PROFISSIONALISMO

Motorista da Câmara de Candiota já rodou o equivalente a 37 voltas e meia na Terra

Itamar Sais, o Ita, está há 25 anos ‘dirigindo’ o Legislativo candiotense

Ita tem muitas histórias para contar ao longo de seus quase 50 anos de profissão Foto: J. André TP

O personagem principal des­ta história se chama Itamar Rezende Sais, mas todos os candiotenses o conhecem simples­mente por Ita. Ele nasceu e mora em Bagé, tem 67 anos de idade, é casado com dona Júlia, pai do Már­cio e da Fernanda e avô do Otávio Ita, netinho que leva seu apelido no nome – imagina o orgulho des­se vovô.

Desde 1996, Ita é concur­sado como motorista da Câmara de Vereadores da Capital Nacional do Carvão. Antes disso, durante 22 anos, ele trabalhou na iniciativa privada, mas sempre como mo­torista ou chofer como os antigos chamavam.

Para a reportagem, o profis­sional contou que só transportando os parlamentares de Candiota já percorreu aproximadamente 1,5 mi­lhão de quilômetros. Considerando que uma volta a Terra tem pouco mais de 40 mil quilômetros, o mo­torista já dirigiu, comparativamen­te, por 37 vezes e meia o entorno do nosso planeta. “A minha relação com todos é muito boa, tenho mui­tas histórias de viagens para contar. Algumas não posso contar”, disse, em tom de brincadeira.

Diante do tempo de serviço, ele já teve contato com todos os ve­readores e vereadoras que passaram pelo município de Candiota, que tem 28 anos de emancipação. Ita conheceu e conhece os mais de 80 parlamentares que tiveram e têm assento no Legislativo, incluindo titulares e suplentes. “A todos tratei e trato com carinho e respeito, sem­pre prezando por suas vidas e fazen­do amizades”, assinalou.

CELULAR – Como dito, Ita possui muita história para contar. Ao TP, ele contou uma que considera en­graçada. Ele preferiu não citar os nomes dos envolvidos.

Itamar e um colega de Câ­mara estavam em Porto Alegre, no hotel, e decidiram pegar num mer­cado próximo algo para comer an­tes do jantar. Pensaram em passar no quarto do presidente da Câmara, que estava no mesmo hotel, para perguntar se não queria nada de fora. “Chegando ao quarto, a porta estava aberta e o presidente e nem o outro vereador que estava com ele, se encontravam ali. O que estava em cima da cama, era o único apa­relho celular que a Câmara tinha na época e que era usado só pelo presi­dente (artigo raro para aquele tem­po). Meu colega não teve dúvida, pegou o telefone. Quando voltamos do mercado, o presidente e o outro vereador estavam desolados dentro do quarto, numa tristeza de dar dó. Um deles me disse: ‘nos fizeram’. Como assim?, perguntei, no que ele respondeu que haviam ‘roubado’ o celular. Quando mostramos que o dito cujo estava com a gente o alí­vio e a gargalhada foram grandes”, relatou.

CARRO – Em relação ao carro que utiliza durante o trabalho, o mo­torista afirmou ser extremamente cuidadoso. É quase um caso de amor. Além disso, disse ser im­portante essa atenção por se tratar de um patrimônio público. “Cuido mais do veículo da Câmara do que do meu, pois é o meu instrumen­to de trabalho. No último veículo, uma Zafira, rodei 513 mil quilôme­tros”, disse.

Em mais uma história en­graçada, Ita lembra que a garagem de sua casa em Bagé cabia apenas um carro. Muitas vezes, quando ti­nha que levar o veículo da Câmara para casa, o carro público ficava na garagem e o seu particular na rua. Devido ao fato, ele resolveu aumentar a estrutura. “O meu carro particular fica mais parado em casa, quase não uso. Quando mandei fazer uma garagem nova na frente, esqueci de tirar o carro e ele ficou preso por cinco meses até a nova garagem ficar pronta”, lembrou.

Calçado sujo, pode ser ve­reador, presidente do Legislativo ou o prefeito, não entra no carro conduzido por Ita e é claro qual­quer outra sujeira também é proi­bida. “Uma vez, tinha deixado o carro que era um ‘brinco’ antes de sair de Porto Alegre. Na volta, dois vereadores resolveram parar e comprar comida. Pegaram uma ‘braçada’ de salgadinhos e dois re­frigerantes de dois litros – um pra cada um. O carro chegou na ‘misé­ria’ em Candiota e claro que fiquei muito bravo”, lembra, dando uma gargalhada.

PROFISSÃO – Sobre a profissão que escolheu, Ita disse não conse­guir se imaginar fazendo outra coi­sa. “Realmente me sinto realizado pela profissão que é dirigir. Acho que sou um cara abençoado, pois tenho a Carteira Nacional de Habi­litação (CNH) desde 1973 e nunca sofri e nem provoquei um acidente de trânsito. Além de a minha famí­lia estar me esperando em casa, a de todos que conduzo também. Isso é muito satisfatório, gosto mui­to da minha função mesmo”, frisou.

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