ESPECIAL 30 ANOS CANDIOTA E HULHA NEGRA

O que vi, vivi e escrevi dos 30 anos de Candiota e Hulha Negra

* Por João André Lehr

João André Lehr Foto: Silvana Antunes TP

Sou parte integrante e pulsante dos 30 anos de Hulha Negra e Candiota. E tenho muito orgulho disso. Repagino e aumento este texto, que publiquei quando as duas cidades fizeram 20 anos. Agora, mais uma vez vou tentar retratar o que vi e vivi nos 30 anos dos dois municípios, passados 10 anos da publicação original.

Me recuso citar nomes de pessoas. Com toda certeza seria injusto. Tentarei falar das minhas impressões e aquilo que vi, vivi, fotografei e escrevi neste período.

Nasci em Francisco Beltrão, no Paraná, em 17 de abril de 1973. Sou filho de pai gaúcho (em memória) e mãe catarinense e costumo dizer que assim, tenho o Sul do Brasil em minhas veias.

Rebelde e inconformado com o sistema, como a maioria dos jovens de minha época, deixei minha mãe com o coração na mão no dia 3 de março de 1993, aos 20 anos, quando com meia de dúzia de roupas em uma mala, embarquei num ônibus rumo ao desconhecido. Vinha para Bagé, distante 800 km de minha terra natal. Passadas mais de 24h de estrada e três ônibus, cheguei na Rainha da Fronteira.

Nessa mala, muitas esperanças e vontades, mas jamais, confesso, com ideia de aqui ficar. E a vida é boa por isso. A sua imprevisão. Vim para estudar Direito na Universidade da Região da Campanha (Urcamp). No segundo dia em Bagé, já estava sentado na Redação do Jornal ClassiSul, escrevendo sobre uma região que eu estranhava até o jeito das pessoas falarem.

Em 1994, com uma mala menor ainda, aportei na Capital Nacional do Carvão para ser repórter no saudoso jornal A 1ª FOLHA. Morei em alojamento, dentro do próprio jornal e por aqui fui ficando. Desde então, testemunhei e escrevi os principais fatos de Candiota e Hulha Negra.

Estive na posse de quase todos os prefeitos, vereadores e vereadoras dos dois municípios. Só não presenciei as primeiras. Acompanhei angustiado as idas e vindas da construção de uma nova Usina em Candiota. Jubilei-me quando do lançamento da pedra fundamental da Fase C, mas ainda estava desconfiado de que aquilo seria mesmo realidade. Vibrei com o início, o meio e o fim das obras da Fase C. Me entristeci com o fechamento das Fases A e B. Fui na inauguração do Centro Cultural de Candiota, aonde foi a Usina Candiota 1.

Observei o progresso passando pela rodovia Miguel Arlindo Câmara (MAC), a qual também vi ser batizada com projeto de lei na Câmara. Registrei e ainda registro as dezenas de mortes e acidentes que esta via produz. Nela perdi um dos meus maiores e melhores amigos e sócio, Luciano Garcia. Agora, torço e já publiquei a possibilidade concreta dela ser totalmente recuperada ainda em 2022. Tive medo de uma chuva de granizo que arrasou a sede de Candiota.

Sem quase acreditar, estampei na capa em manchetes garrafais, que a UTE Pampa Sul, da então Tractebel, havia conseguido comercializar energia no leilão de energia A-5, em 2013. Fotografei, ainda incrédulo, num dia sombrio e chuvoso de inverno, as primeiras estacas e sondagens feitas para a construção da Pampa Sul. Acompanhei, aí já crente que tudo acontecia, as obras da nova usina, que passou a ser gerida pelo grupo Engie, bem como de uma nova mina de carvão, pertencente a Seival Sul Mineração (SSM), do grupo Copelmi. Anunciei a entrada em operação da nova usina e da mina em 2019.

Passei pela ponte do Exército que dava acesso a Hulha Negra. Passei por dentro da água para chegar em Hulha. Pisei no asfalto e numa ponte novinha para entrar em solo hulhanegrense. Amassei barro nas ruas da antiga Dario Lassance e anunciei com entusiasmo a pavimentação da avenida 24 de Março. Fui a Porto Alegre e Santa Maria com vereadores para pressionar a Assembleia Legislativa em reconhecer legalmente a localidade como a sede de Candiota. Agora, ‘brigo’ e bato para que o núcleo seja de fato e de direito a cidade de Candiota e assim seja chamada e reconhecida, abandonando de uma vez por todas o status de vila.

Escrevi orgulhoso as obras do Centro e Atendimento Integral a Saúde (CAIS) de Hulha Negra. Critiquei a falta de saneamento e vi as primeiras obras sendo feitas nos dois municípios. Usei as centrais telefônicas em Candiota e Hulha Negra, quando fazer uma ligação era uma aventura. Noticiei a chegada da telefonia automática, da internet banda larga e agora mais recentemente da fibra ótica.

Me diverti no Latão e outros tantos clubes e festas de Candiota e Hulha Negra. Vi o Latão ser demolido. Subi no palco do 2º ao 23º Canto Moleque da Canção Gaúcha para fotografar e homenagear em textos os futuros cantadores deste Rio Grande. Fui testemunha do nascimento da Festa do Colono. Fui na Oktoberfest. Estive no acampamento sem-terra do Quebracho. Me arrisquei durante a ocupação da Fazenda Capivara.

Fui contra a privatização da CEEE (em 1998 e agora do que restou dela em 2021). Sigo defendendo a CRM como empresa pública, assim como a CGT Eletrosul. Aliás, vi a Usina de Candiota passar da CEEE para o CGTEE e agora para CGT. Anunciei greves de mineiros e eletricitários. Divulguei a ampliação do frigorífico Pampeano, que agora pertence ao grupo Marfrig, estando na expectativa da pavimentação entre a BR-293 e a indústria.
Festejei a implantação da vitivicultura. Bebi o vinho da uva de Candiota. Parei de beber para melhor entender a realidade regional. Vi nascer a olivicultura com produção de azeitonas e azeites em Candiota e região. Acompanhei o nascimento e fortalecimento de agroindústrias em Hulha Negra.
Enfrentei o sol causticante de longas estiagens. Racionei e pedi economia de água. Vi água em abundância na Prainha de Candiota, onde me banhei. Ouvi a choradeira das multidões que perderam dinheiro com a agiotagem. Me encantei com a beleza da mulher de Hulha Negra, que ficou entre as 10 do RS no extinto concurso Garota Verão.

Assisti e noticiei Candiota ganhar dois grandes núcleos habitacionais com 200 casas populares cada um, novas estações de tratamento de água (ETAs) e ainda conviver com problemas no abastecimento. Vejo, há 30 anos, os problemas de falta de água na zona urbana e rural de Hulha Negra, que agora tem anúncio de ser amenizado com uma adutora e uma ETA.

Lutei para que os bebês candiotenses e hulhanegrenses nascessem em Candiota e Hulha Negra. Casei e levei minha esposa para Bagé por duas vezes para ganhar minhas filhas.

Participei centenas de vezes de sessões no plenário apertado da Câmara de Candiota e publiquei a inauguração do novo prédio. Participei dos processos eleitorais. Vi os chineses, os baianos, paulistas, cariocas e cearenses ajudarem a erguer o sonho de mais de 20 anos, a Fase C e depois a Pampa Sul. Fui processado por denúncia anônima e covarde. Fiquei quase um clandestino e renegado. Fui absolvido por unanimidade pela Justiça!
Fundei um novo veículo de comunicação regional, o Tribuna do Pampa em 2011. Sob meus olhos o avanço da internet, dos smartphones, das redes sociais e das redes de ódio.

Recebi e-mails e telefonemas e agora mensagens de WhatsApp e Telegran das pessoas reclamando dos problemas do cotidiano, do vizinho que incomoda, do barulho nos fins de semana. Dei força para empreendimentos nascerem. Ressenti-me de empresas fecharem.

Cubri e ainda cubro a maior crise sanitária de nossos tempos, a pandemia de Covid-19.

Ainda não vi Candiota e Hulha Negra ganharem mais paisagismo, planejamento e beleza urbana, mas ainda vou ver.

Entrei de cabeça no Movimento Pró-Carvão e luto com todas as minhas forças para que novas usinas como Ouro Negro e Nova Seival saiam do papel, assim como a carboquímica ganhe espaço e força. Vi a avenida Luiz Chirivino ser asfaltada e a Getúlio Vargas ganhar calçadão. Espero ver as usinas a carvão novamente nos leilões de energia.

Enfim, estou aqui, comemorando os 30 anos. Espero mais 20, 50, 100 anos.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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