POLÍTICA

“FAPS, precatórios e Fundeb são os vilões da administração pinheirense”, afirma prefeito

Zé Antônio fez um balanço do seu mandato e comentou os desafios do próximo gestor

Zé Antônio concedeu entrevista ao TP nesta semana Foto: Gislene Farion TP

Entre Bagé, Candiota, Hulha Negra, Pedras Altas e Pinheiro Machado – os municípios de cobertura impressa do Tribuna do Pampa – o atual prefeito pinheirense é o único que não tenta reeleição no pleito marcado para ocorrer no dia 15 de novembro de 2020. Nesta semana, além dessa decisão, Zé Antônio (PDT) recebeu a reportagem em seu Gabinete para contar sobre o que ainda pretende fazer enquanto gestor do município, os principais desafios que o mais votado na próxima eleição vai enfrentar e como avalia seu mandato até o momento.

De imediato, questionado sobre a decisão de não concorrer à reeleição, o atual prefeito foi enfático. “Não concordo com a reeleição. Acredito que oito anos é tempo demais para um gestor ficar no cargo, do mesmo modo que entendo como curto o prazo de quatro anos para realizar um trabalho satisfatório. Talvez um período máximo de cinco anos seria o ideal para o prefeito tomar conhecimento da situação do município, fazer os ajustes necessários, propor melhorias e nos últimos dois anos de mandato começar a ver esses resultados na prática, ainda em atuação e apto a colher os frutos de suas decisões”, sugeriu.

PARTIDO – Há 30 anos filiado ao PDT, Zé Antônio disse que após a decisão sobre as eleições de 2020 a relação ficou um tanto estremecida – e não foi por ele optar em não concorrer. Conforme explicou, durante as reuniões, ele defendeu um projeto que acabou sendo reprovado por três votos de diferença entre os membros do seu partido. “Eu não citava nomes para essa chapa, porque isso seria decidido depois, mas se tratava de um projeto com ampla união de forças e com foco em resolver os principais problemas do município. Quando se tem mais apoio e onde todos trabalham por um mesmo propósito a chance de dar certo e conseguir fazer as mudanças – mesmo que impopulares – é bem maior”, disse. Com a decisão da maioria, a majoritária acabou sendo formada apenas por PSDB (Carlos Ernesto Betiollo) e PDT (Danúbio Peres), como prefeito e vice, respectivamente.

LEGISLATIVO – Durante o bate-papo, Zé Antônio também lembrou da importância do Poder Legislativo em todo esse momento difícil que se encontra o município – diante da maior crise financeira de sua história. “Pinheiro Machado precisa de pessoas dispostas a entender que os problemas existem, que readequar algumas situações é necessário e que ainda temos que pagar muitas contas que ficaram de outras administrações. Não é sendo oposição a tudo que o prefeito propõe que vamos chegar em algum lugar. O interesse principal não pode continuar sendo a garantia do voto a cada quatro anos e sim as melhorias para a população”, pontuou.

Durante seu mandato, em muitas situações, nem mesmo apoio da base governista na Câmara de Vereadores ele teve. Cabo Adão e Renato Rodrigues (ambos do PSDB) foram contrários a muitos dos principais Projetos de Lei (PL) que o Executivo encaminhou para votação. “Os Poderes precisam estar alinhados e trabalhar pelo mesmo ideal desde o início, senão não tem como as coisas saírem do ponto que estão”, disse.

RETA FINAL – Apesar de já estar no final do mandato, o atual prefeito ainda tem pela frente três meses para responder pelo Executivo pinheirense. Nesse tempo, Zé Antônio disse estar tentando deixar o mínimo de pendências para o próximo gestor. “Temos alguns trechos no interior que precisam de manutenção, como o percurso em direção ao São João Batista e Cerro dos Cachorros e uma operação tapa-buracos na região de Torrinhas; para a zona urbana vamos agilizar melhorias na iluminação pública assim que o caminhão estiver à disposição; e até o próximo dia 20 vamos licitar as emendas parlamentares que vieram para a quadra esportiva da Vila Umbus, a compra de uma retroescavadeira e para o calçamento de três quadras entre as ruas Tiradentes e Onécimo Fagundes”, citou.

SALÁRIOS – Sobre os salários, que estão sendo pagos praticamente nos últimos dias de cada mês, Zé Antônio disse que a intenção é pelo menos chegar no final de dezembro com a folha de pagamento quitada dentro do mês. “Ainda temos o salário de dezembro de 2019 para pagar a alguns funcionários que recebem mais e o 13º. Para pagar o benefício, estamos aguardando a negociação da folha com o Banco do Brasil e com o Banrisul, a devolução do duodécimo da Câmara de Vereadores e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) extra que chega no final do ano”, afirmou.

Em relação ao tema, Zé Antônio também citou o termo assinado pelos candidatos a prefeito junto ao Sindicato dos Municipários de Pinheiro Machado (SiMPiM). “Não adianta assinar um compromisso com o funcionalismo durante a campanha, não tem fórmula mágica para pagar salário e retomar o vale-alimentação. Os problemas do município não foram inventados por mim para deixar de pagar quem trabalha, essa também era a minha prioridade, mas as questões financeiras aqui dentro vão muito além”, destacou.

DESAFIOS – Para o próximo prefeito, o atual gestor disse que o desafio continuará sendo extremamente difícil. Segundo Zé Antônio, o município está diante de três grandes vilões: o Fundo de Aposentadoria e Pensão do Servidor (FAPS), o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e os precatórios. “São essas três situações que geram toda a dificuldade. Para o FAPS, de janeiro de 2017 a outubro de 2020, já foram R$ 18 milhões do recurso livre. Esse montante poderia ter sido usado para prestação de serviços nos bairros, por exemplo, mas também é nossa obrigação pagar os aposentados; o Fundeb, diante da quantidade de alunos e professores, o que vem não cobre os gastos, então o município também precisa completar do recurso livre para garantir toda a estrutura em educação e acredito que ainda há ajustes para serem feitos nessa área; e os precatórios, que atualmente estão em R$ 16 milhões de ações contra a Prefeitura, que também precisam ser pagos e nenhum prefeito vai poder fugir disso”, citou.

AVALIAÇÃO – Questionado sobre qual sentimento que fica depois de tudo isso, o atual prefeito não abre mão da franqueza – embora ela não seja tão satisfatória quanto ele gostaria. “Claro que me sinto frustrado de não ter conseguido tudo que me propus, principalmente em relação ao funcionalismo e não conseguir prestar um serviço melhor para a comunidade. Todos trabalham para receber em dia, pagam impostos para ter os serviços básicos, mas não deu. Eu cheguei a acreditar que era possível, mas veio o impeachment do Lula e isso repercute sim nos municípios porque é preciso estabelecer uma nova relação com o substituto, depois a estiagem – que derrubou drasticamente a arrecadação, e quando achamos que conseguiríamos melhorar, a pandemia do coronavírus”, lamentou.

Diante disso, do desgaste após tanto tempo de vida pública e com seus 67 anos de idade, Zé Antônio confessou à reportagem que está chegando a hora de sair de cena. “Preciso descansar, cuidar da saúde, aproveitar a família e também já penso em me afastar por completo fazendo a desfiliação com o meu partido em seguida. De tudo isso e durante todos esses anos tem uma coisa que considero fundamental: não fiz nenhum inimigo nessa caminhada, não há um lugar sequer que eu não seja bem-vindo ou que fechem a porta para me impedir de entrar. Acho que por isso valeu a pena, fiz o meu trabalho, tentei tudo que estava ao meu alcance e também conquistei muitos amigos, agora é concluir o mandato e vida que segue”.

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