RURAL

Chuvas apenas amenizaram problemas causados pela estiagem na região

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Açudes que haviam passado por limpeza, acumularam água em Hulha Negra Foto: Emater HN/Especial TP

A estiagem afetou de forma bastante séria os municí­pios da região. Produções foram perdidas, açudes secaram e houve a necessidade de auxí­lio para ter acesso à água para consumo humano. Ainda que os municípios decretassem situação de emergência, a dificuldade de recursos afetou os produtores de forma bastante intensa devido à falta de chuvas.

Na semana passada, uma chuva considerável, porém de forma variada nas regiões, trouxe alívio e algumas melhorias para os produtores. O Tribuna do Pampa contatou com exten­sionistas rurais das unidades da Emater/Ascar de Hulha Negra, Candiota, Pedras Altas e Pinheiro Machado, que de forma unânime, destacaram que as precipitações alegraram os produtores, porém apenas amenizaram a situação grave presenciada nas proprieda­des.

HULHA NEGRA

 Acumulado de chuvas melhorou capacidade dos açudes

 

Açudes novos também registraram acumulo de água Foto: Emater HN/Especial TP

A reportagem do TP conversou com o extensionista rural da Emater Hulha Negra Guilherme Zorzi, que relatou que o acumulado de chuvas da semana passada ficou entre 90 e 200 milímetros de chuvas. “A chuva foi bem variada, para melhorar a umidade do solo serve bastante. Dependendo da capacidade de alguns açudes já vimos diferença, juntou água e os níveis melhoraram. Além disso, pequenos cursos de água começaram a melhorar e ganhar vida de novo”, afirmou Guilherme, dizendo ser importante, pois produtores fizeram nivelamento em açudes, outros foram reformados para reservar água e ter mais autonomia caso se confirme outra estiagem no próximo verão.

Solicitado a falar sobre a situação das culturas no município, Zorzi lembrou que a colheita da soja e do arroz já foi concluída, assim como a do sorgo e milho estão em finalização. Ele também disse que a chuva veio em um bom momento. “Há uma boa condição para aqueles que vão fazer o preparo do solo para plantio de trigo, aveia e sementes. Não haverá prejuízo de atraso na semeadura. Pastagens, também temos uma boa quantia já plantada e nascida. Algumas esta­vam ruim, em baixa e isso deve melhorar, pois nasce planta também após a chuva. Outros produtores aproveitaram para começar seu plantio”, expõe, destacando que o município vive um vazio forrageiro mais extenso neste ano.

O extensionista também falou sobre os demais se­tores. “Atividades de criação e pecuária ainda enfrentam limitações quanto à alimentação, mas as maiores perdas estão na produção de leite, que varia entre 30 e 50%. “Quanto mais os produtores suplementam a alimentação do rebanho com silagem, feno e ração, menos há perda percentual, mas o trabalho é com custo bastante elevado, podendo ter prejuízos. Temos produtores que perderam animais por subnutrição, morte, se atolaram e não levantaram mais. Estamos contando os dias para a recuperação. Quando as pastagens estiverem prontas, haverá melhora”, afirma Guilherme, que destacou que as lavouras de inverno vão começar dentro da época e clima adequado, e que produtores de orelícolas estão com boas condições para plantio.

PINHEIRO MACHADO

 Acumulado de chuvas não repôs déficit hídrico

Na Terra da Ovelha, a chuva minimizou os efeitos causados pela estiagem com a reposição de parte de água em açudes e bebedouros, mas ainda não supriu a falta de água. De acordo com o extensionista rural da Emater/Ascar de Pinheiro Machado, Rafael Lopes, a estiagem começou em novembro de 2019, chegando há nove meses sem chuvas. “A média histórica do acumulado de janeiro até maio é 600 mm e choveu até dia 24 de maio, 256,5 mm, menos do que a metade da média his­tórica segundo dados oficiais da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Essa chuva compreendeu quase a metade de um semestre, 117,6mm”, relatou. Ele também lembra que muitas famílias precisaram receber água por parte da Prefeitura e outras, cadastradas na Corsan, pegar diretamente na empresa para consumo humano.

Questionado sobre as perdas no município em razão da falta de chuvas, ou até mesmo pela pouca quantia se analisada a média dos últimos anos, Lopes disse que o maior prejuízo foi contabilizado na bovinocultura de corte, chegando a R$ 21 milhões. Ele explicou que o município contabiliza 130 mil cabeças de gado e com perdas estimadas em 30%, houve uma redução de 4 mil toneladas de peso vivo. “O campo natural não conseguiu sustentação pela seca. Houve morte de animais por falta de alimentos e água em locais com açudes e cacimbas secos. Produtores não conseguiram implantar pastagens de inverno, recém está sendo semeado. Além disso, os produtores estão comprando ração, silagem e feno. Portanto, não podemos mensurar apenas perdas imediatas, tudo isso vai afetar a fertili­dade das fêmeas, pois as que produzirem poderão ter terneiros fracos”, explica.

Lopes também faz referência a outras duas culturas com perdas bastante significativas, a soja e o milho. Segundo ele, a mais significativa das culturas é a soja, com 6.500 hectares aproximadamente, contabiliza uma perda de 70%. Com uma estimativa inicial de colheita de 2,640 kg por hectare e uma colheita real média de 660kg, os prejuízos chegaram aos R$ 13 milhões. Já quanto ao milho, foram plantados em torno de mil hectares em pequenas propriedades. Rafael também diz que houve uma quebra significativa de 70% na cultura. “Se esperava colher 2,7 kg por hectare e vai se colher 650 kg, chegando a um prejuízo de R$ R$ 1,5 milhão”, informa. Também ocorreram perdas na cultura do feijão e frustração de safra quanto as Oli­veiras, totalizando prejuízos totais na faixa dos R$ 36 milhões.

CANDIOTA

 Chuva melhorou qualidade da água nos açudes

Na Capital Nacional do Carvão a situação das propriedades rurais e açudes é semelhante. Conforme o extensionista da Emater/Ascar de Candiota, Matheus do Amaral Caetano, as precipitações no mês de maio, até o momento chegaram a 121 mm, acúmulo maior que a média história que fica na faixa dos 91,58mm. As precipitações acima da média amenizaram a situação na cidade. “A chuva foi fundamental para recuperar parte do armazenamento de água nos açudes para desseden­tação animal, pois muitos micro-açudes estavam secos. Também percebemos uma melhora na disponibilidade e qualidade da água”, afirma.

Caetano também frisou que a chuva foi impor­tante para o desenvolvimento das pastagens cultivadas de inverno que estavam com a taxa de crescimento praticamente paralisada pela falta de umidade no solo. Os campos nativos também apresentam melhora, pois estão rebrotando. “Nessa época de outono o crescimento é lento e depois de seis meses com chuvas abaixo da média histórica, a maioria dos campos ficaram rapados e secos”, destaca.

O extensionista disse ainda, que a chuva foi positiva para o cultivo de sementes de orelícolas de inverno. “A salva e o coentro já haviam sido plantadas e precisavam de umidade para germinar”, explica.

Cabe lembrar que no município, o maior preju­ízo foi apresentado na lavoura de soja, pois a estiagem atingiu as lavouras em pleno período de florescimento e enchimento de grãos causando aborto de flores e seca de vagens, chegando a uma redução de mais de 1.100 toneladas. Também houve perdas de cerca de 49,36 % na soja, 44 % na bovinocultura de leite, 29,1% na bo­vinocultura de corte, 45 % no mel, 53% nas sementes de orelícola e 48% no milho, além de percentuais no girassol, quiabo, feijão, abóbora, melão e melancia.

PEDRAS ALTAS

 Chuva não foi suficiente para cumular água

Na Cidade do Castelo, os prejuízos entre lavouras e pecuária superam os R$ 72 milhões. A informação foi repassada ao TP pelo extensionista rural da Emater/Ascar de Pedras Altas, Sérgio Madruga Furtado, que destacou que apesar da chuva acumulada entre 90 e 120 milímetros em algumas localidades, ainda não foi suficiente para a produção. “Não cumulou água nos açudes e bebedouros como se esperava. Isso porque o solo enfrentava uma grande seca. Ainda precisamos de mais chuvas para que a situação melhore para nossos produtores”, frisou.

Furtado lembra que devido à estiagem, a pastagem atrasou e o leite teve um aumento no custo em razão dos produtores terem, também, um aumento em gastos com ração devido a baixa produção de silagem. Já quanto às lavouras de inverno, Sérgio disse que ainda não foram afetadas, pois o plantio ainda não iniciou.

Ele lembrou ainda, que em razão da estiagem, em torno de 120 famílias continuam recebendo água com auxílio da Prefeitura, principalmente no assentamento Glória, Arroio Mau, Campo Bonito, Cerro do Baú, Biboca e Passo da Areia, até o momento com recursos custeados pela Prefeitura.

Projetos de açudes da Emater de 2018 estão captando água da chuva Foto: Emater HN/Especial TP

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