As dificuldades vivenciadas por alunos que estudam no interior dos municípios são presenciadas e, muitas vezes, também vividas por professores, que precisam de um empenho ainda maior para que o ensino de qualidade possa chegar até os estudantes.
O Tribuna do Pampa também conversou com o professor de anos iniciais e área das Linguagens e Humanas da escola Oito de Agosto, Marcos Aurélio Paiva Reis. Ele lembrou dos direitos das crianças e elencou fatores negativos ocasionados pelas dificuldades enfrentadas pelos estudantes do campo para terem acesso a educação.
“Os longos trajetos entre a casa e a escola, a pouca oferta de serviço de internet ou a precariedade do sinal para o acompanhamento das aulas remotas. Nesse contexto, a oferta do serviço de transporte escolar gratuito é fundamental para garantir o acesso e a permanência dos estudantes na escola, como preconiza a Lei de Diretrizes e Bases”, afirmou.
Segundo relata Marcos Aurélio, o ponta pé inicial dos programas atuais começou a se concretizar com a previsibilidade de recursos estabelecidos no artigo 208 da Constituição de 1988 que diz: “o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde, descritos no inciso VII”.
O professor ainda citou o artigo 227 da Constituição que diz que “toda criança e adolescente tem direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária”, e o artigo 6º que diz que “a educação constitui direito social a ser garantido a todas as crianças e adolescentes, residentes em áreas urbanas ou rurais, de forma a permitir-lhes iguais condições e oportunidades no exercício de seu papel como cidadãos”.
Marcos afirma que os aspectos históricos, econômicos e geográficos fizeram do campo um local isolado, com baixa densidade demográfica, e, em muitos casos carente de serviços básicos. Ele também fez uma ligação da falta de transporte com a evasão escolar. “Antigamente as crianças iam para a escola a pé ou de bicicleta, junto com o vizinho ou o amigo. Buscar e levar o filho de carro para a escola era coisa ‘de rico’ ou de quem morava muito longe. Neste contexto o transporte rural surge como finalidade de permitir que o aluno se desloque e possa estudar. A falta do transporte escolar ocasiona várias defasagens aos estudantes, além de contribuir para a evasão escolar. Com a escola distante de casa, não tendo um adulto que leve o aluno até a escola, e, ainda, sem um meio de transporte que possibilite percorrer as longas distâncias com segurança e sem causar um cansaço que comprometa seu desempenho pedagógico, corre-se o risco de que esses estudantes se desestimulem a continuidade de seus estudos”, destacou.
Ele questiona qual a importância da educação no campo. “Educação do Campo é uma política pública que expressa e promove uma política nacional oriunda de uma dívida histórica social, a qual oferta uma educação que atinja a totalidade da população, e tende a estimular à construção de relações baseadas no respeito, buscando valorizar o grande montante de brasileiros. Expressa a ideologia e força dos movimentos sociais do campo, na busca por uma educação pública que valorize a identidade e a cultura dos povos do campo, numa perspectiva de formação humana e de desenvolvimento local sustentável. Descuidar da implementação, sem interrupções de políticas públicas já conquistadas e consolidadas, como é o caso do transporte escolar, por entraves burocráticos ou descaso, é permitir que os estudantes paguem o preço da defasem em sua formação cognitiva e social”, frisou.
PAPEL DA ESCOLA – O professor questiona o papel da escola perante a sociedade e as oportunidades aos alunos. Marcos ressalta que a escola tem um papel social essencial quando se trata de potencializar vínculos sociais, desenvolver habilidades físicas e cognitivas e de tornar o aluno um agente social, atuante em sua comunidade. “No entanto, existem percalços e negações diárias do direito à educação que aumentam a probabilidade dos jovens não darem continuidade aos estudos. Esse desafio agora nos pede força e coragem. A falta de acesso à internet é um dos nossos grandes desafios e agora a questão do transporte. Como está a sociedade atual em relação à educação? Apesar dos avanços, a educação ainda é muito deficiente afetando o indivíduo a conseguir melhores condições e oportunidades. Os desafios para a humanidade atual é de uma educação que forme os laços sociais entre os sujeitos, e que promova a coesão da sociedade. A educação escolar deve ter por finalidade a formação humana. A primeira condição para propiciar isso é que a educação se apresente enquanto relação humana dialógica, que possa garantir a todos os envolvidos as condições de desenvolvimento como protagonista do processo educativo”, manifestou o professor.