Fazia tempo que um tema não unia tantos políticos e lideranças de diferentes pensamentos no Rio Grande do Sul. A divergência é salutar à democracia, mas a convergência é na mesma proporção.

“O assunto é tão importante que reuniu todas as matizes políticas do RS. Absolutamente estão uníssonas em não fazer exclusões sobre o pretexto de uma transição energética. Como falam o papa Francisco e o presidente Lula, a transição precisa ser justa, equilibrada e inclusiva”.
Alexandre Silveira – Ministro de Minas e Energia
Uma força-tarefa de prefeitos, parlamentares gaúchos e integrantes do governo do Estado esteve em Brasília nesta quarta-feira (12) em busca de uma solução para a Usina de Candiota, que está paralisada desde 1º de janeiro deste ano por conta do fim dos contratos de comercialização de energia. Neste sentido, há um impasse para a recontratação da unidade, que gera milhares de empregos diretos e indiretos e impulsiona uma cadeia produtiva e industrial única na região.
Uma audiência praticamente pública e histórica foi realizada no auditório do Ministério de Minas e Energia (MME), com a presença do ministro Alexandre Silveira, que ficou impressionado com o tamanho da mobilização em torno do tema. “O assunto é tão importante que reuniu todas as matizes políticas do RS. Absolutamente estão uníssonas em não fazer exclusões sobre o pretexto de uma transição energética. Como falam o papa Francisco e o presidente Lula, a transição precisa ser justa, equilibrada e inclusiva”, assinalou o ministro.

Audiência aconteceu no auditório do Ministério em Brasília Foto: Sabrina Monteiro/ Especial TP
MEDIDA PROVISÓRIA
Um a um dos que se pronunciaram na audiência, defenderam a edição de uma Medida Provisória (MP) por parte do governo federal, que contemple a recontratação da Usina de Candiota. Assim falou o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador (MDB); o coordenador da Bancada Gaúcha no Congresso Nacional, deputado federal Dionilso Marcon (PT); o ex-ministro e deputado federal Paulo Pimenta (PT); o senador gaúcho Luiz Carlos Heinze (PP), o senador catarinense Esperidião Amin (PP) e o governador Eduardo Leite (PSDB).
Em sua fala de mais de 30 minutos, o ministro Alexandre foi cauteloso e não cravou que a MP será editada, nem deu prazo para isso, o que causou uma ponta de frustração. Mas foi possível depreender do pronunciamento, que foi focado exaustivamente na transição energética, que Alexandre Silveira e o governo federal estão sensibilizados em encontrar uma solução para Usina de Candiota.”Não existe nenhuma incompatibilidade no Brasil para explorar petróleo e carvão. Temos no setor elétrico 89,3% de energia renovável, quando a média mundial é 25%. Somos exemplos para o planeta. O presidente Lula defende que a transição energética precisa ter governança global, porque o carbono não fica nas divisas dos países. Existe muita hipocrisia dos países industrializados. Não podemos nem passar a boiada e nem do extremismo ambiental. Num assunto como esse do RS, é óbvio que precisa ser pesada a questão social. Buscar o equilíbrio entre o social, o econômico e o ambiental é o desafio do governo”, ponderou o ministro, que ao fim salientou que pode contar com ele e o governo para encontrar uma solução.
Segundo interlocutores, o assunto da Usina de Candiota foi pauta de conversa do ministro e o presidente Lula nesta quinta (13), durante viagem ao Amapá. O assunto também foi debatido, antes da audiência, inclusive com a presença do governador, com o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

O recém eleito presidente da Câmara Federal, Hugo Motta (Rep-PB) recebeu uma comitiva, incluindo o governador Eduardo Leite, para tratar do assunto Foto: Sabrina Monteiro/ Especial TP
AVALIAÇÃO POSITIVA
O TP ouviu rapidamente (ou retirou das redes sociais) diversas lideranças que participaram da audiência. Todas elas avaliam como positiva a reunião.
O prefeito Folador não escondeu o seu desapontamento pelo não anúncio na audiência da edição da MP, porém exaltou a grande mobilização política que o assunto conseguiu reunir. “Não ficou amarrado como queríamos para se ter a MP, mas conseguimos demonstrar unidade ao governo federal e que estamos muito preocupados com a situação. Esse prejuízo da Usina parada não se recupera mais”, explica ele.
Durante o encontro com o ministro, o governador Eduardo Leite defendeu a importância de uma transição energética justa para a região de Candiota, lembrando que ela tem cerca de 80% de sua economia dependente do carvão mineral a afirmando que a Usina ainda possui condições técnicas de operar por pelo menos mais dez anos. “O que nós pedimos é justamente a oportunidade de fazer esta transição de forma justa, sem deixar as pessoas para trás. O governo do Estado contratou consultorias especializadas e estamos trabalhando com a Way Carbon e o Centro Brasil no Clima para dar suporte a um plano de ação”, explica.
Já o prefeito de Pinheiro Machado, Ronaldo Madruga (PP) comemorou a situação, destacando os benefícios que a retomada da Usina trará para a economia local e para toda a região. “A volta das operações representa mais empregos, investimentos e um impulso para o setor energético”, disse em suas redes sociais.
O prefeito bageense Luiz Fernando Mainardi (PT), escreveu que esteve na audiência juntamente com o líder do governo na Câmara de Bagé, vereador Lelinho Lopes e dos vereadores petistas de Candiota, Axel Costa, Luana Vais e Marcelo Belmudes13. “Seguimos mobilizados, sabendo dos compromissos ambientais do Brasil, mas entendo que a sustentabilidade precisa ser analisada também pelo viés econômico e social”, aponta Mainardi.
O deputado Afonso Hamm (PP) argumento que se está trabalhando incansavelmente para retomar a operação da Usina. “Não vamos desistir. Estamos na luta por uma transição energética justa, que considere as particularidades da nossa região e garanta alternativas para os trabalhadores”, pondera.
A vereadora Luana Vais (PT), que foi a única mulher a fazer parte da mesa da audiência no MME, avalia que se avançou muito no encontro.
“Conseguimos mostrar ao governo a união da região, o apoio do governador. O Ministro falou muito sobre a transição energética, falou que o carvão não é o vilão, que o Brasil está muito além na produção de energia limpa. Eu tenho a expectativa que nos próximos dias vai sair a MP”, projeta.
O deputado federal e coordenador da Bancada Gaúcha, Dionilso Marcon (PT), enfatizou que esta luta é olhando para os trabalhadores. “Vamos avançar e encontrar a melhor solução para todos”, sinaliza.
Por fim, o coordenador do Polo Regional de Transição Energética do Pampa Gaúcho, Frei Sérgio Görgen, avalia que foi dado um passo importante. “O ministro de Minas e Energia assumiu o compromisso de encontrar uma solução. Agora, o que precisamos, é pressa. Resolver logo”, disse.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO
Comentários do Facebook