O personagem principal desta história se chama Itamar Rezende Sais, mas todos os candiotenses o conhecem simplesmente por Ita. Ele nasceu e mora em Bagé, tem 67 anos de idade, é casado com dona Júlia, pai do Márcio e da Fernanda e avô do Otávio Ita, netinho que leva seu apelido no nome – imagina o orgulho desse vovô.
Desde 1996, Ita é concursado como motorista da Câmara de Vereadores da Capital Nacional do Carvão. Antes disso, durante 22 anos, ele trabalhou na iniciativa privada, mas sempre como motorista ou chofer como os antigos chamavam.
Para a reportagem, o profissional contou que só transportando os parlamentares de Candiota já percorreu aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros. Considerando que uma volta a Terra tem pouco mais de 40 mil quilômetros, o motorista já dirigiu, comparativamente, por 37 vezes e meia o entorno do nosso planeta. “A minha relação com todos é muito boa, tenho muitas histórias de viagens para contar. Algumas não posso contar”, disse, em tom de brincadeira.
Diante do tempo de serviço, ele já teve contato com todos os vereadores e vereadoras que passaram pelo município de Candiota, que tem 28 anos de emancipação. Ita conheceu e conhece os mais de 80 parlamentares que tiveram e têm assento no Legislativo, incluindo titulares e suplentes. “A todos tratei e trato com carinho e respeito, sempre prezando por suas vidas e fazendo amizades”, assinalou.
CELULAR – Como dito, Ita possui muita história para contar. Ao TP, ele contou uma que considera engraçada. Ele preferiu não citar os nomes dos envolvidos.
Itamar e um colega de Câmara estavam em Porto Alegre, no hotel, e decidiram pegar num mercado próximo algo para comer antes do jantar. Pensaram em passar no quarto do presidente da Câmara, que estava no mesmo hotel, para perguntar se não queria nada de fora. “Chegando ao quarto, a porta estava aberta e o presidente e nem o outro vereador que estava com ele, se encontravam ali. O que estava em cima da cama, era o único aparelho celular que a Câmara tinha na época e que era usado só pelo presidente (artigo raro para aquele tempo). Meu colega não teve dúvida, pegou o telefone. Quando voltamos do mercado, o presidente e o outro vereador estavam desolados dentro do quarto, numa tristeza de dar dó. Um deles me disse: ‘nos fizeram’. Como assim?, perguntei, no que ele respondeu que haviam ‘roubado’ o celular. Quando mostramos que o dito cujo estava com a gente o alívio e a gargalhada foram grandes”, relatou.
CARRO – Em relação ao carro que utiliza durante o trabalho, o motorista afirmou ser extremamente cuidadoso. É quase um caso de amor. Além disso, disse ser importante essa atenção por se tratar de um patrimônio público. “Cuido mais do veículo da Câmara do que do meu, pois é o meu instrumento de trabalho. No último veículo, uma Zafira, rodei 513 mil quilômetros”, disse.
Em mais uma história engraçada, Ita lembra que a garagem de sua casa em Bagé cabia apenas um carro. Muitas vezes, quando tinha que levar o veículo da Câmara para casa, o carro público ficava na garagem e o seu particular na rua. Devido ao fato, ele resolveu aumentar a estrutura. “O meu carro particular fica mais parado em casa, quase não uso. Quando mandei fazer uma garagem nova na frente, esqueci de tirar o carro e ele ficou preso por cinco meses até a nova garagem ficar pronta”, lembrou.
Calçado sujo, pode ser vereador, presidente do Legislativo ou o prefeito, não entra no carro conduzido por Ita e é claro qualquer outra sujeira também é proibida. “Uma vez, tinha deixado o carro que era um ‘brinco’ antes de sair de Porto Alegre. Na volta, dois vereadores resolveram parar e comprar comida. Pegaram uma ‘braçada’ de salgadinhos e dois refrigerantes de dois litros – um pra cada um. O carro chegou na ‘miséria’ em Candiota e claro que fiquei muito bravo”, lembra, dando uma gargalhada.
PROFISSÃO – Sobre a profissão que escolheu, Ita disse não conseguir se imaginar fazendo outra coisa. “Realmente me sinto realizado pela profissão que é dirigir. Acho que sou um cara abençoado, pois tenho a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) desde 1973 e nunca sofri e nem provoquei um acidente de trânsito. Além de a minha família estar me esperando em casa, a de todos que conduzo também. Isso é muito satisfatório, gosto muito da minha função mesmo”, frisou.