Projetos para o Brasil

*Por Guilherme Barcelos

No decorrer dos últimos séculos, diversos intelectuais atuaram na cena política brasileira, munidos de um projeto nacional, empenhados em apresentar soluções para superar os obstáculos à modernização do país. Esses projetos, mesmo ainda hoje, infelizmente aparecem como produto de um saber pouco acessível à maioria da população, mesmo que destinados, muitos deles, a salvar o país da barbárie. José Bonifácio de Andrada e Silva foi um desses intelectuais. E é sobre o seu “Projetos para o Brasil” que iremos discorrer hoje.

O pensamento do “Patriarca da Independência” sempre foi embalado por uma visão global do império, do qual o Brasil era apenas uma das partes, embora a mais importante, e pela perspectiva ilustrada de modernização e desenvolvimento através do saber. A visão nacionalista e política do problema só viria mais tarde, quando se viu envolvido nos acontecimentos das Independência, consumada em 1822.

Sua carreira política foi muito curta. Convidado por D. Pedro a integrar o seu ministério, isso no mesmo ano de 1822, Bonifácio ostentou o posto de ministro mais poderoso do incipiente império brasileiro. Com uma capacidade inacreditável, todavia, de colecionar inimigos. Republicanos, áulicos, absolutistas, nobres, por razões distintas, sentiam-se prejudicados pelo imenso poder desfrutado por ele. Vítima de intrigas palacianas, além da perfídia do imperador, caiu em 1823. Demitido, assumiu sua cadeira na Assembleia Constituinte, reunida em março de 1823. Com a dissolução da Assembleia, Bonifácio seria preso e deportado (exilado mesmo, valendo lembrar que ele era brasileiro nato).

Nos dois anos em que esteve à frente dos principais acontecimentos políticos, Bonifácio teve papel fundamental na articulação da Independência, da construção de um Estado nacional e da conquista de um império brasílico.

Como cientista, como pensador imbuído das ideias do Iluminismo, como membro da elite colonial, filho que era de uma das mais ricas famílias de Santos, e como estadista, Bonifácio pensou a nação de maneira global, formulou propostas e procurou, na medida do possível, implementá-las. Dos seus escritos emerge um projeto nacional coerente e articulado. Bonifácio foi um ousado pensador reformistas, que escreveu sobre os mais diversos temas do Brasil de seu tempo. Ele acalentou um projeto civilizador que tinha por fim último viabilizar a Nação.

Bonifácio pensou a unidade nacional. O fim da escravidão. A mestiçagem brasileira, vista por ele como valiosa identidade da Nação, ao contrário do que falavam os europeus. Sustentou a monarquia constitucional, centrada no Parlamento. Falou acerca de uma reforma agrária no país, como forma de restrição de latifúndios e incentivo da pequena e média propriedade – muito aos moldes norte-americanos aqui. Bradou contra o radicalismo religioso, visto como uma das causas do atraso nacional. Sustentou a necessária proteção das matas. De mais a mais, já naquela época, Bonifácio propugnava: “O Brasil agora é feito para a democracia…”. O Estado e o Parlamento deveriam criar a Nação e a cidadania, por meio de reformas profundas. Etc.

Projetos, projetos, projetos. Bonifácio foi um grande pensador, um pouco esquecido nos dias de hoje, o que é uma lástima. Falar em projeto de Nação é gênero de primeira necessidade. O Patriarca sabia disso. Em época de eleição, aliás, é importante que o povo saiba. O povo eleitor. E o povo que quer ser eleito. Projetos são importantes, indispensáveis…

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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