Nos resta lutar pela sobrevida da Usina de Candiota

As notícias não são nada boas para quem depende do carvão mineral como nós. O planeta tem uma agenda de descarbonização. O problema é que estamos inseridos numa região altamente desendustrializada. Para se ter uma ideia do tamanho de nosso dilema, entre Pelotas e Uruguaiana, num raio de mais de 500km, apenas Candiota se constitui num polo industrial e todo ele ligado ao setor carbonífero, pois além das minas e usinas, também há duas fábricas de cimento que dependem da cinza para mistura na composição do produto final.
A fala repetida do presidente da Eletrobras de que a companhia vai fechar ou vender as usinas térmicas de seu portfólio, causa arrepio em milhares de trabalhadores, pequenos empresários, pais e mães de família de toda a região. As palavras soam violentas em nossos ouvidos. Soam insensíveis a milhares de pessoas e vidas que se dedicaram durante mais de meio século em extrair o carvão mineral para gerar divisas para o Brasil, quando a agenda ambiental não estava em primeiro plano.
Já repetimos isso aqui e vamos novamente fazê-lo: não somos negacionistas climáticos. Sabemos perfeitamente das consequências do uso indiscriminado de bem não renováveis durante mais de uma centena de anos e que senão tomarmos atitudes urgentes, a vida na Terra corre graves riscos. Contudo, nós aqui no Sul do mundo, não somos responsáveis por esse desastre. Nos impor esta pecha é uma injustiça muito grande.
Estamos dispostos à transição energética, mas queremos ela de forma justa, inclusiva, que garanta nossos empregos e nosso desenvolvimento. Simplesmente fechar a Usina de Candiota, sem qualquer chance de nos reinventarmos enquanto atividades produtivas, é mais uma vez negar futuro, pois já vivemos em uma região abandonada historicamente e que carece de quase tudo.
Pedimos com humildade, mas em tom desafiador, que os governos, especialmente o federal, olhe para nossa realidade e intervenha, nos ajudando a nos reconstruir em bases menos poluentes, como a indústria carboquímica e outras possibilidades como o turismo e a fruticultura, nos dando tempo e condições para isso. Não podemos ter cancelado mais uma vez o direito ao desenvolvimento.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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