TRIBUNA LIVRE

O consumidor paga a conta

* Luiz Fernando Zancan

Vivenciamos uma crise energética que tem relação com a inflação e afeta todos os bolsos. Vemos movimentos dos poderes Executivo e Legislativo visando reduzir o custo de energia elétrica e combustíveis. Esses agentes não podem revogar a lei da oferta e da procura, mas podem interferir com melhores políticas públicas para viabilizar a produção de energia com menor custo e reduzir os impostos para que isso aconteça. Na questão dos combustíveis, é fundamental estruturar uma produção doméstica, pois as commodities (petróleo e gás natural) dependem de humores geopolíticos e de políticas macroeconômicas.

Apesar de o Brasil ser invejável em termos de baixas emissões de gases de efeito estufa, com 83% de recursos renováveis na geração de energia elétrica, sofremos pressões para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Mas nessa discussão precisa ser considerado o custo da conta de luz. O Rio Grande do Sul, que tem 89% das reservas do carvão brasileiro, é importador de energia elétrica do Sudeste. E a região de Candiota tem duas das mais baratas usinas térmicas do Brasil. As usinas Pampa Sul (345MW) e Candiota 3 (350MW) têm contribuído para que a conta de luz do consumidor brasileiro seja menor. A pressão contra os combustíveis fósseis, por conta das mudanças climáticas, fez com as usinas térmicas da região de Candiota, com combustível de custo muito baixo e preço em real, não pudessem ser construídas.

A usina de Pampa Sul só aconteceu porque, em 2013, o carvão voltou aos leilões de energia após quatro anos sem poder participar desses certames. Esse atraso custou ao consumidor brasileiro cerca de R$ 250 milhões de reais por mês nos períodos de crise hídrica, que ocorreram desde 2012. Agora vemos mais um reflexo desta sanha contra os combustíveis fósseis. A Eletrobras, em processo de privatização, torna pública a possibilidade de desativar a usina de Candiota 3.

Usina jovem, de 15 anos, que ganhou leilão em 2005 e que termina seu contrato de energia em 2024, pode ser desativada causando o fechamento da Companhia Rio-Grandense de Mineração (CRM). Com isso, cerca de mil pessoas perderão seus empregos, afetando a economia de uma das regiões mais pobres do Rio Grande do Sul, com reflexos negativos no bolso da população. Será que o consumidor brasileiro vai gostar de pagar essa conta?

* Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM)

(artigo originalmente publicado no jornal Zero Hora)

Comentários do Facebook