
Espécies de abelhas sem ferrão ainda são pouco conhecidas Foto: Silvana Antunes TP
Quando se pensa em abelhas, logo também se imagina o problema originário de uma ferroada, popularmente chamada de picada. Mas nem todas as espécies são desta forma e em Candiota, os bichinhos viraram uma espécie de passatempo e até algo terapêutico para Luis André Feijó Ferraz, de 45 anos.
Há cerca de dois anos ele possui uma criação, no pátio de casa, na sede do município, de abelhas sem ferrão, que apesar do nome, possuem ferrão, mas atrofiado e sem função de defesa. As espécies são armazenadas em pequenas caixas, em meio a flores e árvores e frutos.
Ao Tribuna do Pampa, que visitou a residência de Luis e viu de perto seu cuidado com as abelhas, o gosto pelas espécies começou em uma viagem a trabalho a capital Porto Alegre. “Me chamou a atenção aqueles bichinhos que saiam de um canudinho na parede da empresa onde trabalhava. Fiquei curioso e então pesquisei pra ver o que era, foi quando descobri a abelha jataí, na minha opinião uma das mais lindas abelhas sem ferrão”.
Ele contou à reportagem que começou a criação quando adquiriu a mirim droryana e, posteriormente, durante um curso, ganhou a abelhinha jataí. Hoje ele possui cinco espécies – jataí, mirim droryana (mirim mosquito), mirim emerina, mirim nigriceps e bieira (segundo ele conhecida como abelha dos Pampas), disponíveis em caixas e manuseadas conforme a espécie. Atualmente são em torno de 18 caixas de abelhas no quintal.
Luis destacou a importância dos insetos. “Elas representam tudo, pois sem abelhas não há vida, sem abelhas tudo morre, nada floresce”, relatou o candiotense que também já fez diversos cursos e está em constantes pesquisas para adquirir conhecimento e inicialmente possui a criação como um hobby, passatempo, mas não descarta, no futuro, também ter uma renda extra com as espécies e o mel que possui um valor mais elevado.

Luis tem a criação, atualmente, por hobby Foto: Silvana Antunes TP
CUIDADO À DISTÂNCIA
Questionado acerca da rotina com as espécies, Luis conta não ser necessária uma rotina constante, pois elas fazem seus ‘trabalhos’ sozinhas. “Inclusive pela falta de oportunidade de emprego estou indo tentar a vida em outra cidade, mas um familiar vai residir em nossa casa e de tempos em tempos venho para dar uma olhada nas abelhas. Elas fazem todo seu trabalho e vai ocorrendo a produção de mel. Depois é só extrair”, conta ele.
MELIPONICULTURA
De acordo com a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (ABELHA), a criação racional de abelhas sem ferrão, também chamadas de nativas ou indígenas, é chamado de meliponicultura. “Além de permitir a produção de diversos tipos de mel, a atividade ainda contribui para a conservação das espécies de abelhas e para ampliar os serviços de polinização de plantas, inclusive de muitas culturas agrícolas”.
A criação já era realizada em diversas localidades no Brasil no século 19, mas muitas abelhas sofreram exploração predatória com a retirada do mel sem o manejo correto e destruição das colônias, contribuindo para a diminuição das populações dessas abelhas em algumas regiões.
Com o tempo, surgiu a meliponicultura, que além de permitir a produção de diversos tipos de mel, disponibiliza ao meio ambiente uma variedade de polinizadores e contribui para a conservação das diferentes espécies de abelhas criadas, sendo uma ótima ferramenta de desenvolvimento sustentável.

Mel produzido pela espécie Jataí Foto: Silvana Antunes TP
SOBRE AS ABELHAS
Segundo a Associação, o Brasil conta com aproximadamente 250 espécies de abelhas sem ferrão descritas. Algumas são criadas para a produção de mel, que tem sido cada vez mais valorizado para fins gastronômicos por apresentar características únicas de acordo com a espécie de abelha manejada e as flores que as operárias usam para buscar o néctar. Elas cumprem um papel muito importante na reprodução das plantas nativas com flores, promovendo a polinização cruzada, a formação de frutos e sementes e a polinização de plantas de consumo humano como café, tomate, berinjela, coco, morango e goiaba.
Ocupam grande parte das regiões de clima tropical do planeta e regiões de clima subtropical, como partes do Sul do Brasil e Argentina e o norte do México. Também são encontradas nas florestas tropicais e savanas africanas.
Elas pertencem à família Apidae, tribo Meliponini, razão pela qual também são chamadas de meliponíneos. Mesmo sem utilizar o ferrão, elas possuem outras maneiras de se defenderem, que vão desde morder e grudar nos cabelos, até liberar uma substância ácida que queima a pele, como a caga-fogo.
As abelhas sem ferrão se dividem em dois grupos conforme a formação das rainhas. No grupo formado pelo gênero Melipona, as espécies são apreciadas pelos meliponicultores por sua alta capacidade de produção de mel, pois algumas podem produzir até 8 litros de mel por colônia no ano quando manejadas adequadamente.
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