As dificuldades e desafios enfrentados por trabalhadores e empresários do setor cultural

Palcos e locais de festas continuam vazios e em silêncio pela paralisação dos eventos Foto: Divulgação TP

A pandemia ocasio­nada pelo novo co­ronavírus impactou também o setor cultural, onde estão inclusos tam­bém, os de entretenimento. Com quatro meses comple­tos de proibições de festas públicas ou privadas, even­tos culturais ou atividades que possam gerar aglome­ração, as consequências já são visíveis e dramáticas para estes trabalhadores.

Centenas de fa­mílias que possuem renda total ou principal prove­niente do setor cultural es­tão sofrendo por não poder contar com o recurso. Uma esperança de que a situação seja amenizada para mui­tas famílias é a lei federal 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc, que tem como objetivo central estabelecer ajuda emergen­cial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural e atravessam dificuldades financeiras durante a pandemia.

A reportagem do Tribuna do Pampa con­tatou de forma online, al­guns trabalhadores da área, assim como integrantes de grupos musicais da região para saber como está a situação financeira destes profissionais, bem como as previsões futuras.

10 FAMÍLIAS Um grupo sediado em Bagé, mas de forte ligação com Hulha Negra e regional é o grupo Sandim. Everton Sandim de Ornelas, representante legal do grupo, relatou que a empresa Grupo San­dim gera renda para 10 famílias e que a proibição de eventos impactou de forma financeira e psico­lógica. “A gente começou o ano com uma expectativa muito alta, pois tínhamos grandes contratos fechados em Campo Grande (MS) e Santa Catarina. Lançamos nosso quarto CD – Do ber­ço do cavalo crioulo – em janeiro de 2020 e nem deu tempo de divulgarmos. Já contamos com grandes dívidas, mas temos que agradecer a Deus, pois todos os integrantes estão com saúde até momento”, relatou Everton.

Ele também diz ver o setor com muita apre­ensão. “Fomos os primei­ros a parar e seremos os últimos a voltar. Nosso grupo é uma empresa re­gistrada desde novembro de 2005, mas há pouco apoio dos governantes. O governo lançou uma linha de crédito, mas como va­mos adquirir empréstimo se não sabemos quando vamos voltar a trabalhar? O Banrisul lançou um edital que acabou sendo cance­lado, entramos na fase do desespero”, frisou.

Grupo lançou CD no início de 2020 e já enfrenta sérios problemas com o cancelamento de agendas Foto: Divulgação TP

PREOCUPAÇÃO Tam­bém em termos de grupos, com representantes de Can­diota e Pinheiro Machado, o grupo Orgulho Gaúcho também vivencia momen­tos de tensão e preocupa­ção. O TP conversou com o músico Luis Eduardo Machado, que contou que o grupo é formado por sete componentes, sendo que de cinco, os rendimentos de eventos e bailes são a única fonte de renda. “Não se tem prazo para voltar, só se tivermos uma vaci­na, não sabemos o dia de amanhã. Estávamos com a programação do ano pra­ticamente pronta, tocando sexta, sábado e domingo, além de algumas quartas­-feiras. A Semana Farrou­pilha, período de maior rendimento, também não será realizada. A situação está bastante complica­da, estamos precisando arrumar outras formas de sustento”, afirma Luis.

Por outro lado, a solidariedade por parte do grupo não é deixada de lado. Machado contou que lives solidárias estão sendo realizadas pelo grupo para auxiliar entidades. Em ra­zão das dificuldades do próprio grupo, uma trans­missão ao vivo está progra­mada para o próximo dia 15 de agosto, a partir das 19h, pelo Facebook. Segundo Luis, a forma de auxílio ainda está sendo definida, mas ele espera contar com o apoio da população por doações através do Código QR e arremate de kit chi­marrão por meio de leilão através do WhatsApp.

Grupo pinheirense vai fazer uma live dia 15 de agosto, às 19h Foto: Divulgação TP

EVENTOS DESMARCA­DOS Quem trabalha com produção de eventos tam­bém expõe dificuldades. De Hulha Negra, Fabiano Leal diz ter sido afetado principalmente no início da pandemia. “Eu tinha em torno de seis meses de eventos agendados em diversos setores e todos foram cancelados. Últi­mo evento que realizei foi dia 7 de março. Nesse tempo, como empresa pe­quena, tinha feito conta contando com os valores que iria receber, inclusive tive que devolver dinheiro a clientes que pagaram com antecedência, mas os boletos não pararam de chegar. Tive que fazer negociação com as empresas, hoje estou em uma situação melhor”, relata.

Leal também falou sobre problemas de colegas e linhas de crédito. “O que nos deixa mais triste é que os equipamentos estão parados. Colegas de outras cidades já estão vendendo equipamentos e veículos, pois tem fun­cionários e precisam arcar com os compromissos.Fiz um cadastro e não fui con­templado para auxílio de uma parceria entre Caixa e Sebrae. Depois veio o Pronamp, fiz o cadastro e não tive aprovação mesmo sem ter restrição. O ban­co que trabalho não está fazendo novas linhas de crédito devido à pandemia. Boletos atrasados tiveram juros cobrados e pra mim como micro empreendedor individual foi um horror.Não temos perspectiva nem de trabalho e nem de linha de crédito. Quanto a essa possibilidade por meio da nova lei sou pessimista, acho que não vai abranger muita gente”, expõe.

Equipamentos de sonorização de Fabiano Leal estão guardados desde o dia 7 de março. Empresário teve eventos cancelados e precisou ressarcir clientes Foto: Divulgação TP

DECORAÇÕES Também relacionada à área de even­tos, Cleunice Fernandes, de Hulha Negra, disse que o cancelamento de festas afetou as finanças da fa­mília de forma drástica. “De uma semana para outra foi de 100 a zero. De início as pessoas co­meçaram a reagendar para o segundo semestre, mas com o passar dos meses acabaram cancelando os salões e fazendo algo mais reservado para pessoas de convívio diário em casa através dos pacotes pegue e monte com custo de R$ 30, valor que não pode ser comparado com os de festas e decorações em salões. Nosso setor está estagnado, pois para ocor­rerem as festas, é preciso haver liberação do conví­vio social e aglomerações de pessoas, o que não vejo para este ano. O que me ajudou foi ter me cadas­trado e estar recebendo o auxílio emergencial de R$ 600”, conta Cleunice.

Decorações de grandes eventos de Cleunice também estão armazenadas em prateleiras Foto: Divulgação TP

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