Quando fazer rir parecia genial

Pouco antes de começar a escrever esta coluna fiquei sabendo que Jô Soares morreu. Tinha 84 anos e viveu intensamente uma vida repleta de personagens e de eventos marcantes. Jô não foi apenas um, foi muitos que tornaram os nossos dias mais agradáveis durante décadas através dos personagens que criou (ou interpretou) e aos quais deu vida. De todos os quadros apresentados gravei uma de suas falas numa das letras das raras músicas que fiz.Um dos personagens do humorista em “Viva o Gordo”, tinha uma mulher maravilhosa e ninguém entendia o motivo. Quando era questionado como ele a conquistou, ele respondia “é o meu jeitinho”. Eu sempre atribuí esta fala ao Reizinho, mas conferindo hoje descobri que foi o Rochinha.
Assim, lembrando que Chico Anísio morreu em 2012, ficamos sem os dois maiores nomes do humor brasileiro do século XX, já que neste século, acrescentaram pouco comparando ao que fizeram no século passado. Ambos tiveram a oportunidade de fazer humor num tempo em que não se falava no politicamente correto. Muitas coisas que fizeram neste momento seriam censuradas pelas redes sociais. Aliás, seriam “cancelados”. Tive que me informar para lembrar desta palavra que parece que está na moda. E eu sou de um tempo que tudo que não queríamos era a censura. Se bem que há casos de exageros que precisam de controle, mas não deste descontrole que “cancela” também em razão de análise equivocada.
Estas partidas de pessoas que tem uma idade normal de encerrar a vida, considerando que tiveram durante a existência acesso a unidades de saúde qualificadas e acompanhamento preventivo, me fazem lembrar que eu já passei dos sessenta e isto significa que preciso me garantir para mais uns vinte anos, pelo menos. Por estas que já decidi que farei uma ampliação dos livros que escrevi contando a vida de meu pai, em 2040, quando ele faria 120 anos e receberei homenagens em Hulha Negra no aniversário dos cinquenta anos do município, em 2042. Para que tudo isto seja possível tenho de chegar aos 84, uma vez que nasci em 1958. Nada mais justo me parece. Assim, terei vivido 42 anos no século 20 e pelo menos 42 anos no século 21. Bem, não tenho exagerado no pedido. Quando cumprir a meta a gente renova a meta. Tem lógica.
Quando pensamos na vida, cada um faz as suas análises. Evidentemente quando chegamos ao que chamam de terceira idade a maior parte da jornada já foi realizada. Mário Quintana, o grande poeta da história deste estado, com quem muito timidamente falei certa vez, escreveu com muita propriedade sobre o nosso tempo de vida (e o fim) da seguinte forma: “A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas, que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta!

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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