Depois que as águas baixaram

*Por Marco Antônio Ballejo Canto

A vida continua para quem não ficou pelo caminho.

Não posso me colocar no lugar de quem encontrou sua casa destruída pelas águas. Seria idiotice imaginar que é possível alguém se colocar no lugar do outro. Cada ser humano é único e suas emoções são particulares, intransferíveis.

Mas diante do inevitável, a vida continua.

Escrevi outro dia aqui que a grande reconstrução é a reconstrução de cada um. As perdas podem ser duras, difíceis de digerir, mas é preciso sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Alguns irão à luta sem temor, outros vão enfrentar a depressão. É a vida.

De todos os problemas, o desemprego e a perspectiva de não poder retomar um negócio que foi montado com muito suor parecem ser situações que merecem atenção especial.

Muitos perderam muito, mas terão fôlego e financiamentos para se recuperarem. Problema grande é o de quem não tem onde morar e nem o que comer amanhã.

Mas, como sempre, os grandes problemas vão perdendo espaço com os dias e é preciso voltar aos nossos problemas de todo dia, daí que esta coluna volta a priorizar a análise das questões regionais.

Se para muitos o problema é hoje, o que sobra das enchentes para a região é que a questão climática faz os olhos se voltarem para Candiota e para o carvão. As usinas movidas a carvão estão na mira faz tempo. Um dia desses podem sair de cena. E como será Candiota se isso acontecer?

O município ficará  economicamente inviabilizado por muito tempo. A receita da Prefeitura será menor que o valor pago em salários aos servidores municipais. E qual é o plano para enfrentar essa possibilidade?

Não ter um plano para Candiota é como deixar Porto Alegre e os vales dos rios que chegam ao Guaíba sem adotar medidas de proteção, apenas esperando que o rio leve mais 80 a 100 anos para encher de novo.

Em 2003, com uma usina, a receita de Candiota era 2,6 vezes a de Hulha Negra. Em 2023, com duas usinas, a receita de Candiota era 2,9 vezes a de Hulha Negra. Não sei se é um bom parâmetro, mas é de pensar. Parece que a perda de participação da fonte energética na receita do município já é realidade que foi compensada com uma nova planta nos anos 2010.

Tenho batido muito na tecla de que a região precisa melhorar ‘muito’ a qualidade da educação desde os primeiros anos. Porém, desenvolver o empreendedorismo é necessário. Sempre foi. No meio rural, produtores precisam se tornar especialistas no que fazem e na compreensão do clima.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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