CAOS NA ESTRADA

Pessoas relatam transtorno na rotina após o bloqueio da BR-293 em Candiota

Desde o último dia 24 de setembro, um bloqueio realizado no quilômetro 151 da BR-293, vem causando transtorno, mudança e incerteza na rotina de inúmeras pessoas, especialmente de trabalhadores, estudantes e empresários de Candiota. Para saber os impactos causados, a equipe do Tribuna do Pampa fez contato e questionou como foi a mudança no dia a dia de alguns deles, sendo moradores ou trabalhadores do município.

 

RELATOS

Kathiane Azevedo estuda no Ifsul, em Bagé

O primeiro relato é da jovem candiotense Kathiane Vitória de Azevedo, 18 anos, que está cursando técnico integrado em Agropecuária no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), na cidade de Bagé.

Ao ser questionada sobre como o bloqueio da BR interferiu em sua rotina diária, Kathiane ressaltou que a falta de acessibilidade no local se tornou um verdadeiro obstáculo, fazendo referência a uma barreira que desafia a determinação de muitos, assim como ela. “Há alguns dias enfrento o desafio de chegar à escola, uma tarefa que, em teoria, deveria ser rotineira. No entanto, a realidade encontrada é um verdadeiro teste de paciência e resistência”, desabafou a jovem.

Na oportunidade, Kathiane elogiou a dedicação dos motoristas, que estão dispostos a enfrentar os trajetos alternativos e que não deixam de ser exaustivos. “Se não fosse eles e o esforço do presidente da Associação dos Estudantes de Candiota (Aescan) em cuidar os trajetos liberados, eu não teria a chance de freqüentar as aulas”, disse ela, informando que sempre chega à instituição muito próxima ao horário de entrada, comparado a anteriormente, quando tudo estava normal. “A jornada já é desgastante por si só, mas se torna insuportável quando a falta de conforto é predominante. Os desconfortos do caminho são inúmeros, seja devido aos buracos na estrada ou à falta de estrutura adequada”. “As estradas deveriam ser o meio que nos leva a um futuro melhor, mas, no momento, elas são uma fonte constante de desafios e frustrações”, finalizou.

 

Fabrício Silva reside em Hulha Negra Foto: Divulgação TP

O funcionário da empresa Fagundes, Fabrício da Silva, é morador de Hulha Negra e também falou sobre a mudança nos horários após o bloqueio da BR. Ele relatou que antes chegava mais cedo em casa do serviço  e lamentou a situação em que as estradas dos caminhos alternativos se encontram, e que acabam danificando os meios de transporte de muitas pessoas. “Imagina em uma situação de emergência, ter que transportar uma pessoa em uma ambulância de Candiota até Bagé por essas estradas nas condições em que elas estão no momento, seria um caos para o paciente”, comentou, citando que a rua principal de Hulha Negra está sendo danificada, devido ao peso que está transitando dentro da cidade atualmente. “E esse desvio da BR poderia ser mais rápido, precisa de mais agilidade dos órgãos responsáveis para voltarmos a nossa rotina normal”.

 

Loiane Farias reside em Bagé Foto: Sabrina Monteiro TP

Em outro cenário, a equipe do TP conversou com a funcionária da CGT Eletrosul, Loiane Farias, que reside em Bagé e realiza o trajeto entre as duas cidades diariamente. Em sua fala, Loiane que já fica em torno de 12 horas fora de casa, saindo em torno das 6h30 de Bagé e retornando às 18h30, contou que em função do trajeto ser feito pelos desvios alternativos, em seu caso pelo Passo do Neto, já chegou a retornar para casa por volta das 22h.

“Era uma incógnita, porque quando não ficávamos trancados no Passo do Neto, eu estava chegando em casa por volta das 19h30, mas em caso de trancamento eu chegava às 22h em casa”, contou, afirmando que independente do tempo estar chuvoso ou ensolarado, o medo é persistente, pois muitas vezes as carretas ficam trancadas no caminho mesmo em tempo bom.

Além disso, ela citou que com a criação da passarela na última semana, a sua rotina está voltando ao normal, pois os trabalhadores estão passando pelo local das rachaduras a pé até o outro lado, quando outro transporte os espera. “Agora está bem melhor, porque a passarela está liberada e sempre tem um ônibus aguardando do outro lado”.

O funcionário da empresa Fagundes, Ozéias Deiroz Scoto, é residente em Bagé e disse que vai até o trabalho de moto e outras vezes de carro. Sua saída de costume é às 6h, mas com o problema na BR, precisa sair meia hora mais cedo. “E não tenho hora pra chegar. Teve uma semana que quase todos os dias cheguei quase as 20h30 da noite, tá um transtorno imenso”, contou ele, dizendo que antes o seu horário de chegada era por volta das 18h30.

 

FARMÁCIA

Ivana Silva disse passar por problemas para entrega das mercadorias Foto: Divulgação TP

Em uma das idas até o local do bloqueio, quando ainda não era certo o que seria feito a respeito, a equipe do jornal acompanhou uma movimentação diferente de um rapaz que havia deixado seu carro alguns metros antes das rachaduras, e estava transportando materiais, por meio de um carrinho de compras, até o outro lado do bloqueio. Ao ser abordado pela equipe que o questionou sobre a tarefa realizada ele, que preferiu não se identificar, informou que trabalha em uma transportadora, e que desde o trancamento da via, estava levando diariamente, entre alguns produtos, medicamentos para as farmácias de Candiota.

Na oportunidade, ele ainda informou que os donos das farmácias candiotenses haviam criado um rodízio para a busca dos produtos, sendo que um proprietário por vez fazia o trajeto até o local, e além da mercadoria do seu estabelecimento, também levavam para as demais farmácias locais.

Nesta semana, a equipe do TP entrou em contato com a proprietária da farmácia Formulativa, Ivana da Silva, que falou sobre o transtorno que está sendo para os empresários locais desde o bloqueio da BR. “Nas primeiras semanas, cada dia ia um proprietário das farmácias para buscar. Agora, a distribuidora contratou uma pessoa aqui de Candiota para fazer isso, mas continua a mesma rotina”, explicou Ivana, relatando que muita mercadoria ainda não chegou, pois alguns fornecedores não tiveram a mesma iniciativa. “Como é medicamento, a rota da entrega é acompanhada, e muitas vezes eles não são autorizados para fazer os desvios por estrada de chão, pois não podem sair da rota principal”, explicou.

 

ESTRADAS

Em relação às estradas, o coordenador de Trânsito de Candiota, Flávio Sanches, destacou que as duas cidades foram pegas de surpresa pelo bloqueio e que nenhum comunicado oficial foi emitido aos municípios. “As cidades foram surpreendidas pelo grande fluxo de veículos de cargas vindas da região Sul e da Fronteira Oeste, utilizando as estradas secundárias desses municípios que não possuem estruturas para suportar tamanho fluxo, como rodotrens e bitrens, que suportam até 70 toneladas”, reforçou Sanches.

Ao finalizar, o coordenador enfatizou que, até que o desvio seja finalizado na BR, as duas cidades terão máquinas e equipes trabalhando praticamente 24 horas por dia. “Ambos os municípios estão bancando a manutenção das estradas para dar o mínimo de condições de trafegabilidade e segurança aos usuários de toda a região, que estão passando por essas estradas”, completou Sanches, afirmando que os danos irão causar reflexo no futuro.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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