CONSUMO CONTROLADO

Especialistas falam sobre sistema de abastecimento de água com uso de hidrômetros

É unânime a opinião sobre melhora no sistema e justiça na cobrança. Na região, apenas Candiota e Hulha Negra não possuem hidrometria

Bagé tem mais de 99% da cidade com hidrômetros Foto: Divulgação TP

O verão com as altas temperaturas traz junto o aumento do consumo de água por parte da população, um bem natural, porém finito que precisa ser utilizado com cautela. Na maior parte dos municípios, o sistema de abastecimento de água é coordenado por empresas privadas ou públicas, que utilizam o sistema de hidrometria para as cobranças do consumo real de água.

Da região de cobertura impressa do Tribuna do Pampa, apenas Candiota e Hulha Negra não possuem o sistema, sendo que os dois enfrentam problemas constantes de abastecimento, seja pela produção limitada de água bruta em Hulha Negra, abastecida atualmente exclusivamente por poços artesianos, e que inclusive enfrenta novo racionamento de 4h diárias, ou Candiota, que possui água bruta mas seguidamente a população fica desabastecida por questões, segundo o setor de Saneamento, que envolvem falhas na energia elétrica, esta de responsabilidade da Equatorial Energia.

Especialistas na área relataram ao jornal que a implantação de hidrômetros nas residências é um importante passo para o consumo controlado e uma das soluções de problemas de falta de água. Confira:

 

SGS

 

O TP realizou contatos com empresas diversas responsáveis pelo serviço de saneamento nos municípios. Em São Gabriel, o coordenador de Operações da empresa São Gabriel Saneamentos, Matheus Machado Sassi, disse que a hidrometração das unidades consumidoras é sem sombra de dúvidas o passo inicial para uma melhoria no sistema de abastecimento de água. “Através da hidrometração será realizada a medida do volume real de água consumida pelo cliente. Além disso, o operador do sistema de abastecimento de água, quando de posse dos dados de volume consumido pelos clientes, consegue também determinar com precisão o índice de perdas de água no sistema de distribuição. Atualmente o combate as perdas é um dos grandes desafios do saneamento no Brasil, pois segundo dados do SNIS 2022, a média nacional de perdas é superior a 50%. O hidrômetro além de permitir uma cobrança mais justa e isonômica entre os usuários é também um grande aliado para combater o desperdício e o uso abusivo da água”.

O coordenador ainda expôs sobre a atuação em São Gabriel. “O município conta com 100% das ligações de água hidrometradas desde 2013, mantendo também o parque de hidrômetros atualizado, com a troca do equipamento uma vez a cada 7 anos, garantindo assim uma medição precisa e eficiente do volume de água consumido pelo cliente”.

 

DAEB

 

O jornal também conseguiu contato com Sandro Eduardo Gonçalves Mendes, chefe do Setor de Leitura e Arrecadação do Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé, o Daeb.

Segundo ele, em Bagé, é cobrada tarifa da água desde julho de 2017 (antes era taxa), estando atualmente a cidade com mais de 99,5 % de residências hidrometradas. Ele citou as vantagens com a instalação de hidrômetros. “O município consegue controlar realmente a água que é consumida pelos moradores , evitando desperdício, e tendo este controle real do que a população consome medido pelos HDs, se consegue cobrar um preço justo pelo produto. Acaba a discriminação de uma família com cinco pessoas pagar o mesmo valor que uma família com 10. Cabe lembrar que segundo a Agência Nacional das Águas, cada pessoa consome 3,3 mil litros de água por mês, ou seja, uma família com cinco pessoas consome 15 mil litros e com 10 pessoas 33 mil litros. Cada residência passa pagar realmente o que consome”, explicou, destacando que desde 2018 a Agência Reguladora de Saneamento, Agesan, determina que todas as contas de água devem ser cobradas como tarifas e não mais como taxas.

Questionado sobre a relação entre as melhorias no abastecimento e investimentos, Sandro diz que “a melhora no sistema de abastecimento de água na cidade só será possível com mais investimentos, e para isto é imprescindível a instalação em todas as residências de hidrômetros para poder ver onde está indo a água tratada, descobrir os desperdícios, consertar e poder cobrar o justo de cada contribuinte”.

 

OPINIÃO DA ACADEMIA

 

Também concedeu entrevista ao TP o diretor do campus Bagé da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Alessandro Bicca. Ao jornal, o gestor universitário disse falar como um historiador e pesquisador de políticas públicas. Alessandro Bicca afirmou que a instalação de hidrômetros é fundamental para um controle do consumo, mas que é necessário ofertar uma água de qualidade á comunidade. “Água limpa, potável e de qualidade é um direito constitucional, porém é finito. É importante ter hidrômetro nas residências para evitar gastos sem controle. Também é inquestionável que tenha o equipamento para diferenciar famílias com duas pessoas ou 12, por exemplo, quem consome mais, paga mais. Por outro lado a água ofertada deve ser de qualidade, que a pessoa não tenha medo de abrir a torneira e servir um copo para beber”.

O professor ainda relatou ter estudado as questões hídricas de Candiota e Hulha Negra e ter verificado que “o problema dessa região não é recurso hídrico e sim tratamento de água, ou seja, na estrutura e distribuição”, completou.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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