ESTILO DE VIDA

Na estrada com a “Guria”: casal de aposentados transforma Kombi em casa para curtir nova fase

Por Gislene Farion

Na foto, Eduardo, a neta Helena e Niaia registrando o momento de felicidade em família Foto: Divulgação TP

Eles dividem a história, o dia a dia e agora a direção da Kombi ano 2009. Dois filhos adultos e uma única neta. São 36 anos de um casamento que, além do amor e da parceria, recentemente também passou a contar com uma dose extra de aventura.

Niaia e Eduardo Resing, 55 e 59 anos, são os proprietários da “Guria”, a primeira KombiHome de Pinheiro Machado. A palavra “home”, que em inglês significa casa, já revela o mistério. O casal adaptou o popular veículo e passou a contar com tudo que uma residência tradicional tem direito: cama, mesa, fogão, frigobar, pia, televisão, armários e até local para guardar uma máquina de costura.

Viajam por aí levando o nome da cidade aos mais diversos lugares, conhecem outras pessoas, exploram novas culturas e provam que, de fato, aposentadoria não precisa ser sinônimo de monotonia. Há pouco tempo, em um período de apenas 15 dias, foram mais de 2.400 quilômetros percorridos entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Diante de tudo isso, para eles, a certeza é que a hora de viver a vida é sempre agora.

INICIATIVA – Para a reportagem, o casal contou como surgiu a ideia. “Compramos uma TV nova para o nosso quarto e com ela veio a modernidade dos recursos das redes sociais. A partir daí começamos a assistir vídeos no YouTube e surgiram muitos de montagens de KombiHome. Até então, nem imaginávamos que isso pudesse existir. Fomos nos apaixonando por tudo e ficando empolgados demais com o assunto. Assistimos por meses esses vídeos, nos encantávamos com cada projeto realizado e ficamos espantados com o tanto de coisa que cabe numa Kombi se bem projetada”, explicaram.

A KOMBI – Segundo Niaia, aposentada pela Prefeitura de Pinheiro Machado desde 2018, a intenção era buscar um novo estilo de vida junto com o esposo, aposentado desde 2016 depois de atuar na área da logística e administração. Conforme relato, depois de tanta procura, entre muitas Kombis com problemas de lata, de motor e preço alto demais, na última hora de um certo dia encontraram a que queriam, em excelente estado, com preço justo e perfeita para o tanto de aventuras que estavam por vir.

O interior da Kombi foi adaptado para suprir as necessidades do casal Foto: Divulgação TP

ADAPTAÇÕES – Para a transformação em KombiHome, uma série de adaptações foram necessárias. Além da retirada dos bancos, tudo no interior do veículo precisou ser modificado e o trabalho foi realizado por um marceneiro. “Levou dois meses pra ficar pronta e ficou do jeito que pedimos, tudo que é necessário para nosso conforto tem nela. Depois que a gente entra pra essa vida aventureira observamos que sempre tem o que fazer para melhorar e agilizar as coisas, afinal, é um lugar bem pequeno, mas já estamos bem adaptados com tudo”, garantiram.

GURIA – Questionados sobre a escolha do nome para a Kombi, o casal contou que se chamaria Helena, em homenagem a única neta, mas depois resolveram mudar. “O Edo teve a ideia de colocar o nome de “Guria”, segundo ele, como somos gaúchos, seria uma boa identificação e também uma homenagem a todas as mulheres gaúchas. Gostei da ideia e mudamos o nome. Afinal, a Helena é homenageada por nós todos os dias com o nosso amor”, contou Niaia.

Para ajudar nas despesas, o Bazar da Guria reúne peças de artesanato para venda Foto: Divulgação TP

ARTESANATO – Além de conhecer muitos lugares, o novo estilo de vida propiciou conciliar o espírito empreendedor da aposentada. Há anos ela confecciona peças de artesanato e até então mostrava com orgulho toda a produção para vender através das suas redes sociais. “Na construção dos móveis um pedido meu foi ter um armário para carregar minha máquina de costura. Depois que me aposentei consegui intensificar meu tempo disponível para o artesanato. Além dele me dar prazer e bem-estar, unimos o útil ao agradável e ele também nos ajuda nos gastos com as viagens”, explicou. Segundo Niaia, em visita à cidade de Osório, o Bazar da Guria chegou a render metade dos custos da aventura que reuniu aproximadamente 400 Kombis dos mais diversos modelos e cada uma com suas características especiais, de acordo com a necessidade dos donos.

REDES SOCIAIS – A “Guria” possui identidade visual personalizada, uma série de produtos como roupas, canecas e adesivos com a marca, e ainda perfil no Facebook e no Instagram para registrar as experiências do casal e também para que amigos e parentes possam acompanhar os passeios.

MENOS É MAIS – Com essa experiência, que parece estar apenas começando, Niaia e Eduardo aprenderam a valorizar ainda mais o simples e o necessário. É aquela máxima do menos é mais, de precisar de pouco para ser feliz e ter mais consciência diante do meio que os cerca. Eles conseguem poupar água, pois há um limite dentro da Kombi e o banho precisa ser mais rápido; separam o lixo seco do orgânico; não compram roupas novas; fazem a comida na dose exata sem desperdício e também afirmaram que, diferente de muitos turistas, não compram lembrancinhas em cada lugar que passam. “Temos todo o conforto de uma casa normal, porém num espaço muito reduzido, portanto, damos valor a tudo que temos. Aprendemos que ter a oportunidade de acordar com o canto dos pássaros, de ver o pôr-do-sol, de abrir a porta e dar de cara com uma praia e de conhecer pessoas com os mesmos pensamentos que o nosso, não tem preço que pague. Esse é o verdadeiro valor da vida”, disseram.

Na foto, Niaia e Eduardo em visita a Gramado Foto: Divulgação TP

A VIDA É AGORA – Segundo o casal, com os filhos já adultos e independentes, a sensação é de dever cumprido e agora é a hora de aproveitar o período da aposentadoria. “Cada um fez a sua vida e com isso veio a liberdade de fazer coisas que eles não estão incluídos. E, depois do que passamos com a nossa filha, que ficou entre a vida e a morte há quase nove anos, aprendemos que devemos fazer e aproveitar nossa vida da maneira mais fiel às nossas vontades e aos nossos anseios”. Para Eduardo, a vida é um aprendizado diário, eles nasceram em uma geração de novas descobertas e curtiram muito a juventude, mas o atual momento proporciona uma liberdade diferente, acompanhada de uma enorme vontade de buscar a felicidade. “Para mim está sendo uma fase onde só agradeço diariamente. Como sempre digo em relação a nossa geração, estamos indo embora, mas ainda somos altamente capazes e preparados para enfrentar tudo, então, agora é planejar as aventuras e curtir os momentos para ser ainda mais feliz”, disse.
Diante dessa história e de uma realidade onde a expectativa de vida é cada vez maior, a reportagem se atreve a discordar em um ponto. O casal aventureiro, apesar de ter passado dos 50 anos, não está indo embora. Eles estão chegando. Em novos lugares e para novas experiências. O entusiasmo de sair da zona de conforto, buscar outros hábitos e se desafiar constantemente reforça a certeza de que ainda há muita vida para se viver, muitos lugares para conhecer e – sem dúvidas – sempre o que aprender.

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