FUTURO DO CARVÃO

Principal fator para a existência de Candiota foi debatido em Brasília

Além da descoberta do carvão, trajeto ferroviário, Candiota I e a emancipação foram cruciais para a existência do município

Carvão mineral é a principal fonte de renda do município Foto: J. André TP

Em uma de suas visitas ao jornal Tribuna do Pampa, o historiador candiotense Tailor Lima, falou sobre os quatro elementos que foram essenciais para a existência da cidade que chamamos de Candiota, dando total destaque para a descoberta do carvão mineral. No último dia (26), uma comitiva da cidade esteve em Brasília, na Audiência Pública que foi realizada presencial e virtualmente, e que debateu a tramitação da lei de transição energética justa que determinará o futuro do município e da região, que tem o carvão como principal fonte de renda.

 

EXISTÊNCIA DE CANDIOTA

 

Em sua explicação, Tailor afirmou que o primeiro fato, e o mais importante de todos para a existência de Candiota, foi a descoberta do carvão mineral em 1827, pelo Marechal Emílio Louis Mallet. Segundo o historiador, o francês que participou da Guerra da Cisplatina, passou pelas terras de Candiota e avistou um paredão de carvão na margem do arroio.

“Ele então, junto da tropa, falou sobre a importância do carvão e o quanto era fantástico”, disse Tailor, reforçando que se Mallet não tivesse descoberto o carvão e passasse mais 20 anos, não existiria Candiota. “Se ele atrasasse, ou se outra pessoa levasse mais de 20 anos para dar importância que teve a descoberta dele, já não existiria Candiota”, disse, informando que mais tarde, em meados de 1857, Manoel Lucas de Oliveira começou a utilizar o carvão em fornalhas, para queimar cal e outros materiais deste tipo.

Por ser muito amigo de Dom Pedro I, Mallet levava informações sobre o carvão até o Rio de Janeiro, quando uma comitiva da cidade foi enviada para Candiota pelo Império Português, para analisar o material que existia na região. O grupo se hospedou na fazenda de Manoel Lucas de Oliveira, tiraram amostras, recolheram algumas pedras de carvão e mandaram para análise na Europa. Neste meio tempo, Tailor destacou que o carvão de Candiota começou a ser interesse de algumas pessoas, e o Império disponibilizou concessões para quem quisesse minerar o material.

 

LINHA FÉRREA

 

Segundo Tailor, após a descoberta do carvão mineral em Candiota, a construção da linha ferroviária com trajeto na região por meados de 1860, também foi um dos elementos importantes para a existência da cidade. “Contrataram um inglês chamado Duran para fazer um projeto do traçado da ferrovia, e ele então fez o trajeto e mandou para Dom Pedro avaliar”, citou, explicando que a cidade de Piratini criou uma comitiva de líderes políticos, os quais foram até o Rio de Janeiro para reivindicar que o trajeto fosse alterado para que a ferrovia passasse pela cidade.

“Então o Império chamou o Duran, para explicar qual era o desejo deles. Duran então disse que não iria fazer a mudança na rota, e informou que a ferrovia tinha aquele trajeto pelo fator preponderante, às jazidas de carvão de Candiota”. Ou seja, Mallet descobriu e influenciou o traçado da linha férrea. “Digamos, se não existisse o carvão e as jazidas, o trajeto seria por Piratini saindo direto para Bagé, e hoje aqui em Candiota seria somente campo. Então, a descoberta de Mallet foi importante, e a ferrovia também”, concluiu.

 

JAZIDAS DO RIO NEGRO

 

Com a criação da ferrovia, os primeiros núcleos urbanos foram criados, sendo em Seival e no Passo do Tigre, de acordo com os estudos de Tailor. A partir daí, a ferrovia começa a utilizar o carvão produzido em Hulha Negra nas jazidas do Rio Negro. Com isso, a Usina do Guilain, que foi a segunda termoelétrica do Rio Grande do Sul, que queimava carvão do Rio Negro.

“Daí um inglês se interessou em abrir uns túneis de carvão em Dario Lassance, então havia um núcleo de extração no Rio Negro e outro em Candiota”, informou Tailor.  Mais tarde, o governo brasileiro criou interesse em construir uma usina térmica a carvão, pois a rede ferroviária era deficitária e a eletrificação da região tornaria a rede mais econômica. “Então, o engenheiro José do Patrocínio Mota fez um estudo, para saber onde seriam as jazidas mais econômicas, se a da Hulha Negra ou de Candiota, em Dario Lassance”.

Com o estudo, José do Patrocínio comprovou que as jazidas de Dario Lassance eram mais econômicas do que as do Rio Negro, e então surgiu a usina Candiota I, onde o prédio atualmente abriga o Polo Educacional Usina do Saber. De acordo com Tailor, este foi o terceiro elemento que colaborou para a existência de Candiota, ou seja, o estudo de Jose do Patrocínio e a construção da Candiota I foram fundamentais para a existência da cidade. Pois se no estudo ficasse concluído que as jazidas do Rio Negro seriam mais enconômicas, não existiria Candiota e nem a usina.

 

EMANCIPAÇÃO

 

O último fator, mas não menos importante, foi a emancipação de Candiota. Em sua fala, Tailor relembrou que em 1992 quando a cidade foi emancipada, Candiota era a quarta maior renda per capita do Estado, estando em quarto lugar como o município mais rico do Rio Grande do Sul.

“A sua emancipação também aconteceu por causa do carvão, mas talvez se não tivesse se emancipado, não existiria hoje, porque depois mudou a legislação”, disse ele, usando o Cassino em Rio Grande, como exemplo. O historiador relembrou que na mesma época em que Candiota entrou com o processo de emancipação, o Cassino também tentou, porém sem êxito.

“Hoje para um município se emancipar precisa ter no mínimo 20 mil habitantes, pois mudou a legislação. Então, se Candiota não tivesse se emancipado a época, hoje não conseguiria com 10 mil habitantes e talvez precisasse esperar mais uns 50 anos”, ressaltou Tailor.

Então, se a descoberta de Mallet, o trajeto da rede ferroviária, Candiota I e a emancipação não fossem interligados, muito provavelmente a cidade de Candiota não existiria. Talvez até se um desses quatro elementos fosse eliminado, Candiota poderia ser apenas campo com fazendas.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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