Conclave é a reunião do Colégio de Cardeais convocada para eleger o Bispo de Roma, ou seja, o Papa, o Chefe da Igreja Católica. Os católicos, a esse respeito, consideraram o papa o sucessor de Pedro, sendo ele o chefe terreno da instituição da Igreja, além de um Chefe de Estado, afinal, a Cidade do Vaticano é um Estado soberano desde 1929. O método é antigo.
O conclave é realizado há pelo menos oito séculos, tendo sido fruto de uma sucessão de reformas ocorridas em idos do século XIII. O responsável pelo seu estabelecimento foi o Papa Gregório X, em 1274, que, mediante decreto, passou a prever que os cardeais eleitores deveriam, a partir daí, ser trancados em reclusão (“cum clave” – “com chave”), sendo que somente sairiam após a escolha de um novo papa (buscou-se evitar um prolongamento no processo de escolha). Antes, o bispo de Roma era escolhido pelo consenso do clero e dos leigos da diocese. Ocorreu que muitas demoras se deram no curso do caminho, o que acabou gerando insegurança e impaciência, até que a medida drástica da reclusão foi tomada. Já em 1970, o Papa Paulo IV limitou o direito de voto a cardeais com menos de 80 anos. A escolha do novo Papa deve ser realizada por maioria qualificada de dois terços dos votos. De resto, o ritual permanece praticamente inalterado desde 1274.
“Onde há poder há disputa. No mais, na hora do “pega”, todos são humanos.”
Um conclave deve começar entre 15 e 20 dias depois da renúncia ou morte do Papa, como ocorreu agora com o fato da morte do argentino Bergoglio, interregno conhecido como “novemdiales”. O prazo de instalação dos trabalhos foi fixado na época medieval, quando viajar a Roma demandava mais tempo. Não obstante, a tradição foi mantida até hoje, até mesmo para que os Cardeais possam aproveitar o tempo para reuniões e debates. Já as votações realizam-se em sessões de manhã e à tarde, duas em cada sessão, com exceção do primeiro dia em que se realiza apenas uma votação – enquanto ninguém obtiver a maioria de dois terços, não haverá Papa escolhido, sendo que as votações serão renovadas sucessivamente.
Lançado recentemente, o filme “Conclave” dá um panorama razoável de como se darão os trabalhos. Com a morte do Papa, o cardeal Lawrence, personagem principal da trama, reúne um grupo de sacerdotes para eleger seu sucessor. Cercado por líderes do mundo todo nos corredores do Vaticano, ele descobre uma trilha de segredos profundos que podem abalar a própria fundação da Igreja, eis o enredo. O filme é cercado de disputas, picuinhas e afins. E é a isso que quero dedicar o final da coluna.
Sem nenhuma surpresa li no curso da semana uma matéria publicada pelo Estadão, dando conta de que dossiês foram encomendados e entregues aos cardeais, tendentes a fazer enfraquecer figuras que estariam bem cotadas na disputa. Uma tática digna de uma eleição presidencial, por exemplo. E que mensagem provém daí? Onde há poder há disputa. No mais, na hora do “pega”, todos são humanos. Demasiado humanos.
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