
Grupo se reuniu para a colheita na propriedade rural Foto: J. André TP
Um setor bastante forte em Candiota é o da agricultura com uma grande diversidade de produções. Além de outras potencialidades já conhecidas na região, a da noz-pecã ganha destaque e tem sido uma grande aposta de um grupo de produtores.
Conhecido por seu alto teor nutritivo, a noz-pecã, possui como um dos principais benefícios, a redução do mau colesterol no organismo e estudos indicam que o consumo das nozes pode diminuir em até pela metade os riscos de ataques cardíacos e outros problemas cardiovasculares. A noz-pecã é um tipo de fruto com uma casca bastante dura e lisa. A parte comestível é a semente, que é mais comprida que a noz tradicional.

Noz-pecã pronta para a colheita Foto: J. André TP
Da plantação a primeira colheita são cerca de 10 anos, sendo considerado um investimento a longo prazo e muito rentável para a produção por seu poder de diversificar com outro produto ou cultura na mesma área, até mesmo animais, como criação de ovelhas.
Em Candiota, o ex-vereador e ex-secretário, o agricultor assentado Artemio Parcianello, que tem propriedade no assentamento Roça Nova ao lado da esposa Rosane, há cerca de 10 anos resolveu investir na cultura da noz-pecã e neste ano de 2025, estima a primeira colheita rentável. Em sua propriedade, junto a um grupo de agricultores, foi realizado um ato simbólico de abertura oficial da colheita do fruto no município na última quarta-feira (23), reunindo produtores, Emater/Ascar, a Rede de Sementes Agroecológicas BioNatur , a Cooperativa de Produção Agropecuária do Pampa Gaúcho (Coopampa), Prefeitura de Candiota e empresa Divinut.

Casal de agricultores, Rosane e Artemio, apostou na nova cultura na cidade Foto: J. André TP

Reunião aconteceu na propriedade de Artemio no assentamento Roça Nova Foto: Silvana Antunes TP
A NOVA CULTURA
Durante o encontro, Artemio Parcianello, que atualmente conta com cerca de 530 pés de nogueira plantados em 2,5 hectares, lembrou sobre o início do investimento após um estudo, feito por ele, acerca da produção na região. “A noz-pecã é um fruto que sempre gostei e como produtor, pensei que se estava comprando fora, estava errado, que eu mesmo poderia produzir. Depois de estudos comprei quatro pés de nogueira e fiz cursos para adquirir conhecimentos técnicos. Logo percebi que apesar de demorar alguns anos, é uma atividade rentável e adequada ao pequeno produtor, podendo ser um complemento ou até mesmo a atividade principal. Na época, meu propósito era implementar um pomar que fosse minha aposentadoria, visto demorar a proporcionar retorno financeiro”, relatou Artemio, que também contou que a partir daí começou a reunir produtores para tratar sobre o tema. “Fizemos uma exposição sobre a noz-pecã no Centro de Educação Popular e Pesquisa em Agroecologia (CEPPA), reunindo cerca de 30 pessoas para explicar suas potencialidades ambientais. Destes, oito implantaram pomares dentro de um cenário sem acompanhamento técnico”, lembrou.

Fruto que não cai do pé de forma espontânea é retirado com uso de taquara Foto: J. André TP
APOIO TÉCNICO E DIFICULDADES
As dificuldades climáticas afetaram a produção em 2024. De acordo com o agricultor, o Rio Grande do Sul perdeu no ano passado 80% da produção de noz por antracnose (doença fúngica que afeta diversas culturas, causando lesões nas folhas, caules, frutos e sementes) pelo excesso de umidade e na propriedade, mais de 20% dos frutos caíram ocasionando perdas. Artemio destacou o apoio fundamental da Emater/Ascar de Candiota, ao ser procurada, para o melhoramento das árvores e do fruto na propriedade, considerada, atualmente, como uma Unidade de Referência de Nozes no município, mesmo a cultura já estando presente na cidade há cerca de 40 anos quando iniciou na localidade de Seival pelo produtor Reinaldo Rotava, o Catarino. “Desde março de 2024, a Emater me acompanha. Foi feito estudo de solo, folha, fertilização e principalmente irrigação. Já implantei sistema de irrigação, mas de início precisava colocar água de balde nos pés devido à estiagem, e digo que sem irrigação não vale a pena investir”.
Presente na abertura simbólica da colheita, o extensionista técnico regional da Emater, Edison Dornelles, que estava acompanhado da equipe candiotense, afirmou que a instituição é parceira e está no processo como incentivadora da cultura no município. “Assim como aconteceu na propriedade do Artemio, onde fizemos estudos e disponibilizamos apoio e conhecimento técnico, podemos auxiliar novos produtores pela grande capacidade vista na noz-pecã. Estamos também disponíveis com materiais de estudos e para auxiliar na construção de políticas públicas no município”, afirmou.

Noz que cai ao chão será coletada com uso de um coletor, o globinho. Na imagem, Artemio comemora início da colheita Foto: J. André TP
O representante da empresa Divinut – com sede em Cachoeira do Sul, que é referência sul-americana em nozes e nogueiras-pecã, Mateus da Silva Moraes, expôs algumas informações importantes sobre o mercado da cultura. “Um bom potencial é em média a produção de duas toneladas. Estamos em uma entressafra e o valor de mercado está bom, estamos trabalhando com a tabela de R$ 20 a R$ 22 o quilo da noz com casca, é um bom valor pago. Se formos ver, uma tonelada por hectare, se fala em mais de R$ 22 mil”, relatou Mateus, lembrando que a empresa depende 100% dos produtores para sua planta de beneficiamento que é a maior processadora do fruto no Hemisfério Sul .

Equipamento será uma alternativa facilitadora na coleta Foto: J. André TP
EXPOSIÇÃO E PODER PÚBLICO
Artemio ressaltou a necessidade da comunidade local e regional, principalmente e inicialmente, conhecerem as potencialidades da noz-pecã, tanto na questão de solo, de diversidade de culturas, mas pelo valor nutritivo até mesmo se integrado à merenda escolar, sendo mais uma alternativa consistente no município. “O ideal seria que a Prefeitura de Candiota criasse um programa de produção, com ênfase para acesso e armazenamento de água, e acesso as propriedades. Financiamento nós temos pelo governo, o Pronaf Florestal, com larga margem de carência”, disse o agricultor ao representante do Executivo.

Após coletadas com o auxílio do globinho, fruto é depositado em um saco coletor Foto: J. André TP
Na oportunidade, o vice-prefeito e secretário de Obras Marcelo Gregório, disse que o Executivo se sente engajado neste processo. “Vejo que a Prefeitura tem obrigação de ser o indutor desta cultura. Podem contar com nosso apoio, tenho certeza que o prefeito Folador também pensa da mesma forma. O Executivo precisa ser provocado para entrarmos com nossa infraestrutura e conhecimento e nos integrarmos aos produtores”, disse Marcelo.
O prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador cumpria outra agenda e quando buscado pelo jornal, parabenizou a iniciativa, lembrando ser uma cultura que está dentro do conceito de transição energética e firmando compromisso de apoio ao grupo. “É uma cultura perene, que tem um mercado enorme e que se enquadra no conceito de transição energética. O município vai apoiar no intuito de garantir irrigação e o fomento a essa cultura, assim como fiz anteriormente com a vitivinicultura em outro mandato. Acredito nestas culturas e vamos incentivar a açudagem e outras questões, tais como a formação de uma associação. Tem tudo para dar certo e é fundamental para nosso município essa diversificação de culturas”, afirmou Folador.
Dentro da estratégia de promoção da cultura no município e região, há a expectativa da realização de uma festa em maio de 2026, com apoio para realização pela equipe da área social Emater.
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