrecer ainda mais, é elitista, é contra os mais pobres, é contra os trabalhadores. O fechamento da Usina de Candiota – unidade industrial com apenas 13 anos, será um crime e haverá responsabilizações políticas severas.

Por conta de uma agenda que não é nossa (é muito mais dos EUA e da Europa ocidental), não se pode impor sacrifícios ao povo brasileiro em que ele não deve e não vai suportar. O Brasil é um exemplo mundial em matriz energética limpa e assim vai continuar sendo. Não podemos aceitar que nos façam de reféns dos chamados créditos de carbono para pagar uma conta que não é nossa. Espertamente, os países desenvolvidos – para não prejudicar o seu desempenho e sua gente -, aprovaram resoluções ambientais que não se individualizam e sim que são metas globais.

Num país em processo de desindustrialização como está o Brasil, não dar fôlego à indústria do carvão mineral, localizada essencialmente no Sul do Brasil e especialmente em Candiota (área ainda mais desindustrializada), é um brutal equívoco, ainda mais numa região como a nossa. Além da manutenção das usinas, para segurança energética, não há porque não se investir em novas com o horizonte de 2050 como regram os acordos internacionais. A tecnologia tem avançado e até lá poderemos ter um desempenho ambiental dessas unidades infinitamente superior que as de agora. E mais, como já referido, o Brasil não é o responsável, em se tratando de matriz energética, pelos problemas climáticos do planeta, pelo contrário. Por conta disso, não podemos sacrificar uma indústria nacional em pleno funcionamento como a do carvão. Aliás, queremos ampliá-la com a carboquímica, produzindo syngás e a partir daí fertilizantes (que o Brasil é altamente dependente externamente), além de metanol.

Não vamos permitir, por isso estamos em luta, que releguem mais uma vez a nossa região ao atraso. Nós dissemos não a uma política ambiental que não nos leve em conta, que atenda interesses apenas globais e não olhe a nossa realidade.

Repetimos, uma agenda assim aumenta a desigualdade, o desemprego e a miséria. Assim, esperamos e não à toa a região votou, contrariando o restante do Estado, majoritariamente no atual projeto que governa o Brasil.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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