QUESTÃO ENERGÉTICA

Fala do governador sobre fechamento de usinas a carvão no RS tem repercussão

Eduardo Leite (PSDB) durante missão nos EUA externou mais uma vez sua posição contrária em relação ao uso o carvão

Deputado Afonso Hamm contestou o governador Foto: Arquivo TP

Em missão nos Estados Unidos, o governador Eduardo Leite (PSDB), defendeu a desativação das usinas a carvão mineral no Rio Grande do Sul, segundo publicou o Jornal do Comércio em sua capa na edição impressa da última terça-feira (8).

Não foi a primeira vez que o governador externou essa indicação. Ele tem tensionado a situação já desde a Conferência Mundial do Clima (COP26), realizada em Glasgow, no ano passado.

Segundo o periódico, Eduardo Leite se encontrou com o diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade da Columbia, Jeffrey Sachs, no sentido do Estado fechar uma parceria para um plano gaúcho de sustentabilidade. O governador, ainda conforme o jornal, defendeu uma desativação gradual, não enxergando possibilidade para novos empreendimentos.

Vale lembrar que no Estado atualmente apenas duas usinas a carvão estão em funcionamento, ambas em Candiota – Fase C e Pampa Sul, que juntas tem capacidade de 695 MW, sendo que a Fase C da Usina de Candiota bateu recorde de produção em 2021, no auge da crise hídrica, além de passada agora em janeiro e fevereiro por uma grande reforma. Projetos como da UTE Ouro Negro, Nova Seival e Pampa Sul 2 aguardam definições e melhores condições nos leilões de energia para saírem do papel.

Recentemente, por questões ambientais, usinas a carvão consideradas obsoletas, não sendo o caso da Fase C e Pampa Sul, foram fechadas, como as fases A e B de Candiota, Nutepa e São Jerônimo.

Ainda conforme a reportagem de capa do jornal, o governador disse que o plano estratégico vai cuidar deste processo de desativação, inclusive, segundo ele, propondo uma reconversão econômica na região para substituir a indústria do carvão, que tem na sua cadeia a produção de cimento também, com o uso das cinzas. A proposta do governador vai em sentido contrário a tudo que vem sendo debatido na região.

REPERCUSSÃO – A manifestação do governador gerou certa surpresa, indignação e preocupação em lideranças do setor e também na região.
O primeiro a se manifestar foi do deputado federal Afonso Hamm (Progressistas), que é vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Carvão Mineral no Congresso Nacional. Ele discorda frontalmente do posicionamento do governador. Como defensor do segmento, ele esclarece que em época de crise energética e de abastecimento nas hidrelétricas, o setor carbonífero é cada vez mais estratégico e fundamental para oportunizar aos brasileiros energia firme e segura.

Hamm destaca que as usinas que estão em operação – Usina Candiota (Fase C) da CGT Eletrosul e UTE Pampa Sul, já estão utilizando tecnologias mais modernas para baixa emissão de carbono. Da mesma forma, a região carbonífera também utiliza o carvão mineral para geração de energia. Além disso, tem olhar estratégico para o carvão mineral na geração dos fertilizantes nitrogenados (produto que a agricultura importa), na utilização dos gases, cerâmica e subprodutos e na indústria do cimento.

“O nosso Estado tem reservas minerais de carvão suficientes para tocar as usinas e com sustentabilidade, usando menor volume de carvão mineral, liberando menos gazes e as tecnologias estão avançando para fixação do CO2”, argumenta Hamm ao enfatizar que acredita no avanço tecnológico e na utilização dessa importante matriz energética que gera milhares de empregos.

Além disso, alerta o parlamentar, haver a compensação do excedente de emissões ocorridas através da compra de crédito de carbono originários de reflorestamentos existentes também na região carbonífera. Este mecanismo de compensação está em fase de regulação para o seu franco uso. E, que no ano de 2050 com “netzero” de emissões com crédito de carbono.

Como vice-presidente da Frente Parlamentar, entidade que também já presidiu, ressalta que novos projetos já estão planejados com a necessidade de produzir energia barata e em escala. O exemplo está no carvão mineral que produz com menos de R$ 100 o megawatt. “Dessa forma, a Frente Parlamentar segue vigilante no sentido de que as regiões produtoras do carvão mineral não vão abrir mão da sua utilização, levando em conta a inovação tecnológica e as pesquisas e também pela responsabilidade econômica, social e ambiental”, disse.

O presidente do Sindicato dos Mineiros de Candiota, Hermelindo Ferreira, também falou sobre a questão durante uma reunião da Frente Parlamentar da Mineração e do Polo Carboquímico na Região da Campanha esta semana em Porto Alegre em que o debate foi o carvão. “Nos preocupa as manifestações do governo estadual, que projeta o fechamento das usinas de carvão, tendo em vista a dependência que o Estado tem na geração de energia elétrica a partir do carvão mineral”, disse.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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