MEIO AMBIENTE

Aterro Sanitário de Candiota: o caminho dos resíduos para a geração de energia

Célula 2 já está definida e deverá entrar em operação em cerca de um ano

No aterro, processo começa com a retirada da lona do caminhão e a pesagem Foto: Silvana Antunes/Especial TP

O que acontece com os resíduos, ou popularmente chamado de lixo após sair da minha residência? Para aonde vai? É depositado em um local com bichos e mau cheiro? Quem já não se fez esse tipo de pergunta? Pois, pensando em mostrar como é esta realidade na região, o Tribuna do Pampa visitou o Aterro Sanitário de Candiota, local para onde são encaminhados todos os resíduos coletados em várias cidades da metade Sul do Estado.

O que se encontra no Aterro de Candiota é uma região limpa, bem cuidada, com escritórios simples, porém equipados, higiênicos e sem odor dos resíduos. Em entrevista com o supervisor de Operações da Meioeste Ambiental, Gesiel Silveira, que acompanhou a reportagem do TP em uma visita guiada ao local, o jornal traz o “Caminho do lixo” e mostra a real estrutura montada pela empresa, instalada em Candiota dentro de uma área de mineração da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) com operação desde 2010.

Gesiel Silveira é o supervisor de Operações da Meioeste Ambiental no aterro Foto: Silvana Antunes/Especial TP

“Acredito que falta um pouco de conhecimento e uma tentativa de quebra de preconceito existente com relação ao lixo. Há um processo correto e cuidado com o meio ambiente. É importante as pessoas saberem diferenciar o que é um aterro sanitário e um lixão. Aterro é uma estrutura com licença de instalação, impermeabilização de solo, monitoramento dos lençóis freáticos (água), quadro de funcionários para cada setor de operação, escritórios, pesagem, equipamentos, reaproveitamento dos resíduos, controle de operação e planilhas, reaproveitamento do gás metano para geração de energia; o que difere de lixão, onde é escolhida uma área e só descartados os resíduos diretamente no solo sem equipamentos, acompanhamentos corretos, podendo gerar trabalho desumano e ser ponto para ações ilícitas”, destacou Gesiel.

Escritório da Meioeste Ambiental no aterro Foto: Silvana Antunes/Especial TP

CHEGADA DOS RESÍDUOS

Caminhões carregados de resíduos passam por pesagem Foto: Silvana Antunes/Especial TP

Os resíduos transportados até o Aterro Sanitário em caminhões cobertos por lonas, após chegarem no local, passam por pesagem para, posteriormente, receberem autorização para descarregar na célula – espécie de cava com profundidade e licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), construído para o descarte de resíduos.

CÉLULA E IMPERMEABILIZAÇÃO

Conforme vão sendo compactados os resíduos, célula vai sendo preenchida Foto: Silvana Antunes/Especial TP

O lixo é descartado na célula. Atualmente o aterro trabalha na célula um (1), que prevê cerca de mais um ano de operação. A cava é envolta por poços de monitoramento e impermeabilizada. Conforme explicou Gesiel, são três etapas de impermeabilização do solo, sendo a primeira de um metro de argila compactada, a segunda chamada de geomembrana (lona) e mais uma camada de argila para proteger a geomembrana. “Fizemos a conformação de bancadas de quatro metros, taludes (paredes) com alturas corretas de sete metros, impermeabilização com argila, lona e mais uma com lona e argila para liberação da colocação dos resíduos para não haver contato com o solo”, explicou.

O PROCESSO

Resíduos são descarregados na célula Foto: Silvana Antunes/Especial TP

Segundo explicado ao jornal, os resíduos são encaminhados ao aterro através de caminhões que possuem uma esteira interna para auxiliar no descarregamento. Em municípios grandes, como Pelotas e Bagé, a Meioeste possui unidades de transbordo para fazer o carregamento do material depositado pelos caminhões coletores diretamente nas residências para, posteriormente seguir até Candiota e chegar ao aterro, que recebe resíduos de cerca de 32 municípios da metade Sul.

Após passar por pesagem, a lona do caminhão é retirada e o veículo passa a para a área onde são descarregados os resíduos e, posteriormente, o material é compactado na célula com o uso de um trator esteira.

Material é compactado com uso de trator esteira Foto: Silvana Antunes/Especial TP

Com os resíduos na célula, ocorre a drenagem do chorume (líquido composto resultante da decomposição por apodrecimento de matérias orgânicas, ou seja, bactérias, fungos, micro-organismos e pequenos animais, gerando um material rico em nutrientes) com tubulação em formato de espinha de peixe, acima da geomembrana onde ocorre o escoamento para as lagoas de tratamento por gravidade.

O supervisor explicou que poços verticais, chamados drenos de gases, também são instalados na célula, servindo tanto para fazer a captação do gás, como para a extração do condensado – líquido gerado do chorume.

Já nas lagoas, após tratamento, há trabalho de aeradores, com aspersão por bomba que larga líquido de forma pulverizada no aterro em dias quentes de sol. Gesiel explicou que na célula um (1) há o tratamento biológico através das lagoas de estabilização e recirculação através dos aspersores.

Chorume é encaminhado as lagoas de tratamento Foto: Silvana Antunes/Especial TP

FINALIZAÇÃO DA CÉLULA 1

Parte da célula 1 já chegou ao nível máximo Foto: Silvana Antunes/Especial TP

Quando a célula um chegar ao fim da capacidade de recebimento de resíduos, uma cobertura com cerca de meio metro de terra será colocada para o fechamento da célula, visando a contenção do odor e entrada de água da chuva. “Diferente da camada atual que é caracterizada como emergencial pelo fato da célula estar em operação, a final terá cobertura total e quando encerrar as atividades e passar para a próxima célula, o aterro estará estabilizado, com captação boa de gás e configuração exata. Com o uso das lagoas de tratamento, podemos garantir a extração de gás por cerca de 15 anos para a Usina de Biogás”, relatou.

CÉLULA 2

Área onde será instalada célula 2 Foto: Silvana Antunes/Especial TP

Uma segunda área já está em processo junto a Fepam para liberação e criação da célula dois (2) para o descarte de resíduos, localizada em área minerada da CRM. Conforme Gesiel, o processo de impermeabilização segue o mesmo padrão, porém com a mais moderna tecnologia de tratamento.

USINA DE BIOGÁS

Usina de Biogás já produzia, em 2021, 1,8 mil quilowatts Foto: Silvana Antunes/Especial TP

As 800 toneladas de lixo que diariamente aportam no Aterro Sanitário são também responsáveis pelo combustível de uma Usina de Biogás instalada na área, que produz em média 1,8 mil quilowatts por hora de energia elétrica. O volume tem capacidade de abastecer aproximadamente de 5 mil residências.

A Usina é operada pela empresa candiotense Figueira Energia, que possui capital formado por investidores externos e é fiscalizada e licenciada pela Fepam. No ano passado, o TP visitou o local juntamente com o supervisor de Operações da Meioeste, Gesiel Silveira, e o gestor de Geração da Figueira Energia, Sérgio Cardoso, que explicaram à equipe do jornal, de forma didática, o funcionamento da estrutura.

RELEMBRE – Com 11km de tubulações distribuídos em 52 poços instalados no aterro, todo o gás produzido pela decomposição dos materiais ali depositados, é canalizado até à Usina de Biogás. Por reações químicas, o aterro produz majoritariamente gás metano (50%) e uma série de outros gases, que formam o biogás.

Cabe lembrar que durante a visita o gestor da Figueira informou que no momento a produção era de 1 mil m³ de biogás por hora. Com duas máquinas (motores) de fabricação alemã movidos a biogás e acoplados a dois geradores, a usina está produzindo uma média de 1,8 mil quilowatts por hora ou 1,8 MW/h, com funcionamento 24h por dia, sete dias da semana. Na ocasião, o supervisor da Meioeste, lembrou que a usina proporcionava a redução da produção de odores no entorno do aterro localizado a cerca de 3km lineares da sede de Candiota.

O sistema possui um flare (queimador) que fica sempre aceso com queima mínima de gás. Ele acaba entrando em ação caso a usina pare de funcionar por algum motivo, sendo que neste momento todo biogás é queimado pelo dispositivo. “A liberação para o meio ambiente corresponde a menos que o funcionamento de uma caminhonete à diesel”, comparou o técnico na visita.

Com geração em 480 volts e elevação para 23 mil volts, a energia produzida é conectada à rede da CEEE num ponto de conexão na localidade do assentamento Nossa Senhora Aparecida, próximo à cidade. O projeto de expansão da Usina de Biogás já está no horizonte, com o aumento da produção em mais 1 MW/h, chegando a 3 MW/h.

 

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