NOVOS PROPRIETÁRIOS

Castelo de Pedras Altas será avaliado por engenheiros e granja vai retomar raça Devon

Primeiros exemplares da raça no Brasil foram trazidos por Joaquim Francisco de Assis Brasil ao Castelo após sua construção. Restauração do monumento histórico deve estar perto de começar

Raça Devon possui características peculiares Foto: Alexandre Teixeira/Especial TP

Seguindo as afirmações da família Segat, novos proprietários do Castelo de Pedras Altas, de que haveria o resgate histórico do local construído pelo político e diplomata gaúcho, Joaquim Francisco de Assis Brasil, as primeiras ações já começam a ser divulgadas.

Conforme repassado ao Tribuna do Pampa pelo advogado Luiz Carlos Segat, pai dos novos proprietários, os irmãos Rafael, Gabriela e Kamilla Trindade Pacheco Segat, naturais de Santa Maria, uma visita de engenheiros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae) deve ocorrer ainda nesta semana a propriedade. “Nosso objetivo é começar a restauração do Castelo o quanto antes”, afirmou Segat.
Outra importante notícia é que o monumento deverá, novamente, contar em seus campos com uma importante raça de gado trazida para o Brasil na época de Assis Brasil, a Devon, que era considerada pelo diplomata como uma raça que não poderia ser melhorada por nenhuma outra. Assis Brasil trouxe em 1906, para Pedras Altas, o lote com as primeiras 40 novilhas Devon importadas do Uruguai, que impulsionaram a pecuária gaúcha da época.

A expectativa dos novos proprietários é reconstituir o cenário do Castelo de mais de 100 anos atrás. “Vamos recuperar o Castelo e reproduzir tudo como era. O galpão do Devon ainda está lá, a ideia é reformar, levar o Devon de volta e começar a criar também”, afirma Luiz Carlos Segat, que explicou também ao TP, que as áreas de campo do Castelo estão arrendadas até o mês de maio e o objetivo é de trazer as raças logo após o fim do contrato.

“O Devon foi uma raça escolhida pelo próprio Assis Brasil, ele dizia que era muito importante utilizá-la para melhorar o rebanho da época, via um grande potencial no Devon e nós vamos mostrar isso para os visitantes”, completa Segat, presidente da recém-criada Associação Castelo de Pedras Altas, que lidera o projeto de reforma e restauração, junto com o Iphae.

O objetivo da família Segat é transformar a propriedade em um centro cultural, com dois dos quatro pavimentos abertos ao público. O visitante poderá conhecer, por exemplo, a sala, com móveis e todos os detalhes de onde foi assinado o acordo que deu fim à luta entre Chimangos e Maragatos na Revolução de 1923, no chamado Pacto de Pedras Altas. A biblioteca, com 14 mil obras, abriga verdadeiras raridades na área jurídica, de sociologia, economia, agricultura, pecuária e muitas coleções. Oito livros foram publicados entre 1400 a 1500, antes mesmo do descobrimento do Brasil.

Família Segat, na foto junto a secretária Beatriz Araujo, objetiva reabrir o Castelo para visitação Foto: Arquivo TP

No acervo, pelo menos 105 obras tratam sobre a raça Devon. A mais antiga é uma publicação inglesa de 1884, em algumas o próprio Assis Brasil fez anotações escritas à mão. Também chamou a atenção dos novos proprietários uma caixa de madeira, com um torrão de terra trazido da Inglaterra, de onde se originou a raça Devon. A amostra é do local de onde foram importados novos touros para Pedras Altas. “Eu fiz um contexto da importância e magnitude do Assis Brasil e do Castelo de Pedras Altas, o Devon está inserido nesse meio, como uma pedra preciosa”, resume Segat.

Segundo historiadores, Assis Brasil via na adaptabilidade a melhor característica da raça Devon. Os touros eram mantidos em meia estabulação, já as vacas viviam inteiramente a campo, tanto no inverno como no verão. Além de pioneiro do Devon, Assis Brasil importou ovelhas Karakul e Ideal, vacas Jersey, cavalos Árabes e, ainda, introduziu novas espécies de árvores, como o eucalipto. Também construiu estrebarias, galpões e porteiras que ainda estão na propriedade.

O patriarca da família Segat conta que o interesse inicial era por uma área rural, para agricultura e pecuária. “Nos deparamos com o castelo e toda aquela história, foi uma grande uma surpresa, acho que ainda não temos dimensão de toda a importância que ele tem”, pondera.

O advogado conta que a receptividade está sendo extremamente positiva. “É surpreendente, estudiosos e pessoas que conheceram Assis Brasil nos procuram e revelam aspectos importantes sobre o pai do direito eleitoral, patrono da agricultura no Estado, liderança da revolução de 1923, proprietário da maior biblioteca familiar da América Latina e produtor rural de extrema relevância. E imagina a nossa família se tornar, agora, proprietária de tudo isso, essa expectativa nos gera uma responsabilidade social muito grande”, revela.

Luiz Carlos Segat assegura que “haverá muita coisa para ser vista e visitada. Vamos ter de volta o Castelo e também a moradia, com gente, movimento e bagunça de criança”, diz, referindo-se à família e aos cinco netos. “Vamos devolver tudo isso ao Castelo”, projeta.

Para a presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon, Simone Bianchini, a volta do Devon para os campos do Castelo de Pedras Altas terá um significado especial. “Assis Brasil foi um visionário que teve a feliz iniciativa de trazer a melhor raça de gado de corte para o Brasil. Foi a partir de Pedras Altas que o Devon tomou o rumo do Pampa, se espalhou por todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e depois Brasil acima. Os criadores de Devon estão felizes e orgulhosos, a família Segat é muito bem- vinda”, ressalta a dirigente.

SOBRE O DEVON – De acordo com site oficial da Devon, a raça mostrou ser um grande negócio. Centrado ao redor de Exmoor (Inglaterra), ao norte de Devon, onde o clima é chuvoso e úmido, com invernos frios e rigorosos, este foi o ambiente dominante que a raça Devon proliferou por muitos séculos.

A pele pigmentada de amarelo alaranjado, e a pigmentação escura nos olhos são um considerável recurso nos climas tropicais, na qual a pigmentação da pele também protege o úbere da perigosa radiação solar.

A raça é muito resistente e as fêmeas não apresentam problemas de fertilidade ou parição. Suporta o frio e a umidade, mantendo-se bem nas pastagens fracas e fibrosas de seu habitat. Ultimamente este gado tem sido muito utilizado para cruzamentos com raças zebuínas, formação da raça sintética Bravon, ou mesmo com as européias, apresentando bons resultados em ambos os casos. Isto vem ocorrendo tanto pela grande capacidade de ganho de peso dos touros, mesmo em condições de pastagens, quanto pela lactação das vacas, tidas como mães por excelência.

Criado de forma pura ou cruzado com outras raças, o Devon apresenta rápido apronte e excelente rendimento de carne. Sua capacidade de conversão alimentar e de produção de carne de qualidade estão entre as melhores do mundo, sendo suas características mais marcantes a rusticidade, fertilidade, habilidade materna, precocidade e docilidade, condições que transmite com eficiência nos sistemas de cruzamento.

Os reprodutores se destacam pela rusticidade e eficiência. A alta capacidade de serviço aliada ao grande poder de conversão de pastos em carne de qualidade, confere a ele grande potencial para cruzamentos em qualquer região do Brasil.

As vacas são rústicas, prolíficas e dotadas de alta capacidade leiteira. Comparada às raças de corte, são tidas como de grande lactação.

* Com informações da Devon

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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