PASSADO E FUTURO

Candiotenses buscam resgatar e preservar a história da cidade por meio de um núcleo de pesquisas

Tailor e João Henrique lutam pela
preservação das memórias da cidade Foto: Sabrina Monteiro TP

Neste mês de agosto comemora-se o Dia do Historiador, profissionais estes que tiveram suas atividades regulamentadas em 2020 pela Lei 14.038. Para falar sobre a data, a equipe do Tribuna do Pampa recebeu os profissionais candiotenses, João Henrique Duarte, o Funga, e Tailor Lima que estão trabalhando novas ideias para resgatar a história de Candiota e região.

Com a reorganização do já existente Núcleo de Pesquisas Históricas de Candiota, que foi criado em 8 de abril de 2010 por João Henrique e outros amigos, a ideia atual é de modernizar o projeto e conquistar um espaço físico que fique localizado na sede do município, para o fácil acesso da população e dos visitantes.

 

HISTÓRIA DO NÚCLEO

 

Segundo Tailor, após sua criação, o Núcleo ficou desatualizado por muito tempo, e por ser algo legal contendo CNPJ, dividas foram acumuladas na Receita Federal ao longo dos anos, até que Funga reativou sua história. “Ele fez campanha, conseguimos verbas, pagamos o débito da Receita Federal e agora estamos tentando estruturar, modernizar e ter um prédio”, informou.

De acordo com Funga, ele e outros amigos foram os fundadores do Núcleo, mas as reuniões não geravam resultados principalmente por o grupo não contar com um espaço próprio para as conversas. “Eu, o Cássio, a Daiana e o Machado fomos os fundadores do grupo. Nós fazíamos reunião na casa de um e de outro, mas o pessoal não participa, muitas vezes até por não ter ligação com aquela pessoa. E com um local próprio, fica mais fácil para o pessoal chegar”, explicou o fotógrafo, informando que a diretoria foi mudada e que agora ele e Tailor estão em busca de modernizar o grupo e conquistar o seu próprio espaço.

 

QUAL SERÁ O PAPEL DO NÚCLEO NA CIDADE?

 

Você leitor deve estar se perguntando sobre o papel do Núcleo em Candiota, e a resposta é bem simples – resgatar, divulgar e compartilhar a história da cidade e introduzí-la na sociedade, nas escolas e despertar a curiosidade e interesse da população, principalmente da nova geração.

Segundo Tailor e Funga, a ideia inicial é modernizar e incluir o Núcleo nas redes sociais, com postagens diárias falando sobre a história do município e da região. Já o espaço físico servirá como um QG, com rodas de conversas, palestras e atividades abertas à comunidade. “Por exemplo, fazer uma roda de conversa sobre a Companhia Riograndense de Mineração (CRM), e convidar pessoas antigas para falarem sobre o assunto. Algo organizado e com inscrições, pois tema é o que não falta”, pontuou Tailor, reforçando que é preciso fazer essas atividades enquanto há pessoas que possam falar sobre os assuntos escolhidos. “Precisamos buscar esse conhecimento, tanto em rodas de conversas quanto nas redes sociais”.

Além disso, Tailor ressaltou que existe um vácuo muito grande na área de história e cultura de Candiota, e que o Núcleo servirá como entidade social que, juntamente com o Poder Público e lideranças políticas, irá preencher esse espaço. “Nós somos riquíssimos em história, temos vários locais de combates e batalhas que formaram a história, como o local da Batalha do Seival e da Proclamação da República. O início da Revolução de 1893 começou em Candiota, a Revolução de 23 tem presença muito forte em Candiota”, relembrou ele, ressaltando que os dois historiadores também já pensam no futuro, com a realização de cavalgadas pelas trilhas das batalhas, por exemplo.

Ao serem questionados sobre o espaço almejado, os profissionais informaram que já fizeram contato com algumas pessoas e que está tudo bem encaminhado para o espaço central, e que este é o principal objetivo no momento.

MOMENTOS MARCANTES

 

Partindo para os momentos marcantes vividos pelos historiadores, Tailor começou citando que estudar história já é algo que lhe marcou bastante. “O fato de eu escrever um livro, de me aprofundar no assunto e de fazer uma faculdade de história, isso tudo foi muito marcante”, disse, destacando que o estudo da história leva a descobrir coisas marcantes para as pessoas, município e região.

“O estudo de história nos leva a conhecer, por exemplo, que o primeiro tiro da Revolução 1893 foi dado aqui no município de Candiota, e esses dias nós estivemos nesse local. Aqui em Candiota é o local da Batalha do Seival, as pessoas tem que saber isso e nós temos que pesquisar, conversar e divulgar. Aqui é o berço da revolução de uma república que durou 10 anos, e durante esse tempo nós fomos independentes do Brasil. São coisas muito marcantes na vida da nossa cidade que a história nos leva a conhecer”.

 

Tailor e João Henrique lamentam a falta de museu e biblioteca na cidade

 

Um dos assuntos que ganhou espaço durante a conversa foi em relação à importância que Candiota recebe em relação aos fatos marcantes que tem. “Eu acho que Candiota não dá importância, eu vejo tantas cidades pequenas que sobrevivem de Cultura e de turismo, e Candiota não quer saber de turismo e só quer saber de carvão. Eu vejo que entra governo e sai governo e todos só querem sair com a mesma pastinha de carvão. Tem muita história, tem de tudo o que passou por Candiota, e isso o pessoal gosta de saber e vem visitar”, pontuou Funga.

Além disso, ele também ressaltou que até o momento não viu ninguém se interessar pelo assunto. “Falta explorar e falta alguém que pegue um caminho e faça, mas não vejo. Um dia um cara veio aqui e disse que nos Aparados da Serra o pessoal vai olhar vento, e todo mundo ganha dinheiro”, falou.

Já Tailor garantiu que a cidade tem potencial na história, turismo e na cultura de fazer inveja a qualquer município do Estado gaúcho. “Quem conhece a história de Candiota, fica impressionado com o potencial que tem. O mausoléu do Manuel Lucas de Oliveira está caindo, nós estivemos lá e as pessoas nem sabem quem ele foi. Uma pessoa que teve uma influência enorme na região, foi ministro da República Riograndense. Ele assinou o Tratado de Paz, em Dom Pedrito representando o presidente da República, Gomes Jardim, e a sepultura dele está caindo”, lamentou o escritor, reforçando que é preciso avançar nesta parte e que a culpa não é apenas de uma pessoa, e sim, uma questão cultural que está se acumulando ao longo dos anos e que o avanço é muito pequeno. “Cultura e educação de qualidade são fontes de reflexões, querer, decidir, participar…forma indivíduos emancipado, compreensivos, e equilibrados. Vivem em harmonia com a família e contribuem para uma comunidade inteligente e evolutiva”. “Nós precisamos de pessoas que respirem história e cultura no nosso município, e infelizmente vai avançando muito devagar. Nós não temos em Candiota uma biblioteca pública e um museu, com todo esse potencial que nós temos. Municípios que se emanciparam junto com Candiota, têm bibliotecas fantásticas e museus”, lamentou Tailor, dando destaque ao Arquivo Público da cidade de Bagé, onde o acervo foi doado pelo jornal mais antigo da cidade. “Nós precisamos de um arquivo para, além de jornal, armazenar documentos importantes que vão se perdendo”.

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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