Domingo com eleições

Ao começar a escrever me veio à lembrança os domingos com eleições da minha infância. Quando lembro da vida estávamos em meio à ditadura militar e só havia dois partidos, a Arena e o MDB. A Arena era a Aliança Renovadora Nacional e o MDB era o Movimento Democrático Brasileiro. A Arena era apoiada pelos mesmos que apoiaram Jânio Quadros, Collor de Mello e agora apoiam Bolsonaro. No MDB estavam todos que por qualquer motivo faziam oposição à ditadura implantada pelos militares em 1964.
Meu pai era Getulista e apoiava João Goulart e Leonel Brizola. Getúlio havia morrido. João Goulart e Leonel Brizola estavam exilados. Tempos difíceis, escolas poucas, acesso à saúde pública quase não havia, mas a propaganda oficial era forte e falava que ninguém segurava o Brasil. O presidente não era eleito, o governador não era eleito e o prefeito de Bagé não era eleito. Restava votar em deputados e senadores, ou para vereadores. Em Hulha Negra o MDB derrotava a Arena. Afinal, se alguma coisa faltava era elite em Hulha Negra.
Os domingos com eleições sempre foram marcantes em minha vida. Na infância vendo meu pai distribuindo santinhos até a última hora, sentado de prontidão numa mesinha ao lado do Bar do Luís e perguntando a quem passava: Tudo certinho meu filhinho? Significava perguntar se o eleitor estava com a “cola” com o nome do candidato que ele promovia. Se estava desprevenido era só pegar com ele. Depois, candidato a prefeito eleito três vezes, eram domingos com apreensões, euforias e preocupações, esperando que o dia acabasse sem incidentes ou fatalidades. Eram tempos de eleições “guerreadas” em disputas ideológicas. Jamais houve problemas significativos.
Hoje vejo a política diferente da maioria das pessoas. Se o meu candidato ganhar ou perder não vou me incomodar muito nem me exaltar demais. Será como ganhar ou perder um Grenal onde os meus adversários são os meus amigos. Não me alegra ver as pessoas discutirem, brigarem, cortarem relações por causa de política, mas gosto de saber que sempre haverá alguém para perder para mim. Ou ganhar.
Neste domingo, a eleição é muito importante para um país que deveria ser a pátria mãe gentil de mais de duzentos milhões de brasileiros. Um domingo para decidir se haverá segundo turno ou se Lula ganhará no primeiro turno com a larga margem que as pesquisas apontam.
Nos últimos dias, parece que todos os ventos sopram a favor da candidatura de Lula e assim todos os votos dos últimos indecisos tendem ao provável vencedor. Sem terceira via com chances, a eleição para presidente provavelmente terminará domingo.

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